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O céu ganhou um maestro

Comunidade se despediu do florense Félix Natal Slaviero, 88 anos, fundador e ex-regente do Coral Nova Trento. Missa de sétimo dia de falecimento ocorre às 18h deste sábado, dia 10, na Igreja Matriz

“Flores da Cunha perde uma voz. O céu ganha um maestro.” Foi com estas palavras que o frei Álvaro Morés concluiu a homilia na cerimônia de despedida do maestro Félix Natal Slaviero, na Igreja Matriz de Flores da Cunha, na manhã do dia 3 de março. O músico e entusiasta da cultura italiana morreu no dia 2, aos 88 anos, no Hospital da Unimed, em Caxias do Sul, onde tratava um câncer. Após o ato religioso, Slaviero foi cremado no Memorial Crematório São José, em Caxias. Casado com Lia Kunz Slaviero, ele os filhos Antônio e Sandra, e um neto. O prefeito de Flores da Cunha, Lídio Scortegagna, decretou no dia 5 luto oficial de três dias pela morte do maestro.

De família religiosa, Slaviero estudou no Colégio dos Irmãos Maristas e, mais tarde, concluiu o curso secundário no Colégio Champagnat, em Porto Alegre. Fez a primeira formação superior em Artes no ano de 1954, em Nova Iorque (EUA). De volta ao Brasil, formou-se em 1958 em Orientação Educacional e, em 1959 em Licenciatura em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS). De 1967 a 1969, estudou na Europa. Diplomou-se em 1968 pela Universidade de Strasburg, na França, em Pedagogia Religiosa para jovens. Na Inglaterra, especializou-se em Literatura Inglesa e, em Paris, concluiu o curso de mestrado em Sociologia, fazendo estágio em Marrocos, na África.

Ele tinha formação técnica em canto e música pela Associação de Educadores Católicos e registro de professor de canto pelo Ministério da Educação. Em 1959, participou do Seminário de Canto, na Bahia. Participou, ainda, do curso de canto da Divisão de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. Foi violinista na Orquestra Universitária Americana.

Iniciou sua trajetória como maestro regendo o Coral Rosariense de Porto Alegre, juntamente à Orquestra Hayden. Atuou como regente da Banda Marcial Rosariense de Porto Alegre e dos corais de Vacaria, de Ibirubá, de Caxias do Sul e do Colégio Madre Imilda. Regeu o Coral Nova Trento de 19 de junho de 1972 até 2017. Foi nas dependências da Whiskeria Cockland, de propriedade de Eloy Kunz, que ocorreram as primeiras reuniões e também a assinatura da ata de fundação do grupo musical. Ele também foi professor de Sociologia na Universidade de Caxias do Sul (UCS) e secretário de Turismo de Flores no primeiro mandato do então prefeito Heleno Oliboni (1997-2000). Em maio de 2007, por indicação do então vereador Deonir Zulian, Slaviero recebeu o título de Cidadão de Mérito da Câmara de Vereadores.

Nascido na comunidade de Nossa Senhora do Caravaggio, no distrito de Otávio Rocha, Slaviero atuou ativamente em inúmeras atividades musicais, somando pelo menos 18 corais diferentes entre Porto Alegre, Lajeado, Vacaria, Ibirubá, Ipê, Antônio Prado, Nova Roma do Sul, Caxias do Sul e Nova Pádua (Banda Santa Cecília). Em Flores da Cunha, atuou também na Banda Florentina. Ele ainda organizou um coral de 1000 vozes na 20ª Festa Nacional da Uva, em 1994, na recepção do então presidente da República Itamar Franco, em Caxias. E em 27 de novembro de 2015, o maestro e o Coral integraram uma das reportagens especiais da série Gerações em Notícia, alusiva aos 30 anos de fundação do Jornal O Florense.

