Geral

O presidente nos cinemas

Previsto para 2010, Lula – O Filho do Brasil retrata a saga da família Silva

Não será a primeira vez que um político brasileiro ganhará às telas do cinema. Mas, com certeza, será a primeira vez que a história de um retirante nordestino, sindicalista, e eleito duas vezes presidente da República será retrata em filme. Lula – O Filho do Brasil é a cinebiografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirigido por Fábio Barreto, o longa-metragem tem previsão de estreia comercial para janeiro de 2010. Baseado no livro homônimo da jornalista e historiadora Denise Paraná, que coassina o roteiro com Barreto, Lula – O Filho do Brasil é um drama épico sobre a família Silva e apresenta a vida do presidente e de seus familiares, do nascimento de Lula, em 1945, até a morte da mãe, Eurídice Ferreira de Melo, em 1980. Segundo o diretor, o filme nada tem a ver com política. “Vamos mostrar uma história humana. Quem espera um filme político pode esquecer. Ele é completamente separado da efervescência eleitoral. É um Lula apartidário, quase apolítico. Está num movimento e surge como liderança”, frisou o diretor em entrevista no site oficial da produção. Para viver o papel de Lula foi escolhido um ator pouco conhecido do público: o ator de teatro Rui Ricardo Diaz, que engordou dez quilos para se aproximar do físico do presidente e realizou aulas de fonoaudiologia para reproduzir a voz rouca do presidente. “O tom precisa ser sugerido, porque isso é uma característica forte dele, mas não pode ser estereotipado”, disse o ator. Além dessa preparação, o ator – que disputou a vaga com outros 300 candidatos – assistiu aos discursos gravados de Lula e documentários sobre o ex-sindicalista. Fez visitas a familiares e lugares marcantes da trajetória do presidente como Garanhuns, em Pernambuco, onde nasceu, e o estádio de Vila Euclides em São Bernardo do Campo, onde em março de 1979, Lula reuniu 80 mil pessoas numa campanha salarial dos metalúrgicos. Diaz será um dos cinco Lulas que aparecerão no filme. Além dele, interpretarão o mesmo papel um bebê de três meses, um menino de dois anos, outro de sete e um adolescente de 13. O filme também reúne ainda Glória Pires, que interpreta a mãe, dona Lindu; Cléo Pires, que vive a primeira mulher de Lula, Maria de Lourdes; Juliana Baroni, interpretando a atual primeira-dama, Marisa Letícia; e Milhem Cortaz, que vive o pai Aristides. Orçado em R$ 18 milhões, o filme teve suas gravações encerradas na metade deste ano e atualmente está participando de festivais internacionais, para que em janeiro do próximo ano entre em circuito comercial. A previsão é de que o filme seja lançado em mais de 400 salas com o objetivo de levar a produção para o público mais popular. Eles também já foram retratados O presidente Lula não será o primeiro político a parar no cinema. A lista abaixo mostra alguns políticos que também já foram retratados na tela grande. Getúlio Vargas – O gaúcho já apareceu nos filmes Olga (2004) e Chatô – O Rei do Brasil. No primeiro é interpretado por Osmar Santos e é tido como o vilão da história. Em Chatô, que há anos está engavetado, o político é vivido por Paulo Betti. Juscelino Kubitschek – JK ganhou as feições de José de Abreu no filme Bela Noite para Voar (2009). O drama mostra um momento conturbado na vida política de Kubitschek, enquanto ele inicia um romance com uma jovem. Dom Pedro I – Aparece nos filmes Carlota Joaquina – A Princesa do Brasil (1995) e Independência ou Morte (1972). Luiz Carlos Prestes – Caco Ciocler interpreta o líder comunista no longa Olga (2004), sobre a vida de sua esposa Olga Benário. Tenório Cavalcanti – O deputado federal que mandava geral na Baixada Fluminense e resolvia questões políticas com sua fiel metralhadora Lurdinha ganhou os cinemas com o filme O Homem da Capa Preta (1986). O papel foi interpretado por José Wilker. Dom Pedro II – Apareceu nos cinemas em Mauá – O Imperador e o Rei (1999), sobre a vida do barão de Mauá. “Contar essa história é a possibilidade de fazer um filme sobre o povo brasileiro” Em entrevista, enviada pela assessoria de divulgação do filme Lula – O Filho do Brasil, o diretor Fábio Barreto fala sobre o longa-metragem, sua interação com a cinebiografia e o desafio de narrar a história de um presidente. Lula - O Filho do Brasil, partiu de uma provocação de Luiz Carlos Barreto, que leu o livro de Denise Paraná e se apaixonou. Qual foi sua primeira reação? Fábio Barreto:Não só aceitei no ato como entrei no processo de peito aberto. Sabia que seria um filme de alto risco, que exigiu muita coragem de todos os