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O exemplo dos ‘pequenos’ para enfrentar a crise

Nova Pádua, ao contrário de muitos municípios do mesmo porte que têm dificuldades financeiras, está com o ‘caixa’ estabilizado e desenvolve iniciativas em prol do setor primário

Os agricultores de Nova Pádua Demétrio e Anderson Pan estão investindo em tecnologia e estrutura para o plantio de novas culturas. Com a crise econômica que assola o país, pai e filho decidiram reduzir os custos com mão de obra e implantar estufas para cultivar tomates e pimentões. Além do plantio protegido, o menor uso de agrotóxicos permite que os agricultores cultivem as verduras o ano todo. A novidade também facilita a colheita, que é feita pelos familiares. “Com isso intercalamos as culturas e reduzimos os custos. Por exemplo, onde instalamos as estufas, plantávamos alho e cebola e isso demandava um custo maior na hora da colheita”, pontua Demétrio.
O agricultor está no caminho certo. Com o índice de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em redução nos municípios gaúchos – 262 cidades, conforme a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), tiveram queda no percentual de retorno do tributo estadual, que é dividido com o governo gaúcho, que fica com 75% do total e, as prefeituras, com 25% –, municípios pequenos e essencialmente agrícolas, como Nova Pádua, precisam se diversificar para enfrentar o momento de crise.

De acordo com o prefeito paduense, Itamar Bernardi (PMDB), a cidade teve redução de aproximadamente R$ 200 mil no ICMS no primeiro semestre de 2015. “É uma redução mínima em termos de receita e que não vai acarretar problemas para realização de obras ou serviços porque estamos mantendo um caixa desde 2014, já que previmos que esse não seria um bom ano”, explica o prefeito. A previsão de crescimento para 2015 era em torno de 5% a 7%. A queda do tributo não comprometeu esse índice devido ao caixa positivo.

De acordo com dados da Famurs, em julho já foram repassados R$ 229.507 do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), de um total estimado de R$ 382.933. No primeiro semestre, Nova Pádua teve uma redução no FPM de 37,42% (nos meses de março e junho). Na semana passada, o governo federal reajustou em 0,5% o FPM. O município paduense recebeu um coeficiente de 0,6% de aumento, o que corresponde a R$ 75.194. Já o ICMS, ainda conforme dados da Famurs, teve redução nos meses de fevereiro e abril, somando 46%.

Mesmo com as contas estabilizadas, o prefeito se reuniu com os secretários municipais para orientá-los na contenção de gastos internos considerados desnecessários. “Estamos na metade do ano e não sabemos como será o próximo, então temos que fazer uma contenção de despesas. É uma precaução para que possamos terminar o ano bem e evitar prejudicar o município”, diz Bernardi.

As obras em andamento e os serviços em educação, saúde e agricultura não foram prejudicados. A construção da creche municipal segue em andamento (com verba reservada) e o início da pavimentação asfáltica em direção ao Travessão Barra (também com verba em caixa) aguarda pela melhora do tempo. “Nova Pádua é um município tranquilo e enxuto exatamente porque temos a noção de como estamos. Os trabalhos para a comunidade não irão diminuir, mas se existe uma crise, esperamos que chegue ao fim logo”, projeta o chefe do Poder Executivo.


Investimentos agrícolas

Com Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$ 29.317, Nova Pádua tem 95% da economia voltada ao setor primário. Neste ano os créditos para a agricultura diminuíram e os juros na compra de máquinas aumentaram. Devido a isso, algumas mudanças de hábitos vêm ocorrendo. Os produtores têm diversificado as culturas para agregar valor aos negócios e aumentar a renda familiar. “O agricultor não está deixando de plantar por causa da crise, muito pelo contrário, tem investido. Talvez esteja esperando para trocar o maquinário. A uva se mantém indispensável, mas ela já não é mais a cereja do bolo. Estão entrando novas culturas com um maior valor agregado”, destaca o prefeito. O número de serviços de horas-máquina tem aumentado no município. “Isso sinaliza que o agricultor está investindo e diversificando em suas propriedades, como a plasticultura que cresceu em Nova Pádua”, diz Bernardi.

A fala do prefeito confirma a iniciativa dos produtores Demétrio e Anderson Pan, citados no início desta matéria, que investiram no cultivo de tomates e pimentões em estufas, as quais têm sistema de gotejamento e iluminação com lâmpadas. Eles já têm duas estufas e a projeção é construir mais três, sendo uma delas até agosto. “Dentro do nosso planejamento a ideia é produzir durante todo o ano e para isso precisamos de mais estufas, porque percebemos que o mercado quer produtos de qualidade”, destaca Demétrio.

Para a implantação das estufas foram investidos cerca de R$ 50 mil em cada, as quais já deram o retorno esperado pela família. “Não podemos nos queixar porque o tomate está com um preço bom, mas aumentaram também os insumos e os tratamentos”, diz Anderson. Além do tomate e do pimentão em cultivo protegido, eles plantam cebola, berinjela, pepino e abobrinha em sistema tradicional para agregar valor às vendas. “Na Ceasa de Caxias do Sul, por exemplo, tu não podes ter só um produto, precisa ter vários, pois a compra de um ‘puxa’ a de outro”, acrescenta Anderson.


Demétrio Pan e o filho Anderson investem em estufas para o cultivo de tomate e pimentão. - Danúbia Otobelli
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