 

Envolvimento

Expressivo e comunicativo, Slaviero, também conhecido como ‘Peregrino da Canção’, sempre buscou o público durante as apresentações, interatividade que cativava a todos. Segundo a última entrevista do maestro concedida ao O Florense, a criação e preservação do Coral Nova Trento é resultado do envolvimento de todos, além do carinho e respeito conquistados junto à comunidade. “As gerações passam, enquanto que as canções da tradição italiana permanecem vivas, graças à dedicação e amor ao canto italiano de pessoas, grupos familiares e corais. O Coral Nova Trento dedicou muitos anos na manutenção deste aspecto cultural da imigração e, para esta continuidade, dezenas de pessoas deram a sua contribuição”, destacou Slaviero em 2015.

Na cerimônia de despedida da Igreja Matriz, o presidente da Câmara de Vereadores, Moacir Ascari, falou da importância do trabalho de Félix Slaviero como propagador das canções italianas, sempre alegre e disposto. Severino Bulla, presidente do Coral, emocionou-se duas vezes ao lembrar fatos históricos da longa jornada que viveram juntos. “Mesmo quando Félix morava em Vacaria, onde era professor, vinha todas as semanas para ensaios e apresentações”, citou (veja depoimentos abaixo). Numa entrevista para a então acadêmica e hoje jornalista Shamila Carpeggiani Marcon, Slaviero resumiu na década passada o que significava a música em sua vida – ele pegou no pulso e disse: “Tem tudo aqui. Compasso, harmonia, ritmo, tudo, é a pulsação”.

 

O que dizem

“Somente com o coral Nova Trento foram mais de 1.200 apresentações no Brasil e em outros países. Não preciso dizer mais nada. O Slaviero foi o fundador e era a alma do Nova Trento. Mesmo nos últimos dois anos ausente do coro devido à saúde, ele continuou sendo nosso maestro benemérito. Cantamos na missa de corpo presente e foi emocionante, ele era uma pessoa admirável e meu amigo pessoal. Mais de 40 anos de companheirismo, e ele tinha um carinho especial pelo Nova Trento, mesmo quando regia outros corais. Sentiremos sua falta.” Severino Bulla, presidente do Coral Nova Trento há 41 anos e amigo de Félix Slaviero.

“Apesar de eu não ter tido atuação presente com o maestro, sempre fui uma admiradora do seu trabalho. Um maestro irreverente que manteve a tradição do canto coral e da música italiana com muito respeito. Ele tem um acervo enorme de músicas e trabalhos feitos. Foi o fundador do Coral Nova Trento há 46 anos, um dos mais antigos coros em atividade do Estado, e eu fico honrada em continuar o trabalho dele. Muitas pessoas da região passaram pelas mãos dele como maestro. E ele queria que todos cantassem, vivia a música sem preconceitos. É uma perda enorme, mas que nos deixa o estímulo em continuar seu trabalho com alegria.” Cibele Tedesco, maestrina do Coral Nova Trento desde 2017.

“A contribuição do maestro Félix Natal Slaviero para a cultura florense e da Serra Gaúcha não acabam com sua partida. Os 46 anos à frente do Coral Nova Trento deixam um legado de carisma, envolvimento comunitário e o prazer de apresentar e ensinar o canto. Estes destaques fizeram o artista ultrapassar as barreiras da nossa cidade, levando, assim, a música, com destaque ao gênero italiano, para diversas cidades brasileiras. O envolvimento na política se destacou com a passagem como secretário de Turismo, Indústria, Comércio e Serviços, sempre priorizando as ações com envolvimento da população florense.” Lídio Scortegagna, prefeito de Flores da Cunha.

 

O maestro Félix Slaviero, em junho de 1997, durante as comemorações dos 25 anos do Coral Nova Trento. - Antonio Coloda/Arquivo OF Em setembro de 2011 o Coral Nova Trento e o maestro Félix Slaviero (atrás, à direita) recebeu o Troféu Grazie pelos 25 anos do Jornal O Florense. - Airton Nery/DivulgaçãoArquivo OF
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