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O nascimento de um sonho

Depois de 11 anos, duas cirurgias e mais de 400 injeções, Daniele Andreazza comemorará o primeiro Dia das Mães ao lado da filha, Ana Luiza

Quem vê o sorriso estampado no rosto e a alegria transmitida no olhar de Daniele Andreazza e da filha, Ana Luiza Andreazza Bernardi, às vésperas de comemorarem o primeiro dia das mães juntas, não imagina todos os desafios que estão por trás dessa história de superação, que teve início há 11 anos.
O sonho da maternidade sempre fez parte da vida da costureira Daniele, de 39 anos, e do empresário Ismael Bernardi, de 38 anos. Em 2009 o casal decidiu que havia chegado a hora de ter um bebê, foi quando ela realizou todas as consultas e exames necessários, na expectativa de gerar uma vida. No entanto, mesmo com todos os resultados satisfatórios, não conseguia engravidar. “Em 2012, quando já tinham se passado três anos, consultamos novamente e o doutor disse que agora iríamos investigar mais, porque achava que eu poderia ter endometriose. Só que para descobrir era necessário realizar uma cirurgia, a videolaparoscopia, então, partimos para ela, e realmente confirmou-se o diagnóstico”, lembra a mãe. 
Após a conclusão do que se tratava e a realização do procedimento, a florense explica que ela e Ismael tinham um ano para tentar engravidar, período em que realizaram o controle de ovulação e todo o acompanhamento preciso. Naquele momento ela confessa que acreditava que tudo daria certo, mas nada aconteceu, até que partiram para a fertilização, realizada em Caxias do Sul – mesmo o casal não querendo, inicialmente – porque os exames, além da endometriose, estavam todos com resultados favoráveis. 
“Em 2013 a gente transferiu dois embriões e não deu certo. Foi bem difícil porque eu era mais nova, não tinha essa questão de baixa reserva ovariana, era só uma endometriose que já estava tratada e tinha tudo para dar certo, mas não deu. Aí ficam os questionamentos: por que eu não consigo? O que tem de errado? Eu tinha esperança, certeza quase, o doutor tinha dado 99% de chances que ia dar certo, então tu receber um negativo é bem difícil”, desabafa a mãe, ao mesmo tempo em que lembra que a realização de muitos exames e cirurgias fazia com que ela enxergasse a situação como uma sentença, todos os meses na expectativa e esperança de conseguir gestar uma vida. 
“Nisso nós paramos um pouco, ficamos um tempo sem tentar, porque foi um processo bem difícil”, emociona-se a costureira. Mais tarde, em 2018, ela teve que realizar outra cirurgia devido ao fato de a endometriose ter voltado de forma mais profunda – mais uma videolaparoscopia – porque, de acordo com ela, a endometriose sempre volta e o tratamento mais efetivo é a gravidez. 
No ano seguinte, em 2019, o casal decidiu realizar uma consulta na clínica Mater Prime, em São Paulo, para buscar outras opiniões e detalhar o estudo sobre o caso, com o intuito de ter outras alternativas para a gestação. “Lá a Dra. Juliana quis se aprofundar no diagnóstico, ela disse que não acreditava que tivesse somente uma endometriose, por mais que a gente tivesse feito as cirurgias – duas ao todo, uma em 2018 e outra em 2012 – para a profissional eu já deveria ter engravidado, então tinha mais alguma coisa, aí nós fomos investigar”, explica Daniele, acrescentando que os dois tiveram que repetir todos os exames que já tinham sido feitos.
“Além da endometriose, deu endometrite, eu já estava com uma baixa reserva ovariana devido às duas cirurgias que eu tinha feito, trombofilia e a janela de implantação estava deslocada”, elenca, ao mesmo tempo em que destaca que logo partiram para outra fertilização, na qual conseguiram somente um óvulo e um embrião – que foi o da Ana Luiza. “Deixamos ele congelado e partimos para uma segunda fertilização, para ter mais embriões e ter uma segurança para o caso de não dar certo com ela. Nisso conseguimos mais dois embriões que também estão congelados”, evidencia a florense que revela que, ali, teve a certeza de que estava no lugar certo: “Confesso que fácil não é, se eu disser que foi fácil eu estou mentindo. Chegamos em um tempo em que pensamos que íamos esquecer, que não íamos mais tentar, porque é bem desgastante e tu pensa: ah, mais um mês passou e nada. Aí passa um ano, dois, três, e nada acontece. Tu fica na expectativa e o teu sonho ainda continua, querendo ou não. É uma experiência que não sei nem descrever. É muito gratificante depois, o resultado, mas, para chegar nele é difícil”, relata.
