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Melzi Susin, de 60 anos, dedica sua vida ao ofício de relojoeiro e compartilha sua trajetória à frente da Joalheria e Óptica Susin. A Véspera do Dia dos Pais ele destaca o orgulho em trabalhar ao lado da filha

Precisa consertar um relógio, quebrou o elo de uma corrente, as joias devem ser devidamente higienizadas, é necessário ajustar um anel, ou o problema é apenas a falta de pilhas. É quase impossível citar esses ‘problemas’ sem associar sua resolução a um endereço bem conhecido e destino certo de muitos florenses: a Joalheria e Óptica Susin. 
Localizado no Centro da cidade, o empreendimento se destaca por ser um dos poucos, senão o único do município a realizar o conserto de relógios e, claro, a poder contar com o talento e a experiência de seu proprietário, Melzi Susin, de 60 anos, que há quase 48 se dedica ao ofício de relojoeiro e há mais de 30 fundou seu próprio negócio em Flores da Cunha. 
Filho de Aldo Susin (in memoriam) e Cristina Parizzotto Susin, nossa Personalidade do Mês possui mais cinco irmãos, três mulheres e dois homens, é natural de Antônio Prado e se tornou conhecido no município florense pelo atendimento de qualidade e pela agilidade nos reparos, uma vez que faz o que pode para consertar uma infinidade de itens. Reconhecimento que chega pelo intenso movimento diário em seu negócio e pela alegria em poder compartilhar o que sabe com a filha, Helen Susin Galiotto, de 34 anos, que administra o negócio ao seu lado, há 17 anos. 
“Graças a Deus a gente se dá muito bem. Temos ideias parecidas, conversamos, se tem algum problema a gente resolve, é muito difícil discutirmos por alguma coisa. Nós dois fizemos de tudo aqui dentro, até na parte do conserto, o que eu consigo fazer eu faço, a gente se ajuda sempre,” explica Helen sobre a rotina de trabalho com o pai.
Com a proximidade do Dia dos Pais ela também destaca como vê a valorização do trabalho de Susin pelos forenses e como se sente com a responsabilidade de dar sequência ao negócio dele: “Eu sinto muito orgulho do meu pai porque é uma profissão exaustiva, é cansativo, e faz muitos anos que ele está nesse ramo. Eu também vejo que é bom saber que a pessoa é procurada porque sempre faz o serviço bem feito, sempre atende bem, procura tratar todos de forma igual, não faz diferença. Então é bom ver que procuram ele porque sabem que o serviço dele é bom, que ele se dedica ao que faz, isso me dá orgulho, é um sentimento muito bom”, emociona-se, acrescentando que se sente responsável em dar continuidade para a história que seu pai começou a escrever e que planeja ensinar a profissão para seu filho, Heitor, de 5 anos, que em breve deve aprender a arte de consertar relógios com o avô. 
A véspera do Dia dos Pais, conheça a história de Melzi Susin*: pai, avô e empresário.

O Florense: Como surgiu a ideia de fundar seu próprio empreendimento na área da joalheria?
Melzi Susin: De profissão de relojoeiro eu tenho 47, vai fazer 48 anos. Comecei cedo, com 13 anos, e quem me ensinou foi o meu cunhado, João Maria de Oliveira (in memoriam), que era casado com uma irmã minha e também era relojoeiro aqui em Flores da Cunha. Na verdade, um pouco ele me ensinou e um pouco eu aprendi no curso do Instituto Universal Brasileiro, naquela época eu estudava por correspondência e consegui unir a teoria e a prática. Eu trabalhei cinco anos aqui na cidade e depois fui para Caxias do Sul, lá trabalhei como empregado por oito anos na Joalheria Kayser e em outras lojas grandes de Caxias, depois voltei para Flores da Cunha e decidi montar o meu negócio, afinal, eu gostava de fazer isso, aliás, eu ainda gosto de fazer isso. 

