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Nova Pádua promove filó para celebrar 130 anos de imigração

‘Filó dei 130 Anni’ celebra o início da colonização em Nova Pádua e reconhece suas principais heranças

No início de 1886, famílias provenientes do Norte de Itália, de províncias como Belluno, Vicenza e Pádua, chegaram ao Rio Grande do Sul após a árdua travessia do Oceano Atlântico. Esses imigrantes italianos estavam destinados a ocupar a 16ª Légua do Campo dos Bugres – hoje Nova Pádua. Uma dessas famílias foi a de Primo Simionatto, imigrante da província de Treviso e que ocupou colônias no Travessão Paredes. A história do avô do paduense Mário Simionatto, 82 anos, é uma das trajetórias que serão relembradas e homenageadas neste sábado, dia 2 de julho, no Filó dei 130 Anni della Immigrazione Italiana in Nova Pádua, que reunirá atividades no Centro do município. O intuito é homenagear os imigrantes e manter viva a história local, fazendo o que eles faziam – encontros divertidos, com muita conversa e boa gastronomia. Ou como diz o título desta matéria, per ricordare degli immigrati (para recordar dos imigrantes).

A programação organizada para amanhã começa às 17h com uma missa celebrada em talian na Igreja Matriz Santo Antônio. Após, será descerrada uma placa comemorativa aos 130 anos na Praça Dom Júlio Scardovelli, seguindo as atividades para o salão paroquial, onde será realizado, a partir das 19h40min, o filó com comidas típicas, apresentação dos alunos da Escola Estadual Luiz Gelain e da Banda Santa Cecília – que fez uma adaptação do espetáculo exibido na Itália. O humorista Edgar Maróstica animará o encontro com suas famosas frotole de bodega (leia mais sobre a programação abaixo). Mais de 300 pessoas são esperadas pelos organizadores. O Filó dei 130 Anni integra as comemorações do Dia do Colono e Motorista de Nova Pádua e é organizado pela Associação Vêneta de Nova Pádua (Avenp), com a Banda Santa Cecília e tem o apoio da Prefeitura e Câmara de Vereadores de Nova Pádua.

 

130 anos de desenvolvimento

A história da colonização italiana de Nova Pádua difere da maioria dos outros municípios da Serra Gaúcha, isso porque o local foi uma das últimas colônias a receber a imigração chamada primária, ou seja, de famílias que saíram da Itália e se instalaram diretamente lá. O Rio Grande do Sul comemorou em 2015 os 140 anos da imigração italiana no Estado – cidades da Serra, como Flores da Cunha, receberam seus primeiros colonizadores em 1876. “Os imigrantes chegaram pela região mais próxima de Porto Alegre e iam ocupando a terra enquanto avançavam pela Serra. Até por uma questão de sobrevivência, iam se formando povoados e só assim ocupando novos territórios. Percebemos que o ano de 1875 não fechava com os registros do município e descobrimos que, de fato, Nova Pádua tem a própria história”, conta a advogada paduense Nair Panizzon Baroni, que nos últimos anos vem se dedicando a resgatar e conservar as histórias da terra natal.

Assim, Nova Pádua recebeu seus primeiros moradores pouco mais de 10 anos depois do início da vinda de italianos para o Rio Grande do Sul. Para Nair, uma das principais características dos imigrantes que ocuparam os lotes do então território pertencente à Colônia Caxias foi a organização em sociedade e também na política. “Se nota que existiam imigrantes com um nível de cultura interessante, que sabiam inclusive o italiano gramatical. Antes de 1900 Nova Pádua já tinha uma formação política e se organizava politicamente junto a Caxias, da qual pertencia, com, por exemplo, uma nominada feita estre eles da qual elegia tais pessoas para representá-los junto ao intendente”, menciona Nair.

Devido ao desenvolvimento local, resultado do trabalho desses imigrantes, em 1894 Nova Pádua foi promovido a 4º distrito de Caxias do Sul (que se emancipou em 1890), sendo território caxiense até 1924, quando a então Nova Trento se emancipa e leva consigo Nova Pádua – que passou a ser 2º distrito. Em 1992 Nova Pádua teve decretada sua emancipação.

