Músicos florenses lutam para continuar ativos
Lei Federal Aldir Blanc destinará a Flores da Cunha R$ 238 mil
Uma boa música pode animar qualquer pessoa, mesmo nos momentos mais difíceis. Pode relembrar histórias já vividas e fazer refletir sobre a vida. E nesse momento de ‘ficar em casa’ percebemos que as lives estão fazendo o maior sucesso, mas artistas locais estão preocupados com o futuro da cultura no município.
É o caso de Felipe Corso, 29 anos, que atua como músico, professor de música e agenciador musical. Com quatro projetos em andamento – Acústico Bruna e Felipe, Senhor Vinil, Carta Blanca Blues Band e The Highway 122 – Corso está em recesso devido à pandemia, por não ser mais possível trabalhar em espaços onde haja aglomeração. O músico fazia, em média, 14 shows por mês, e todos foram cancelados, sem previsão para retorno. “Porém, em minhas outras frentes, como professor de música e agenciador musical, ainda é possível trabalhar em home office, oferecendo os serviços ao público e podendo obter novos relacionamentos profissionais para quando o setor de entretenimento voltar a ativa. Como todas as pessoas estão segurando um pouco o orçamento, as aulas foram reduzidas. A geração de conteúdos nas redes sociais também é outra alternativa, para aproximar cada vez mais as pessoas do meu trabalho”, declara. Conforme Corso, atualmente a renda para viver está entrando apenas das aulas on-line. “A internet, com certeza está aproximando as pessoas, o conhecimento das pessoas em prol de algo maior, que às vezes nem é financeiro. Não podemos deixar a cultura de lado, em nossa nação, pois é um pilar, mesmo que não seja o mais importante, e a internet proporciona outras formas de relacionamento entre as pessoas e de consumo cultural. Porém, nada substitui o contato, a emoção que é transmitir a energia da música ao vivo para as pessoas, isso jamais a internet vai conseguir”, desabafa.
Uma dupla, dois panoramas
A dupla florense Maicon & Pontel também está sentindo as dificuldades. Rodrigo Pontel, 43 anos, vive apenas da música há três anos. “Tomo conta do meu filho de três anos durante o dia, não posso trabalhar em outra área, pois não tenho com quem deixar ele. Hoje estou sem renda”, declara. Já Maicon Nissola, 35 anos, também é designer gráfico e professor.
Os músicos cancelaram cerca de 40 shows e a internet tem sido uma forma de dar continuidade ao trabalho. Com alguns incentivos conseguiram realizar duas lives, “mas não dá para depender disso. E como a situação financeira não está boa para ninguém, está difícil conseguir patrocínio para uma próxima”, finalizam Maicon e Pontel.
E quem segue o mesmo caminho é o tenor Giovani Marquezeli, 40 anos. O cantor teve todas as suas atividades suspensas sem previsão de volta. “O que estou fazendo são lives para divulgar meu trabalho e alguns pequenos contratos para lives particulares”, comenta o tenor que teve 25 apresentações canceladas devido à pandemia. “Acredito que a internet será cada vez mais importante daqui pra frente, pois mesmo que voltarmos, não será como antes, e hoje ela está sendo fundamental para trabalharmos”, relata.
Atualmente Giovani e a família estão sendo mantidos através do trabalho de sua esposa, que é confeiteira. “O trabalho dela não parou. Graças a Deus conseguimos nos manter”, informa.
Propostas para o município
Para poder amenizar essas perdas, os artistas sugeriram propostas para o município. “Eu vejo uma urgência para os artistas e também para a população em promover a arte e consumir a arte. Ela é que nos move e nos sustenta nesse momento tão complicado”, declara Felipe Corso. Para ele, uma alternativa que está começando a ganhar sucesso no Brasil inteiro é o acesso à cultura via drive-in, “onde o setor público poderia promover com os artistas locais. A pessoa não sai do carro e pode assistir a um show, a um espetáculo, sem correr o risco sanitário frente à pandemia”, comenta – ação já foi realizada na cidade via instituição privada, trazendo o cinema via drive-in.
Para a dupla Maicon & Pontel, a criação de um projeto de apoio as lives seria uma alternativa nesse momento. “O município poderia patrocinar lives, como uma forma de compensação nesse momento. Outra ideia é lives como atração da Feira de Inverno, já que está acontecendo virtualmente”, ressaltam. O tenor Marquezeli compactua com a mesma proposta de patrocínios de lives.
Conforme o chefe do departamento de Cultura, Michael Molon, a prefeitura teve uma redução considerável nos primeiros seis meses do ano de retorno de impostos e repasses governamentais, “e tudo tem que ser muito bem calculado. Mas estamos tentando articular um show através de drive-in com os artistas locais no Parque da Vindima. A ideia é que a prefeitura entre com a infraestrutura, e o valor arrecado com ingressos será dividido entre os artistas. Também iremos transmitir ao vivo pela internet”. Conforme Molon ainda não há data definida para a ação.
Cadastro para artistas
A Secretaria de Educação, Cultura e Desporto, através do Departamento de Cultura, está solicitando para a classe cultural e entidades ligadas a área para preencherem um formulário de atualização do banco de dados do município (pode ser acesso através do site da prefeitura www.floresdacunha.rs.gov.br). Devem realizar a ação online artistas, produtores e ‘fazedores de cultura’. “Além de aprimorar a comunicação com o segmento, estas informações são fundamentais para encaminhamento de projetos e buscas de recursos em ações com entidades públicas e privadas”, ressalta o chefe do Departamento, Michael Molon.
Conforme Molon, as informações também vão ser utilizadas para a destinação de recursos da Lei Federal 14.017/2020, conhecida como Lei Aldir Blanc, que estabelece ajuda emergencial para artistas, coletivos e empresas que atuam no setor cultural e atravessam dificuldades financeiras durante a pandemia.
Conforme a Confederação Nacional de Municípios (CNM), Flores da Cunha tem previsão de receber R$ 238,4 mil através da Aldir Blanc. “Até o momento temos 21 artistas cadastrados, mas seis deles são de municípios vizinhos. Então temos pouca adesão dos florenses”, destaca Molon, que declara que para receber o incentivo da Lei Federal, é preciso que os ‘fazedores de cultura’ estejam cadastrados. “É importante destacar que o dinheiro ainda não veio para o município e que ele não ficará com a prefeitura. Todo ele será destinado ao setor cultural privado. Nenhum grupo que tenha relação com o município poderá se beneficiar, como é o caso do Coro Municipal e Coro dos Canarinhos, por exemplo”, informa. Conforme Molon, ainda não há previsão para receber a verba.
Dúvidas e informações pelo telefone (54) 3279 3600, ramal 272.
Lei Aldir Blanc
A Lei Federal 14.017/2020, conhecida como Lei Aldir Blanc, tem como objetivo central estabelecer ajuda emergencial para artistas, coletivos e empresas que atuam no setor cultural e atravessam dificuldades financeiras durante a pandemia. De acordo com a Lei, o recurso total de R$ 3 bilhões será distribuído de forma que 50% do valor sejam destinados aos estados e ao Distrito Federal – deste montante, 20% serão distribuídos segundo critérios do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e os outros 80% serão alocados proporcionalmente entre a população local. A outra metade, por sua vez, será destinada aos municípios e ao DF, obedecendo aos mesmos critérios de rateio. Conforme a CNM, Flores da Cunha poderá receber R$ 238.428,75 (R$ 62.898,05 referente aos 20% do FPE e R$ 175.530,70 referente aos 80% de acordo com a população).
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