OF: O estabelecimento sempre se chamou Joalheria e Óptica Susin? 
Susin: No início não se chamava Joalheira e Óptica Susin, e sim Relojoaria Susin. A sala ficava ao lado da Imobiliária Francescatto, na frente do antigo mercado Super Cesa, e era do tamanho de uma garagem, mal cabia um Fusca. Foi por volta de 1991 e eu fiquei nove anos ali (agora eles fizeram um prédio e desmancharam aquela casa). Depois disso nos mudamos para o endereço que estamos hoje – Rua Dr Montaury, 256, sala 26 –  e colocamos o nome de Joalheria Susin, só mais tarde, depois que minha filha fez o curso e se tornou Técnica em Óptica, foi que montamos a óptica e começamos a trabalhar também com essa parte. Aí sim passou a se chamar Joalheira e Óptica Susin, como é até hoje. Em setembro completa 17 anos desses serviços e nós só fomos ampliando, conforme as condições. 
Na verdade, eu sempre quis montar a parte da óptica para a Helen poder dar continuidade, claro, se ela quisesse, porque geralmente quem tem joalheria tem óptica. E quando ela era menor, sempre vinha ajudar aqui nas épocas mais festivas, como no Natal, por exemplo, então na hora da escolha da profissão eu sugeri que ela fizesse o curso para trabalhar aqui comigo, a Helen aceitou, gostou da ideia, se formou, e estamos aqui.   

OF: Quais eram os itens mais vendidos antigamente? E hoje? 
Susin: O que mais se vendia eram os relógios, sem dúvida. Naquela época a gente vendia bastante porque não tinha celular, então todo mundo tinha ou queria ter relógio. Era um acessório de luxo porque não era todo mundo que conseguia comprar. Depois eu comecei a vender algumas coisas em ouro, e aí foi engrenando. Nos dias de hoje é bem dividido, varia conforme as necessidades do cliente. Joias a gente vende bastante, relógio diminuiu um pouco por causa dos celulares, mas óculos também é bem forte a venda. 

OF: Como era no início? Que detalhes lembra em relação a compra de mercadorias e prazos de entrega?
Susin: Antigamente se comprava dos viajantes, tinha que esperar quando eles vinham, isso quando não tinha que fazer pedido que demorava mais uns 20, 30 dias para a entrega. Hoje, com a internet, é tudo mais rápido, faz o pedido e demora uns cinco dias para chegar, é bem mais tranquilo. Por isso, atualmente, muitas pessoas também já chegam decididas do que querem, aí é mais fácil até para atender o cliente. 

OF: Quais as principais dificuldades de se manter um comércio hoje? 
Susin: Acredito que seja manter a fidelidade do cliente, isso já não tem mais muito e é o maior desafio. Nós, por enquanto, estamos conseguindo manter, mas fidelizar um cliente é um desafio, principalmente para quem está começando, fazer com que um cliente volte para a tua loja, para a tua empresa, porque ele pode ir uma vez, mas tem que fazer ele voltar, sair satisfeito, gostar do atendimento, do ambiente, do serviço que foi prestado, e isso é difícil. Sempre temos que atender bem o cliente, não só na venda, mas no pós-venda, porque o principal objetivo é fidelizar. Por isso, também, hoje a gente acaba dando assistência, inclusive, de outras lojas, ‘abraçando tudo’. Porque se vai começar a separar as coisas e dizer que não vai atender a pessoa porque ela não comprou o item com a gente, é algo que o cliente não gosta de ouvir, ele gosta de ser atendido, se ele vem te procurar é porque quer que resolva o problema dele, então o que é possível para nós resolvermos a gente resolve, ajuda a resolver.  

OF: E quais os riscos de trabalhar neste segmento? 
Susin: Aqui nesse endereço nós fomos assaltados duas vezes, faz anos já. E isso dá uma ‘balançada’, não nos machucamos, mas é uma coisa que marca, um trauma que fica, porque o nosso ramo já é perigoso então quando acontece a gente fica com medo. Sempre ficamos com um pouco de medo, na verdade, porque trabalhamos com coisas visadas, que chamam a atenção, mas, a gente sempre tocou o nosso serviço, e é o nosso trabalho. Temos os santos aqui para nos proteger e colocamos nas mãos de Deus, não tem o que fazer, porque é uma coisa que quando menos se espera eles estão na porta. Mas fora os prejuízos, graças a Deus, não nos fizemos nada.