 

Entre tantas, a história da família Simionatto

“Sempre gostei muito dos filós. Quando era mais novo, tinham até três por semana. Nós jogávamos carta, conversávamos e comíamos algum prato especialmente preparado para o encontro. E se o salão fechava cedo, íamos para a casa de um dos vizinhos e continuávamos a conversa. Era muito bom e por isso não vou perder este”, discursa, em talian, o paduense Mário Simionatto, 82 anos, morador do Travessão Santo Isidoro, em Nova Pádua. As lembranças dos filós se mesclam com as histórias da família com origens italianas hoje motivo de muito orgulho para ele. O avô de Mário, Primo Simionatto, chegou a Nova Pádua em 1886, aos 18 anos de idade, após deixar para trás a terra natal, Treviso – outros parentes já tinham feito esse caminho anos antes, com o grande fluxo imigratório desencadeado em 1875.

Na América, ele se instalou em lotes que hoje formam o Travessão Paredes e que ainda são de propriedade da família Simionatto. Foi na então pequena vila que Primo casou-se com Anna Zulian e teve oito filhos – entre eles o pai de Mário, Antonio Simionatto, que encontrou o amor em um dama que atravessou o oceano ao lado da família. A imigrante Maria Menegolla, que mais tarde se tornaria a esposa de Antonio, acompanhou a família e, aos 4 anos de idade, deixou para trás a cidade de Sospirolo, na província de Belluno para, no ano de 1911, se instalar com a família também no Travessão Paredes. “Eles (Antonio e Maria) se apaixonaram. Quando a família dela resolveu mudar-se para Erechim, ele pegou a carroça puxada por bois e foi buscá-la. A trouxe de volta para Nova Pádua e, após casarem, constituíram uma família de 15 filhos, entre eles o meu pai”, conta Valdir Simionatto, 60 anos, um dos seis filhos de Mário com a esposa Gema Bisinella Simionatto.

O agricultor Mário recorda que poucas eram as lembranças contadas pela mãe sobre o Velho Continente. Os tempos difíceis pareciam uma realidade para ser esquecida. “Ela contava que quando deixaram a Itália, ela ouvia seu pai dizer que iriam embora para um lugar onde teriam terras para trabalhar. Lá eles não tinham mais trabalho e partir para outro país era a solução”, conta. A história da família foi aos poucos sendo resgatada graças à dedicação dos filhos como Valdir, que se orgulham de suas raízes. “Não podemos deixar a história se perder. Essas fotos já dizem tudo. Temos que lembrar sempre da nossa história, não deixar hábitos como o talian morrerem com o tempo. Por isso sábado estaremos todos aqui no filó”, garante Valdir, que é um dos apresentadores do programa Cancioníssima, que vai ao ar todos os domingos a partir das 10h na rádio São Francisco 560 AM, e tem como pauta a cultura italiana.

 

Programação de sábado – 2 de julho

17h – Missa em talian na Igreja Matriz. Após, descerramento da placa comemorativa aos 130 anos da imigração italiana em Nova Pádua, na Praça Dom Júlio Scardovelli.

19h40min – Filó no salão paroquial, com pão colonial, salame, queijo, ossacol (copa), pepinos em conserva, polenta brustolada, galeto, grostoli, esfregolá, monegue (pipoca), bolo, batata doce, pinhão cozido, bergamota, laranja, vinho, suco de uva e o tradicional quentão. Os ingressos custam R$ 40 e podem ser adquiridos na hora. Informações e reservas com Maicon Pan (54) 9939.3550; Gilmar Marin (54) 9937.0513; Rafaela Menegat (54) 8136.8189; e Tatiane Vezzaro (54) 8115.1258.

 

O agricultor paduense Mário Simionatto, ao lado do filho Valdir, exibe algumas das fotos da família, relembrando a trajetória do avô Primo Simionatto e da mãe Maria Menegolla Simionatto, imigrantes vindos da Itália e que colaboraram para o desenvolvimento de Nova Pádua. - Camila Baggio/Jornal O Florense
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