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O amor representado em quatro patas

Dezembro Verde visa conscientizar a população sobre o abandono e os maus-tratos aos animais

Especialmente nesta época do ano, a proximidade das férias, viagens e festas, traz à tona a preocupação sobre o abandono de animais. E foi com o intuito de sensibilizar a população a respeito dessa causa que surgiu a campanha Dezembro Verde. A ação – idealizada pelo ativista Alex Paiva, no Ceará, em 2015 – logo ganhou adeptos nos quatro cantos do país. 
Em Flores da Cunha não é diferente, de acordo com a voluntária da União pela Vida Animal (Upeva), Nicolle Costa, o número de pets vítimas de abandono e maus-tratos no município é alto: “Hoje todo o caso de animal abandonado que chega até a ONG é assistido de alguma forma, nem que seja para alguma orientação a quem encontrou para que alimente e cuide até que se encontre um lar. Em relação aos maus-tratos, recebemos de três a quatro denúncias por semana. Infelizmente não temos autoridade sobre a maioria dos casos e por isso recorremos ao órgão fiscalizador da prefeitura”, relata. 
Ainda conforme a gerente industrial, o número de pets sob os cuidados da Upeva totaliza cerca de 350 cães e 100 gatos, isso sem levar em conta os filhotes que “aparecem” ao longo do ano e os casos de abandono no interior. “O que chama muito a atenção é quando encontramos animais machucados (geralmente atropelados) que são levados para atendimento e os donos nunca aparecem. Acreditamos que seja por medo de gastar com o tratamento. São inúmeros casos como este, e geralmente são animais com um tratamento longo e bem custoso”, ressalta a voluntária, que complementa destacando que a ONG não existe para acumular animais, e sim para tratá-los e depois doá-los, contudo, o alto número sob os cuidados da entidade acaba impedindo de abrigar novos.
“A população só entenderá que ter um animal requer responsabilidade quando isso pesar no bolso. Até lá, acreditam que podem viver de assistencialismo da ONG, que se mantém com doações e trabalho voluntário. Se um animal é retirado por maus-tratos, ficando como responsabilidade da ONG, logo a mesma pessoa aparece com outro e nada podemos fazer por falta de autoridade. Nos sentimos enxugando gelo. Faltam leis rígidas para maus-tratos e conscientização”, enfatiza Nicolle.
Atualmente, a Upeva conta com oito voluntários diretos, mas, uma grande rede de ajuda formada por pessoas que auxiliam na chácara, no bazar, com lar temporário, nas feirinhas de adoção, na arrecadação de itens para venda, na organização e venda das rifas e pedágios solidários. Para contribuir com a ONG os contatos devem ser feitos pelas redes sociais, preferencialmente pelo Instagram @upeva.

Coração não escolhe raça 
Na contramão do cenário ascendente dos que optam por adotar filhotes – o número de adoções registradas pela Upeva em 2021 foi em torno de 500, na maioria filhotes – está a consultora comercial, Mônica Dettoni, de 32 anos, e seu companheiro, o serralheiro Leonardo Rachelle, de 30 anos. O casal, que reside em Nova Roma, é tutor da Pretona, ou Preta, nome pelo qual a cadela idosa, com mais de 40kg e algumas dificuldades de locomoção, também atende carinhosamente. 
“Eu estava acompanhando as redes da Upeva e vi que precisavam de um lar temporário para a Pretona, quando me ofereci. Foi um processo bem rápido, eu fui buscar ela na clínica para cuidar até melhorar, já que ela não caminhava”, lembra Mônica, complementando que até era para ser um lar temporário, mas, foi só colocar a pet no carro que sabia que não conseguiria devolvê-la.   
Já se passaram seis meses desde que Preta foi adotada e, de lá para cá, os dias dela e do casal são marcados por aprendizados. Em meados de agosto ela voltou, lentamente, a caminhar, isso depois de uma série de fisioterapias – que os dois se revezavam para fazer diariamente, em casa. Segundo a consultora comercial, a adaptação não foi fácil, afinal, a cadela foi encontrada em uma valeta, muito machucada. Ela também teve de passar por diversas cirurgias e tomar medicamentos, processo que só foi possível com o auxílio da Upeva, dos voluntários e, sobretudo, da pessoa que a encontrou. 
“O veterinário dava certeza que dor ela não sentia, mas nós não podíamos encostar porque ela gritava. Até hoje vemos que fazemos algum carinho diferente e ela grita, então ela ainda tem um trauma, essa situação ruim da vida dela, e nós não sabemos quanta dor ela sentiu. Por isso, é gratificante vermos que tudo foi evoluindo e nós sempre fomos estimulando ela”, emociona-se Mônica que, ao lado de Leonardo, também divide a atenção da Pretona com o Fred – que cuida há cerca de um ano e meio. “A Preta é diferente do Fred, que também é idoso e adotado da Upeva, mas veio sabendo receber carinho e quer receber, ela não tem isso. Hoje, ela tenta brincar, mas ela não faz ideia do que tem que fazer. Ela é idosa e não tem nenhum conhecimento sobre carinho, brincadeiras. Ela ainda não sabe o que é o amor, ninguém nunca demonstrou isso por ela”, evidencia. 
Sentimentos que o casal tenta transmitir para a pet diariamente e ela, aos poucos, está retribuindo. “Hoje eu vejo que coração não tem raça e sei que esse sentimento é recíproco. Quando estamos sentados no sofá e ela na caminha dela, damos um carinho e ela vem com a pata, como se fosse um quero mais. É uma construção diária e que vai ser ainda maior”, frisa Rachelle, que acrescenta que quando Preta conseguiu dar alguns passos definitivos foi um dia mágico, um momernto recompensador para o casal. 
“No início teve noites que tínhamos que dormir do lado dela para tentar acalmar e fazer com que se sentisse melhor, já sem muita alternativa tentávamos tudo. Mas, isso valeu a pena porque hoje vemos que é muito gratificante dar essa oportunidade para esses bichinhos mais idosos, que provavelmente não seriam adotados. E no fundo, na realidade, quem acaba aprendendo com eles somos nós”, emociona-se Rachelle.

Leonardo e Mônica aprendem com Preta e Fred todos os dias. - Karine Bergozza
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