envolvidos, mas conseguimos manter a motivação inicial: contar a história não conhecida do Presidente Lula com base no livro da Denise Paraná. Para mim, contar essa história era também a possibilidade de fazer um filme sobre o povo brasileiro. Conheço bem o Brasil, aliás, acho que conheço o Brasil inteiro. Também já viajei muito pelo exterior, e sei que o brasileiro tem peculiaridades únicas: ele é teimoso, corajoso, tenaz, solidário, lutador, generoso. O filme foi também a oportunidade de falar de um povo injustamente criticado por muita gente. E havia uma razão pessoal: meu pai, como Lula, é um nordestino que veio para o Sudeste e venceu. De certa forma, este filme é também a história da vida dele. Como você define Lula, o Filho do Brasil? Barreto: Como um filme sobre um homem comum, um brasileiro que sai do nada e chega ao cargo mais importante do país. É também um filme sobre a relação entre este homem e sua mãe, uma mulher simples, analfabeta, que lutou para criar oito filhos e preservar a família unida – e conseguiu. Esta família, por sua vez, faz parte do maior movimento migratório interno do mundo, que levou 35 milhões de nordestinos a deixarem suas terras em busca de uma vida melhor. O percurso de Lula começa no sertão, vai para Santos nos anos 50 e chega à periferia de São Paulo nos anos 60, quando se consolida a criação do maior parque industrial da América Latina. Em meados dos anos 70, Lula passa a atuar no sindicato do ABC. O resto é História. O filme termina em 1980, com a morte de Dona Lindu, antes da criação do PT. Por que não falar da atuação política de Lula? Barreto: Porque todo mundo conhece a vida política de Lula, mas poucos conhecem sua vida pessoal – e era esse o nosso foco e o nosso interesse. A trajetória do Lula é marcada por muitas datas emblemáticas – nasceu no final da Segunda Guerra, a família abandona o pai em 1954, data da morte de Getúlio, ele perde o dedo em 64, ano do golpe militar, e o pai morre quando se decreta anistia. Em 80 ele inicia a carreira política. Continuar a história seria jogar o filme na política, com a fundação do PT, uma história que todo mundo sabe. Lula é um personagem fantástico, sobretudo pela extrema capacidade de superação. Sua vida foi marcada por dois fatos cruciais: a ausência e depois o confronto com um pai violento, que achava que “pobre não devia estudar, mas trabalhar”, e depois, a morte da primeira esposa no parto, juntamente com o filho. Esta perda provocou uma catarse na vida de Lula, que aprofundou seu engajamento no movimento sindical, desandou a falar e não parou mais, descobriu uma liderança que não conhecia, e que mudou a sua vida e a vida do país. O principal motor de sua trajetória foi a atuação sindical, onde aquele homem barbudo comandou, com palavras, um exército de operários. Qual o maior desafio de fazer um filme que narra a história do Presidente da República? Barreto: A margem de erro era grande, pois o filme fala de fatos e pessoas reais que existem e que têm notoriedade. É difícil e foi preciso muita coragem para fazer esse filme. Desde o início, eu sabia que minha maior limitação seria o medo, a insegurança. Fui destemido, mas contei com uma ótima equipe, em todas as etapas, com um elenco excelente e uma produção impecável. Durante a preparação, li um discurso do Lula em que ele dizia: “acredite em vocês que vocês vão chegar aonde quiserem”, palavras que adotei como lema durante as filmagens. Se um diretor consegue vencer a insegurança, enfrenta qualquer coisa. Ninguém filma em São Paulo impunemente, ainda mais no ABC, certamente o lugar em que mais chove e cai raio do mundo (risos). A única pessoa que me faria filmar em São Paulo seria Lula. O filme pode contribuir para a campanha eleitoral de 2010? Barreto: Lula não precisa do filme. Nós é que estamos tirando uma casquinha da popularidade do Presidente. Com seu índice de popularidade, ele não precisa do filme, mas o cinema brasileiro precisa de um filme com um personagem como Lula. Ele vai contribuir para entender o Lula? Barreto: O filme não foi feito para entender o Lula – mas para as pessoas verem que mesmo nas piores condições é possível chegar aonde ele chegou. Ele é um migrante nordestino, um ex-operário, e o principal bem que fez ao país foi o aumento da autoestima, como se dissesse o tempo todo “Se eu estou aqui, você também pode estar. Eu sou igual a você, nós somos iguais. Eu estou aqui porque eu teimei muito. Não fiquem aí reclamando da vida”.
Lula durante ato sindical. - Otávio de Souza / Divulgação
Compartilhe esta notícia:

Outras Notícias:

0 Comentários

Deixe o Seu Comentário