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Maio amarelo: um mês de conscientização que pode salvar vidas

Flores da Cunha registra em média 14 acidentes por mês entre a ERS-122 e a área urbana

Dia 28 de abril. Para uns, um dia qualquer. Para Elisete Salvador Otobelli, a data marca o renascimento de uma vida. 
O ano é 2018, em uma propriedade particular na localidade da Restinga, interior de Flores da Cunha. O grupo Escoteiros Alberto Mattioni estava em atividade conjunta dos ramos pioneiro e sênior. A professora da Escola São Rafael e mestre pioneira da equipe dos escoteiros, Elisete, estava a pé, e em deslocamento, quando percebeu que havia esquecido um material para a atividade. Para facilitar seu retorno, pediu carona para um motorista que trafegava pela via em um carreto agrícola, conhecido como tuque-tuque. Na cabine do carreto estava o marido e a mulher, na parte de trás as filhas gêmeas do casal e, mais atrás, um dos escoteiros e Elisete. “Ao chegar no alto de um morro, o carreto não venceu a subida e começou a voltar de ré. Eram duas opções, cair na ribanceira ou jogar o automóvel contra a lateral da estrada”, relembra. A última opção foi exatamente o que o motorista fez. De todos os envolvidos nos acidentes, Elisete foi a que menos teve sorte. 
O instinto maternal da professora falou mais alto e a sua primeira ação foi abraçar as filhas gêmeas do casal enquanto o carreto tombava. Ao tombar, o carreto rolou e esmagou o seu abdômen fraturando 13 costelas, perfurando os dois pulmões e tendo que ter o seu baço retirado após ser esmigalhado no acidente. “Por sorte eu não fiquei presa embaixo”. 
“Por se tratar de um local afastado e de pouco acesso, foi difícil conseguir o contato com a emergência na cidade, e o primeiro atendimento foi prestado no local mesmo por quem estava próximo”. Com dificuldades para respirar, ela foi colocada em uma tábua, estabilizada e, após algumas horas, resgatada pelos socorristas. 
No hospital veio a constatação: o estado de saúde era grave. Correntes de orações foram feitas na época pedindo pela vida da professora. Depois de algum tempo, Elisete se recuperou e superou o susto. “Tem coisas que não se pode explicar. Eu poderia ter pulado? Poderia. Talvez. O que serve de lição é que a gente pense bem antes de qualquer ação”, comenta Elisete relembrando o acidente.

Maio Amarelo, o mês do respeito e da responsabilidade no trânsito

O mês de maio é inteiramente dedicado a campanhas de valorização da vida e da humanização no trânsito. O Maio Amarelo foi criado em 2014 pelo Observatório Nacional de Segurança Viária. Desde lá, anualmente campanhas são realizadas. Neste ano o tema é ‘Maio Amarelo – respeito e reponsabilidade: pratique no trânsito’.
Em Flores da Cunha, os números de acidentes na área urbana da cidade são razoáveis, em 2020 foram 89 acidentes registrados pelo 36º Batalhão de Polícia Militar de Flores da Cunha. Já em 2021, de janeiro a abril, a média é de 6,5 acidentes por mês – ao todo foram 26 acidentes. “A maioria dos acidentes estão atrelados a negligência, imprudência e imperícia dos motoristas. Aqui na cidade, a boa sinalização, a melhoria do tráfego viário e a fiscalização tem contribuído muito para a redução das ocorrências”, afirma o capitão da Brigada Militar, Daniel Tonatto.
Já nas rodovias, os números estão um pouco acima. Na ERS-122, entre os km 80 e 110, nas imediações de Flores da Cunha à Antônio Prado, aconteceram 31 acidentes, 25 pessoas feridas, uma morte e 55 carros envolvidos desde 1º de janeiro à 1º de maio.

Além dos números
Sem dúvida, as campanhas de conscientização são importantes, pois alertam para o grande número de casos que poderiam ser minimizados se as pessoas tomassem cuidado, principalmente em relação a imprudência, uso de álcool, excesso de velocidade e ansiedade no trânsito.
Segundo a psicóloga Virgínia Toni Felippetti, muito do que acontece no trânsito tem a ver com a personalidade de cada um, com os traços de personalidade, “por isso os exames psicotécnicos e toxicológicos são tão importantes. É claro que atrelado a tudo isso vem o estresse com o desemprego, o confinamento e o distanciamento gerado pela pandemia, entre outros, contribuindo para o aumento dos níveis de ansiedade da população em geral”, relata Virgínia.
Mostrar que a vida vale a pena e irresponsabilidades podem comprometer o rumo das coisas é a incumbência central das campanhas. Apenas divulgar os números e os fatos, parece não surtir mais efeito e não passam mais a mensagem para a população, por isso, ir além dos indicadores se faz necessário.
Mais do que estatísticas para comprovar a queda ou crescimento de tragédias e intemperes, o mais importante é dar vida as ações e priorizar estar bem. “As pessoas acabam se acostumando em ver apenas os números, esquecem que por traz de cada acidente, cada morte, existe uma família, uma história que duramente pode ser afetada”, conclui a psicóloga.

Entre carros e fora da faixa de segurança, o desrespeito com as normas de segurança é visto diariamente. - Bernardo Barcellos
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