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Metade dos acidentes fatais da ERS-122 nos últimos 10 anos foi registrada na descida da Serra do Rio das Antas

Trecho entre os Kms 107 e 108 da rodovia, em Flores da Cunha, registra o maior número de ocorrências com morte, representando 32% do total no período de uma década

O acidente com o caminhão bitrem carregado com 60 mil litros de óleo diesel na tarde do dia 4 de dezembro, que vitimou o jovem motorista Marcos Leandro de Castro, 25 anos, é mais um que entra para a triste estatística das mortes no trânsito na Serra Gaúcha, especialmente na ERS-122. Levantamento feito pela reportagem do jornal O Florense aponta para um crescente número de óbitos registrados nos últimos 10 anos ao longo dos 22 quilômetros da rodovia em território florense, entre os Kms 88 (São Gotardo) e 110 (ponte sobre o Rio das Antas). De 2004 a 2013 ocorreram 44 mortes em decorrência de acidentes de trânsito, grande parte envolvendo caminhões pesados.

A pesquisa revela que na maioria das vezes o caminho das tragédias tem endereço certo: ERS-122, Km 108, na descida da Serra das Antas. Das 44 vítimas fatais da última década, 14 perderam a vida em acidentes ocorridos entre o Km 107 e o Km 108, o que representa 32% dos casos. No entanto, os números podem ser maiores, uma vez que dezenas de sobreviventes feridos, alguns com gravidade, podem ter morrido em decorrência das lesões. Somados, os óbitos que ocorreram nos cinco quilômetros do trecho macabro na descida da Serra das Antas no período chegam a 21, quase metade das registradas em todo o trajeto da rodovia em território florense. Neste ano foram, até ontem, dois casos somente no Km 108.

Para o agricultor Moacir Malacarne, 49 anos, que transita quase diariamente pela rodovia, a pressa, a falta de experiência e o excesso de confiança podem ser alguns dos motivos de tantas tragédias num mesmo local. “Já presenciei oito acidentes, poucos motoristas escaparam com vida.” De acordo com o agricultor, por não conhecerem a estrada os motoristas acionam o freio no começo da Serra, fazendo com que o equipamento esquente rapidamente – quando chegam ao final do trecho não conseguem mais segurar o caminhão.

Imprudência
Segundo o comandante do Grupo Rodoviário (GRv) de Farroupilha, sargento Marcelo de Moraes Stassak, são vários os fatores que tornam o trecho um dos campeões em vítimas fatais entre os 400 quilômetros de estradas da região fiscalizadas pelo grupamento. Conforme o comandante, a maioria dos acidentes acontece pela imprudência dos condutores que ignoram o fato de a estrada ser sinuosa e com declive acentuado. Além disso, a autoconfiança dos motoristas e o excesso de peso na carga transformam os 5 quilômetros na descida da Serra num verdadeiro pesadelo. “Quando chegam ao fim do trecho o freio não responde mais”, destaca Stassak, acrescentando ainda que “há uma descrença grande dos motoristas, pois imaginam que os acidentes só acontecem com os outros”.


Motorista sobreviveu em ocorrência de 2005

Apesar da gravidade dos inúmeros acidentes registrados no pequeno trecho da rodovia, por incrível que pareça milagres acontecem na ERS-122. O motorista catarinense Sebastião Martins Luciano, à época com 45 anos, escapou com vida e sem lesões graves de um acidente ocorrido no final da manhã do dia 20 de junho de 2005, no Km 108, em Flores da Cunha. Antes de descer o penhasco, o caminhão Mercedes-Benz, que seguia em direção a Antônio Prado, saiu do lado esquerdo da rodovia e andou cerca de 70 metros rasgando a rocha. Na sequência caiu no precipício de 150 metros de altura, parando dentro do Rio São Marcos.

Quando foi socorrido, o caminhoneiro estava sobre a cabine, quase toda submersa na água. “Só Deus pode ter salvado ele”, disse um dos colegas de profissão que passava pelo local enquanto a vítima era resgatada. Histórias como essa não são comuns de serem ouvidas, especialmente pela gravidade das inúmeras ocorrências na descida da Serra do Rio das Antas, um dos trechos mais perigosos da região, onde poucos conseguem sobreviver para contar a própria história.

20 de dezembro de 2010: morte de motorista após betoneira de concreto chocar-se contra paredão. - Arquivo O Florense
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