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Mais benefícios do suco de uva ao organismo

Pesquisa inédita no país, coordenada pela florense Caroline Dani, comprova que ingestão diária ajuda na proteção do neurossistema

Coordenada pela florense Caroline Dani, doutora em Biotecnologia, e pela doutora em Bioquímica Cláudia Funchal, uma pesquisa iniciada em 2010 no Instituto Universitário Metodista IPA, de Porto Alegre, revelou recentemente resultados surpreendentes que comprovam os benefícios do suco de uva tinto ao neurossistema. O trabalho utilizou ratos que receberam uma dieta hiper-lipídica, com 60% de gordura, durante três meses. Divididos em dois grupos, eles tiveram água e suco de uva tinto integral introduzidos à dieta. Ao final do tratamento, os que tinham ingerido a bebida tiveram um ganho de peso inferior aos que receberam água. Isso teria acontecido porque os animais tratavam o suco como um alimento e consumiam menos ração.

Além do peso menor, as pesquisadoras observaram uma redução de gordura abdominal nos animais que consumiram suco de uva. “Esse foi outro aspecto muito importante, pois esse excesso é considerado um fator de risco às doenças cardiovasculares. Percebemos que os animais que recebiam suco apresentavam um percentual de gordura menor do que os que tomavam água”, explica Caroline. A biomédica também expõe que foi observado um percentual menor de gordura nas vísceras dos roedores que receberam o produto à base de uva. “Fizemos análises que mostraram que aqueles que tinham livre acesso ao suco apresentavam menor quantidade de gotículas de gordura no fígado. Então, evidenciamos que as pessoas obesas e os alcoólicos, que normalmente apresentam a doença hepática, teriam maior proteção se consumissem o suco”, complementa a doutora florense.

Conforme Caroline, um dos focos principais do trabalho são as crianças que, nos dias de hoje, ingerem alta quantidade de gorduras, açúcares e fast foods. “Conhecemos muito os benefícios do vinho. Todavia, é uma bebida alcoólica e não pode ser utilizada por crianças ou idosos, por exemplo. Por isso, o foco desse trabalho é justamente esses grupos. Acreditamos que se o suco de uva pudesse ser inserido na dieta, conseguiríamos ter um benefício maior do ponto de vista fisiológico do organismo”, sustenta a especialista, que defende o aumento do consumo da bebida.

Caroline explica que a pesquisa revelou que o consumo de suco de uva não causa aumento de peso, desde que a ingestão faça parte da dieta, ou seja, as calorias da bebida devem ser contabilizadas. “Entre as alternativas existentes, está comprovado cientificamente que o suco de uva é a melhor opção, seja para crianças, adultos ou idosos. É uma bebida que não oferece nenhum tipo de malefício, desde que exista uma ingestão consciente dentro do balanço energético”, afirma. O recomendado é que uma pessoa de 70 quilos consuma cerca de 500 mililitros de suco integral por dia, aproximadamente dois copos, em uma das principais refeições.

Origens da pesquisa
Estudos realizados desde 2004 deram origem a essa recente pesquisa. Carolina destaca que os trabalhos anteriores comprovaram que a ingestão diária de suco de uva, que combina flavonóides e polifenóis, compostos químicos encontrados na casca da fruta, protege o sistema nervoso central dos danos causados pelo envelhecimento. “É uma ação neuroprotetora muito importante para doenças neurodegenerativas como Alzheimer e esclerose, por exemplo, que estão associadas aos radicais livres.” Em 2011, baseado nas pesquisas brasileiras, um grupo de pesquisadores americanos estudou e testou em humanos o suco de uva. O trabalho fez um comparativo entre dois grupos. Os indivíduos que beberam o produto à base de uva apresentaram melhores índices de memória do que os que receberam placebo (bebida artificial).

Em seus estudos, Caroline também pôde observar a ação benéfica da bebida ao coração. O suco seria capaz de inibir a oxidação do LDL, o colesterol ruim. Quando oxidada, essa molécula nociva tem ainda mais facilidade para se depositar nas artérias até obstruí-las, provocando um infarto ou, se o acidente acontecer no cérebro, um derrame.

Suco de uvas brancas
A pesquisadora florense participa nesta semana de um congresso em Londres (Inglaterra), onde falará sobre as descobertas relacionadas ao suco de uva. Em outubro o grupo brasileiro irá apresentar os resultados do trabalho sobre a atividade neuroprotetora do suco de uva tinta no Neuroscience, considerado o mais importante evento de neurociência do mundo, realizado nos Estados Unidos. Além disso, pela primeira vez Caroline Dani irá expor seus estudos relacionados à atividade neuroprotetora e antioxidante do suco de uva branca. O passo seguinte será a realização de testes laboratoriais com a variedade branca, a exemplo do que já foi feito com a tinta.

Entre as pesquisas realizadas pelo IPA está o desenvolvimento de extratos de folhas de videiras. A pesquisadora explica que animais foram submetidos ao tratamento com a substância, que apresentou características antioxidantes e cardioprotetoras. “A ideia não é tornar essa descoberta um produto comercial, mas sim divulgar a descoberta para que as pessoas possam fazer infusões caseiras para uso doméstico. Esse tipo de extrato é muito utilizado na Europa, mas aqui ainda é inédito”, pontua a biomédica.

Suco com mais polpa ou néctar de uva
O suco de uva produzido no Brasil terá de conter, no mínimo, 50% de polpa ou néctar da fruta. A determinação foi encaminhada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no dia 31 de agosto. Desde então, produtores e empresários têm 180 dias para se adequarem à Instrução Normativa 24. Até então, néctar de uva deveria conter pelo menos 30% de suco ou polpa da fruta.

De acordo com o Mapa, a determinação surgiu porque o Decreto 99.066/1990 exige que os derivados da uva e do vinho tenham necessariamente 50% ou mais daquelas matérias-primas e não cita especificamente o caso do néctar. De acordo com a legislação, suco ou sumo de fruta deve ser bebida não fermentada, não diluída e não concentrada, feita à base da fruta madura, submetida a condições adequadas de conservação até o momento do consumo. Na fabricação do néctar, a fruta é diluída em água potável, com adição de açúcar.

Os outros tipos são: 100% integral (uvas puras, sem adição de água ou açúcar); suco 100% (sem corantes nem aromatizantes, podendo ser adoçado ou reconstituído com água); bebida ou refresco (com até 30% de fruta, diluído em água, adoçado, colorido e aromatizado artificialmente); néctar (de uva, agora, a partir de 50% de fruta, diluído em água e adoçado); e em pó (que pode não conter uva em sua composição).

Segundo o Mapa, a produção de uvas no país ocupa 81 mil hectares (4.800 hectares em Flores da Cunha e 1.400 em Nova Pádua). A maior produção está no Rio Grande do Sul (777 milhões de quilos), onde são elaborados 330 milhões de litros de vinhos e mostos por ano (sumo de uvas frescas que ainda não tenham passado pelo processo de fermentação).

Outras duas medidas do governo federal são aguardadas pelos vitivinicultores para favorecer o setor: a concessão de um crédito presumido para as empresas exportadoras de suco e a retomada da redução de 50% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aos fabricantes de refrigerante, refresco e extrato concentrado para elaboração de refrigerante que contenham suco de frutas ou extrato de sementes de guaraná em sua composição (este benefício foi extinto e estaria prejudicando a indústria do suco de uva, que sofre com altos estoques armazenados).

Caroline Dani é doutora em biotecnologia. - Arquivo O Florense
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