OF: Quando é preciso consertar o elo de uma corrente, um relógio, alargar ou apertar um anel, limpar uma joia, muitos florenses automaticamente lembram da Óptica e Joalheria Susin. O que isso significa para você? 
Susin: De consertos de relógios acho que sou o único que faço isso aqui na cidade e eu sempre fiz, então é algo que me sinto bem, é gratificante. E o que faço abrange tudo, conserto de joias, relógios, óculos. Esse é o nosso maior diferencial, a prestação de serviços, não só a venda, mas também a assistência e muitas coisas a gente consegue resolver aqui mesmo, nem precisamos enviar para a fábrica!

OF: Existe algum ‘segredo’ para lidar com o público? 
Susin: Às vezes, é complicado, mas sempre temos que ter paciência, trabalhar com muita paciência.

OF:  O que seu trabalho significa para você? 
Susin: Como vou explicar isso... é a minha vida! Eu parei de estudar com 13 anos e nunca mais voltei, porque eu não tinha condições, meus pais eram pobres, então meu trabalho é tudo para mim.   

OF: Estamos a pouco mais de uma semana do Dia dos Pais e, hoje, sua filha administra o negócio ao seu lado. Como se sente com isso? 
Susin: Eu e a Helen, graças a Deus, a gente sempre se deu muito bem. Desde que ela era pequena, sempre fomos companheiros um do outro, então é muito bom trabalhar com ela, temos uma relação muito boa. É um orgulho, afinal, isso aqui é uma coisa que vai ficar para ela, ela é filha única e não sei quanto tempo eu vou conseguir trabalhar ainda. Por isso também foi um dos motivos que ela quis ficar junto para ‘tocar’, seguir com o que foi construído, porque se ela decidisse por outra profissão, quando eu parasse de trabalhar tudo ia terminar, então, agora, a ideia é continuar. Ela também tem um filho e quer ir passando isso para as gerações, se ele tiver interesse em trabalhar no ramo. E quem sabe, quando ele crescer mais um pouquinho, o vô dele pode ensinar ele a consertar relógios, criança aprende rápido, vamos ver se daqui uns quatro ou cinco anos se a gente consegue ensinar ele (risos).

OF: Quando fundou a Relojoaria Susin, há mais de 30 anos, em algum momento pensou que iria conseguir expandir o empreendimento e trabalhar ao lado da filha? 
Susin: Não, jamais, as coisas vão acontecendo e isso é bom, é um orgulho, ainda mais para quem não tinha nada. Quando sai de casa, em Antônio Prado, tinha um chinelo de dedo, uma calça e uma camisa, tive que me virar, a gente era pobre, aí aprendi a arrumar os relógios, desenvolvi essa profissão e comecei a trabalhar para realizar o sonho de montar a loja. No início não foi fácil porque eu não tinha dinheiro para aplicar, naquela época eu consertava para conseguir comprar a mercadoria e, depois, começar a vender. Com o dinheiro do conserto comprava correntes, relógios, e então fui montando a loja.  

OF: Se pudesse dar um conselho para alguém que vai abrir um negócio hoje, qual seria? 
Susin: Pergunta difícil essa... O bom seria começar com dinheiro, não do jeito que eu comecei (risos). Mas tem que ter dedicação e esforço, não pode ter tempo ruim, tem que trabalhar! 

OF: Pretende seguir trabalhando?
Susin: Eu já fiz duas cirurgias na coluna por causa do meu trabalho, fico muito tempo na mesma posição, já teria que ter parado por recomendação médica, mas até que conseguir vou estar aqui, vamos levando, sempre. Até que der vou continuar!

OF: Como gostaria de ser lembrado pelas pessoas?  
Susin: Como eu sempre fui, do jeito que eu sempre fui. Como uma pessoa simples, humilde, trabalhadora.   

*Alguns questionamentos foram respondidos com a colaboração da filha de Melzi Susin, Helen Susin Galiotto.

Melzi Susin e Helen Susin Galiotto, pai e filha, compartilham histórias à frente da Óptica e Joalheria Susin.  - Karine Bergozza Desde os 13 anos, Melzi Susin se dedica ao ofício de relojoeiro. - Karine Bergozza
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