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Nova Pádua aposta em campanha para o uso consciente de remédios

Fornecimento de medicamentos pela prefeitura aumentou 600% no comparativo entre 2004 e 2010. Investimento em 2011 foi de R$ 416 mil

Atualmente a Farmácia Municipal de Nova Pádua tem 350 tipos de medicamentos para distribuição gratuita à população. Simples: basta chegar com uma receita e sair com o remédio. Conforme a direção da Unidade Sanitária Dom Henrique Gelain, local onde está instalada a farmácia, diariamente são atendidas cerca de 60 pessoas, sendo que cada uma retira, em média, de cinco a seis comprimidos. De acordo com o farmacêutico responsável, Luís Fernando Paim, no ano passado foram atendidas aproximadamente 18 mil pessoas – a população de Nova Pádua é de 2.450 habitantes, ou seja, equivale dizer que todos os moradores foram sete vezes ao posto. Em 2011 o município investiu mais de R$ 416 mil na compra de remédios. Para se ter uma ideia, em 2004 o valor gasto era de aproximadamente R$ 59 mil, o que representa um aumento de mais de 600% em sete anos.

De acordo com os estudos realizados por intermédio do Plano Municipal de Saúde, que contempla o Plano Municipal de Ciências Farmacêuticas, se o município continuar a custear os medicamentos nesse ritmo, assim como se o acesso a esses itens continuar crescendo, da forma como tem ocorrido nos últimos anos, em 2019 a prefeitura estaria gastando cerca de R$ 10 milhões com a compra de remédios. Vale lembrar que o orçamento de Nova Pádua em 2011 foi de R$ 8,7 milhões, e a previsão para 2012 é R$ 10 milhões. Avaliando os dados, o farmacêutico percebeu que era preciso prever e planejar um crescimento consciente, pois, do contrário, chegará o dia que não haverá mais dinheiro para custear esse financiamento.

Aumento do consumo
Segundo Paim, uma das explicações para o considerável aumento do consumo de medicamentos na Farmácia Municipal é o fato de que ao longo dos anos a lista de fármacos básicos foi sendo incrementada. Além disso, a responsabilidade era compartilhada com o Estado. Porém, mediante a inoperância estadual, essa carga acabou sendo assumida pelo município, que qualificou e assegurou o acesso da população. “Hoje as pessoas têm os medicamentos à disposição gratuitamente no posto de saúde e acesso facilitado aos médicos. Esses fatores contribuíram para o aumento desses números. Em 2004, por exemplo, a quantidade de itens distribuída era muito menor. Hoje temos 350 medicamentos disponíveis”, explica.

Com relação aos gastos, Paim salienta que embora a quantidade de remédios distribuídos tenha aumentado, os valores destinados ao custeio foram mantidos os mesmos. Dessa forma, o município teve que arcar com as despesas adicionais. “De janeiro a dezembro de 2010 os gastos com o custeio dos medicamentos básicos em Nova Pádua ultrapassaram os R$ 74 mil, o que representa R$ 28,75 por habitante/ano, mais de três vezes do valor total dos recursos destinados a estes componentes”, elucida o farmacêutico.

Conforme ele, para amenizar o problema seria necessário que os repasses aos municípios, pelas esferas federal e estadual, fossem ao menos quatro vezes maior que os praticados atualmente. “Precisaríamos receber R$ 35,28 em vez dos atuais R$ 8,82 habitante/ano”, afirma.

Esses números refletem apenas os gastos com a aquisição dos itens básicos. Porém, a Farmácia também oferece medicamentos especiais, o que aumenta consideravelmente os gastos por paciente. Em 2010 esse valor chegou a R$ 166,11 por pessoa, ao passo que em 2004 a quantia investida era de R$ 24,29.

A campanha
Paim percebeu que era preciso criar ações para a conscientização da população para o uso racional de remédios. Foi então que em 2010, em parceria com a Secretaria de Saúde e Bem Estar Social paduense, foi criada uma campanha para alertar e orientar os usuários. “Nossa intenção era, e ainda é, conscientizar as pessoas para que façam uso de medicamentos somente quando for realmente necessário. Além disso, buscamos efetivar nosso atendimento, prescrevendo remédios que tenham o efeito que se espera dele, oferecendo o tratamento pelo tempo necessário para a recuperação do paciente, bem como orientar para a forma correta que esse produto deve ser utilizado”, explica o especialista.

Para incrementar a campanha, a secretaria desenvolveu um fôlder explicativo que contém explicações sobre a gestão de medicamentos, apresentando a forma correta de se utilizar e estocar os mesmos em casa. O material foi distribuído à população em reuniões/palestras realizadas nas 13 comunidades e no Centro do município. Também na tentativa de aperfeiçoar o uso de medicamentos, a Farmácia Municipal passou a solicitar aos pacientes que devolvessem os itens que não eram utilizados após a conclusão do tratamento. “Esses remédios, em bom estado de conservação, obviamente, são repassados à outra pessoa. Dessa forma, conseguimos controlar a compra de novos produtos, além de contribuirmos para que as pessoas não consumam remédios sem necessidade ou sem consultar um médico”, pondera Paim.


Antidepressivos: um problema a ser combatido
Conforme a Secretária de Saúde e Bem Estar Social de Nova Pádua, entre os medicamentos que registraram maior crescimento no consumo estão aqueles destinados ao combate do colesterol e da gastrite. Porém, entre os líderes da lista estão os antidepressivos. Em 2010, 20% da população paduense (502 pessoas) faziam uso das drogas, sendo que em 2004 esse número não passava de 156 pessoas. Em seis anos, o aumento foi de aproximadamente 220%. “Esses números são preocupantes. Considero que menos da metade dessas pessoas realmente necessitaria fazer uso desse tipo de medicamento. Acontece que muitos médicos, assim como os pacientes, confundem um ‘estado depressivo’, que não necessita da intervenção de remédios, com a doença depressão, para a qual é imprescindível o uso de antidepressivos”, esclarece o farmacêutico Luís Fernando Paim.

Ele salienta que o uso indiscriminado de antidepressivos pode causar danos à saúde do paciente. “Esse tipo de remédio pode ser usado, mas existe uma margem de segurança, ou seja, um tempo limite de uso. Não é possível tomá-lo pela vida toda. Costumo falar que o antidepressivo é ‘alguém’ que te dá a mão por um tempo, para te ajudar a fazer um percurso. Só não espere que ele irá te carregar para sempre. É necessário que você se ajude”, compara.

Embora concorde que o percentual de usuários de antidepressivos no município seja alto, o secretário da Saúde, Odir Boniatti, afirma que é difícil mudar a situação de imediato. Conforme ele, na tentativa de reverter a situação, o governo tem investido em um trabalho conjunto com médicos da unidade sanitária e demais secretarias para auxiliar a população nessa tarefa. “Não temos a intenção de diminuir o fornecimento, mas fazer com que as pessoas reflitam sobre o assunto; conscientizar a população para o uso mediante a real necessidade”, pondera Boniatti.

Comparativo
- Nova Pádua tem 2.450 habitantes. A prefeitura gastou R$ 416 mil na compra de medicamentos em 2011. Média de R$ 169,80 por habitante.
- Flores da Cunha tem 27.126 habitantes. A prefeitura gastou R$ 1 milhão na compra de medicamentos em 2011. Média de R$ 36,86 por habitante.


Farmacêutico paduense Luís Fernando Paim alerta: se o município continuar nesse ritmo, em 2019 gastará R$ 10 milhões. - Mirian Spuldaro
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