Geral

Apesar da crise que assombra a grande parcela dos brasileiros, associado a instabilidade econômica e ao alto índice de desemprego, o brasileiro vai se virando como pode para driblar as dificuldades e superar os entraves do dia-a-dia. As dificuldades de conseguir uma vaga de trabalho estão se transformando em outro negócio. De janeiro a 30 de junho deste ano Flores da Cunha contabilizou a abertura de 248 novas empresas, incluindo profissionais liberais, autônomos e Micro Empreendedores Individuais (MEIs), segundo dados do setor de Tributação da prefeitura florense. Do total de empresas abertas no primeiro semestre, 58,87% são MEIs, superando em 10% os números de 2017 na modalidade. O saldo dos primeiros seis meses de 2018 é de 1,37 empresa nova por dia. Esse percentual nos aponta que nascem a cada mês 40 novas empresas no município. Prestação de serviços foi o setor que mais cresceu com 159 novos negócios abertos, seguido pelo comércio com 49 e indústria com 18. Do total de empresas criadas neste ano, 131 foram extintas, restando um saldo positivo de 117. No ano passado, foram criadas 397, o que representa 1,08 nova empresa a cada dia, enquanto 190 tiveram as atividades encerradas. Caso se mantenha o crescimento verificado no primeiro semestre, chegaremos ao final do ano com 500 novas empresas abertas em Flores e um saldo positivo de 236.

De acordo com o agente administrativo do setor de Tributação da prefeitura municipal, Bruno Levis, muitos profissionais autônomos estão migrando para o empreendedorismo individual, aproveitando algumas vantagens que o MEI oferece, além da diminuição dos custos com a manutenção da empresa, que chega a 65%. Conforme o servidor municipal, as maiores baixas de registro, neste ano, foram justamente de profissionais autônomos, que passou de 110%. De 18 alvarás de autônomos expedidos pela prefeitura de janeiro a junho, 20 solicitaram baixa. Em 2017, foram 35 fechamentos para 25 novas aberturas. Segundo ele, estavam cadastradas e ativas até 30 de junho, 4.022, sendo 919 MEIs com alvará. No entanto, o número de empreendedores individuais, de acordo com o Portal do Empreendedor, é bem maior. Até o final do primeiro semestre havia 1.162 MEIs cadastrados. Considerando os dados do portal, Flores da Cunha tem um saldo de 4.265 empresas ativas. Os números sugerem que cerca de 16% da população florense possuiu algum tipo de empresa.

Para o consultor financeiro e professor de economia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Roque Zin, o cenário traçado pelas novas empresas no semestre projeta um crescimento de 10%. Por outro lado, ele destaca que nos primeiros seis meses do ano o encerramento de empresas foi superior ao de abertura. Se mantido esse índice, 2018 deverá fechar com um aumento de 23% de novos negócios, enquanto o encerramento de atividades empresariais deverá atingir 38%. De acordo com o professor, isso ocorre devido ao estoque antigo de empresas existentes.

Já o presidente do Centro Empresarial, Alessandro Cavagnolli, vê esse cenário como uma saída de pessoas que estão no mercado de trabalho ou estão procurando recolocação após terem sido demitidas. “Com isso acabam alçando um voo próprio”, destaca. Além disso, Cavagnolli aponta que está havendo uma adequação de outras empresas que estavam atuando na informalidade e agora buscam trabalhar de uma forma efetiva. “Esses dois cenários mostram que todo mundo está buscando uma saída para a crise, e ninguém quer ficar parado”, frisa. O empresário acrescenta ainda que, o setor de serviços se projeta como o mais forte na linha de crescimento em novas oportunidades de negócios, não apenas por meio das startups, mas por outros caminhos que se mostram grandes oportunidades de negócios para o futuro.

Analisar o mercado é fundamental

Há 13 anos atuando no mercado de manuais de instrução de máquinas para empresas, o empreendedor Tiago Araldi, 35 anos, analisou o mercado e abriu um novo negócio na área de chaves e afiações. “Sempre fiquei pensando em algo para fazer a mais. Quem tem espírito de empreendedor sempre está na busca de novos desafios”, assegura Araldi.

No início do ano, ele começou a pesquisar sobre o campo de atuação do novo empreendimento. Conversou com representantes, fornecedores e possíveis clientes, analisou se a área de atividade estava poluída ou escassa, além de iniciar estudos e capacitações para se qualificar. Com seu negócio aberto há 15 dias no município, ele já está tendo resultados que não imaginava. “Tive um investimento grande. Comprei equipamentos importados, além de todos os trâmites e impostos para abrir uma empresa. Mas com esse retorno que já estou tendo, tudo isso é muito satisfatório”, afirma o empresário.

“Eu sempre gostei de lidar com o público e com as empresas. Estou fazendo o cadastro com todas as seguradoras para também oferecer um serviço 24 horas de abertura de carros e casas, que em Flores da Cunha não tinha até o momento, além de cópias de chaves e afiações”, conta. Araldi ainda dá dicas para quem deseja abrir seu próprio negócio. “Analisar bastante o mercado, ter preços honestos e não abaixo da concorrência porque isso também é desleal, e estudar bastante porque vale muito a pena”, conclui.

Sensibilidade em servir

O setor da alimentação também inovou no município de Flores da Cunha. Desde o mês de maio, os chefs Willians Halles e Stefanie Francescato abriram uma proposta diferenciada no ramo da gastronomia, apostando na facilidade e na qualidade dos produtos. “Primeiramente tem que ter estrutura e organização, fazer um estudo do negócio que vai ser aberto, e ter uma trajetória dentro do ramo de atuação. A experiência é fundamental para o empreendimento dar certo”, salienta Stefanie. “As pessoas se envolvem no ramo de alimentação por acharem que é mais fácil, por ser um produto básico, mas em função de não ter a experiência, a técnica e principalmente a gestão nessa área, acaba que o resultado não é o esperado”, completa Halles.

Os sócios já abriram outros dois empreendimentos anteriormente, no Rio de Janeiro e em Brasília, e agora optaram por Flores por perceberem a carência de uma alimentação a nível gourmet. “Tínhamos uma pesquisa de mais de dois anos sobre o produto e o que ainda tinha uma lacuna no comércio da região em relação a ter uma empresa que contemplasse uma linha tão completa de produtos”, diz a chef. De acordo com os proprietários, o intuito é atender toda a Serra Gaúcha, mas estão com cautela para avançar, até porque, para eles, é um desafio encontrar mão de obra técnica para auxiliar.

“Nosso negócio vem a favor desse novo estilo de vida das pessoas e da nova configuração de família. 90% dos nossos clientes são casais jovens. Mas tudo isso não foi à toa, foi pensado”, ressalta Stefanie. O casal ainda destaca que o cliente é a peça fundamental da empresa funcionar ou não. “Ele percebe que a empresa é tão útil pra vida deles que eles querem que dê certo. Precisamos nos adaptar as necessidades do cliente e não doutriná-lo. É preciso ser flexível, ter uma sensibilidade em servir”, complementam.