E para tornar esse sonho realidade, a costureira enfrentou uma rotina de mais de um ano de exames e idas constantes a São Paulo, tanto que teve que deixar de trabalhar para se dedicar integralmente a esse desafio, que só aumentou após a transferência do embrião. Por ser uma gravidez de risco, ela explica que, mensalmente, o casal fazia o controle das ecografias para verificar, sobretudo, se as injeções aplicadas estavam tendo o efeito desejado, ou, se seria necessário aumentar a dose diária – que era de uma ao dia. “Tínhamos todo esse cuidado e eu também tinha que ficar mais tranquila, não precisava ficar de repouso, mas tinha que me cuidar, porque era um risco de perder ela e depois de tudo que fizemos, a gente não ia arriscar”, esclarece.
Ela também explica que as aplicações eram realizadas durante a gestação por conta da trombofilia e que antes mesmo da transferência do embrião começou o processo de preparação. As injeções – que Daniele aplicava nela mesma –  iniciaram cerca de três dias antes e seguiram até 40 dias após o parto, sendo que, quando estava grávida era para não perder a bebê e, depois, para a sua saúde. “Tem que descartar, mas elas estão ali, porque eu quero lembrar de todo o dia que eu fazia. Isso faz parte da história e que bom que a gente passou por isso e a Ana Luiza está aqui, é um aprendizado”, revela sobre as embalagens das injeções que guarda consigo. A florense também complementa informando que este processo deverá se repetir caso o casal queira dar um irmãozinho para a filha – que, se tudo der certo, não levará muito tempo, uma vez que eles têm embriões congelados.  
Após 11 anos de tentativas e mais de 400 injeções gestacionais, no dia 1º de junho de 2021, com uma cesariana, Daniele deu à luz ao seu milagre, chamado de Ana Luiza. “Sempre foi um sonho, se não tivesse dado certo em São Paulo a gente ia tentar de novo até conseguir. É difícil, mas tiramos forças eu não sei de onde, eu acho que é tanta vontade que quando temos um sonho não medimos esforços, a gente não olha financeiramente o que foi gasto – porque não foi fácil, envolvia viagens, tinha que ficar lá, muitas vezes eu fui sozinha porque o Ismael tinha que trabalhar, então foi um aprendizado, além de tudo”, orgulha-se. 
Em meio a tantas lutas e dificuldades diárias, a costureira revela que um dos maiores desafios era se manter psicologicamente e emocionalmente bem. Para que isso fosse possível, ela destaca o apoio dos familiares e amigos, uma vez que eles foram fundamentais, motivando para não desistirem, e sempre dando forças para seguirem acreditando que iria dar certo.
E hoje, a jovem que não conseguia tocar no assunto ‘gestação’, sem derramar lágrimas, encoraja outras mulheres a irem em busca do seu sonho, como ela fez. “Não desistam, porque se eu tivesse desistido ela não estaria aqui. E que bom que eu não desisti porque foi muito melhor do que eu sonhei. Eu imaginava que fosse uma coisa maravilhosa, mas, a Ana Luiza, na nossa vida, foi um milagre”, emociona-se e constata que o presente é ainda maior quando leva em consideração que chegou a pensar em desistir e cogitar outras opções, como a barriga solidária.
“Se a minha história puder motivar alguma mulher que esteja passando por isso, eu digo que não desista, que procure, porque sempre tem o que fazer e depois tu esquece tudo o que passou, a Ana Luiza é a prova disso, é a prova de como é gratificante ser mãe e de que eu faria tudo de novo”, emociona-se. 

Daniele e Ana Luiza são exemplos de perseverança e superação.  - Karine Bergozza  - Karine Bergozza
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