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Morte do último Caudilho completa 10 anos

Leonel de Moura Brizola governou gaúchos e cariocas e se elegeu pela primeira vez a deputado com votos florenses

Poucos sabem, mas ele fazia questão de contar às pessoas mais próximas que Flores da Cunha foi o município que tornou possível sua entrada na política. Na primeira eleição que disputou, em 1947, para deputado estadual, ele fez campanha em Flores da Cunha. Chegou de ônibus e ficou hospedado na casa do presidente do PTB, Ângelo Oliboni. Durante a apuração dos votos, quase findando as urnas, ele constatara que não atingiria a votação necessária. Contudo, ao ser aberta a urna de Flores da Cunha ele recebeu 127 votos e garantiu a primeira eleição. Mais tarde, depois de festejar a conquista, Leonel de Moura Brizola retornou à cidade que o elegeu. Neste sábado, dia 21 de junho, fazem 10 anos da morte do Caudilho que marcou a política brasileira por quase 60 anos.

Essa história é contada com muitos detalhes pelo ex-prefeito e presidente do PDT florense, Heleno Oliboni. “Ouvi umas cinco vezes, pelo menos. Ele precisava de cerca de 100 votos e conseguiu mais. Isso porque veio até aqui. Por isso ele sempre teve um carinho muito grande pelo município”, cita o pedetista. O maior agradecimento feito, conforme relata Oliboni, ocorreu em 1998. “Ele escolheu Flores da Cunha para lançar Emília Fernandes ao governo do Estado. O recebi em meu gabinete, na prefeitura, e na minha casa. Lembro que ele ligou e pediu nhoque para jantar. E eles comeram nhoque”, recorda Oliboni, sobrinho de Ângelo Oliboni, que recepcionou Brizola no município em 1947.

Nascido em 22 de janeiro de 1922 em Carazinho, o fundador do Partido Democrático Trabalhista (PDT) morreu aos 82 anos no Rio de Janeiro em 2004 e foi durante quatro décadas um dos políticos mais populares e polêmicos do país. Depois de entrar na política em 1945 no PTB do ex-presidente Getúlio Vargas, foi eleito deputado estadual e, após, em 1954, deputado federal. Um ano depois foi prefeito de Porto Alegre. Como governador do Rio Grande do Sul (1959-1963) comandou, em 1961, a Campanha da Legalidade, garantindo a posse na presidência da República do então vice-presidente e seu cunhado, João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros. Militares tentaram impedir a posse de Jango, mas acabaram recuando graças à reação popular orquestrada por Brizola.

Como governador gaúcho Brizola teve um mandato polêmico pelo fato de ter brigado com empresas multinacionais de energia elétrica e de telefonia. Contudo, a educação sempre foi uma meta, sendo que muitas escolas foram abertas, reduzindo muito o percentual de analfabetos no Estado.

Em 1964 Brizola teve os direitos políticos cassados e foi exilado após o Golpe Militar. Foi para o Uruguai e voltou ao Brasil em 1979 com a anistia. Em plena Ditadura retornou à política, mas perdeu o direito pela legenda do PTB para Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio. Foi quando decidiu fundar, em 1980, o PDT.

Em 1982 foi eleito governador do Rio de Janeiro. Fez um governo em que foi acusado pelos opositores de não combater o crime, o que custou a eleição de seu vice, Darcy Ribeiro, para governador em 1986. Na eleição presidencial de 1989 – a primeira direta após a Ditadura –, ficou em terceiro lugar, atrás de Fernando Collor de Melo e de Luiz Inácio Lula da Silva, a quem acabou apoiando. Nesta época, uma frase sua ficou famosa. “Vamos fazer a direita engolir esse sapo barbudo”, afirmou, numa referência ao candidato petista.

Em 1990 ele foi eleito para um segundo mandato no Rio de Janeiro. Depois, foi derrotado em todas as eleições que disputou: presidente (1994), vice-presidente (1998, na chapa de Lula), prefeito do Rio (2000) e senador (2002). Chamado de Caudilho, Brizola foi o último herdeiro do trabalhismo, movimento nacionalista protagonizado por Getúlio Vargas.

Ex-prefeito florense e presidente municipal do PDT, Oliboni (E) recepcionou Brizola na prefeitura em 1998. - Arquivo de Heleno Oliboni/Divulgação
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