Luz, câmera... Cadê o cinema?
Há mais 10 anos Flores da Cunha produz curtas-metragens, mas não tem uma sala para exibição de suas produções
Era uma vez uma pequena cidade do interior que todos os anos reunia seus equipamentos cinematográficos, percorria as ruas filmando e produzia inúmeros documentários. Porém, depois de tudo pronto, não havia como assistir às produções, pois a pequena cidade não tinha cinema... Até parece início de filme, mas é real. No ano de 2007, o Astro – Festival de Cinema Estudantil proferiu uma frase emblemática: “Flores não tem cinema, Flores faz cinema”. Isso mesmo. Há mais de 10 anos o município realiza a produção de curtas-metragens e há quatro anos mantém o Núcleo de Produção Audiovisual (NPAV) – Espaço Maria Della Costa. Nesse período, os estudantes do ensino médio já realizaram 177 vídeos, o Núcleo produziu uma série composta por 12 curtas-metragens, foram distribuídas mais de 300 estatuetas no Astro e um prêmio internacional foi ganho com uma produção local. Entretanto, na terra de Flores, não há cinema, e os vídeos locais não têm uma sala específica para suas exibições.
As produções do Astro são mostradas no salão paroquial; os curtas-metragens da série Vindima da Imagem, produzida pelo NPAV, foram apresentados em festivais de cinema e percorreram o interior numa mostra itinerante; os filmes alternativos e documentários regionais trazidos por meio do projeto ‘Cinema Mais Perto de Você’, da prefeitura, são exibidos no Espaço Cultural São José; e as sessões comerciais ficam restritas a outras cidades. “Acredito que Flores precisaria de uma sala de cinema para filmes alternativos, que pudesse contar com sessões de longas produzidos na região e no Brasil.
Qualidade de som, isolamento acústico e uma boa reprodução audiovisual são essenciais para uma sala de cinema”, afirma a presidente da Associação dos Produtores de Arte e Cultura de Flores da Cunha (Apac), Shamila Carpeggiani.
Para o produtor audiovisual e diretor do documentário O País da Cocanha, produzido em Flores e que neste ano recebeu o Prêmio Absoluto do Concorso Memorie Migranti, na Itália, Juliano Carpeggiani, o Espaço Cultural São José abriga a demanda de público, mas não tem estrutura para exibições. “O local em si não tem condições técnicas necessárias para fazer uma sessão de qualidade, como tamanho de tela, tipo de projetor, equipamento de som. O que tem lá é muito defasado e precário”, diz Carpeggiani, que atualmente trabalha na produção do curta Lá Longe, que integra o projeto Histórias Curtas da RBS TV.
O crescimento do Astro – Festival de Cinema Estudantil, que neste ano chegou a sua 13ª edição e que anualmente atrai cerca de 3 mil pessoas durante os dias de exibição dos vídeos, é outro ponto que precisa ser levado em conta. “Ele já acontece há anos e vem demonstrando como Flores pode crescer nesta área de cinema. Se formos avaliar, toda a cidade se envolve de alguma forma e a cada ano aparecem mais estudantes desejando fazer parte deste acontecimento”, argumenta a presidente do Grêmio Estudantil São Rafael, Giane Alves Bertin.
Cinema às escuras...
Os tempos áureos dos cinemas de rua se foram. Com a popularização, nos anos de 1990, dos shoppings centers, os cinemas migraram para suas dependências. Começava uma nova era e, hoje, no mesmo local, funcionam várias salas com diversas opções de filmes. É por isso que atualmente Flores, que já teve cinema, não teria condições de manter um. Para se ter uma ideia, o diretor da rede GNC Cinemas, Hormar Castello Junior, explica que diversos critérios são adotados para a implantação de uma sala de cinema. “População da cidade, tradição do mercado local, potencialidade da região são alguns dos quesitos que consideramos para nosso processo de tomada decisão”, enumera.
Se um cinema é inviável, uma sala para exibições seria possível e teria o apoio da Apac. “Aproveitaríamos muito bem o espaço, pois há tempo idealizamos um projeto de sessões de cinema alternativo com exibições mensais na cidade. Uma sala com capacidade para 200 cadeiras, de menor porte, a exemplo da Sala de Cinema Ulysses Geremia, do Ordovás, e que poderia comportar sessões alternativas dos filmes do Astro, já que o maior público na semana de exibição é formado pelos próprios estudantes”, pontua Shamila. Da mesma opinião compartilha o produtor audiovisual Juliano Carpeggiani: “Uma obra pequena seria o suficiente. Algo mais modesto que o UCS Teatro, que comportasse plateias alta e baixa e o mezanino resolveria a demanda de atender um público menor ou maior”.
De acordo com o coordenador da Sala de Cinema Ulysses Geremia, localizada junto ao Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, em Caxias do Sul, Conrado Heoli, o espaço comporta 100 lugares e sua proposta é valorizar a apresentação de filmes alternativos, sobretudo europeus, latinos e brasileiros que normalmente não estão no circuito comercial. Implantada em 2001, promove sessões a preços populares ou mesmo, gratuitas. “Acredito que temos de pensar muito mais em espaços de cinema ou de exibições audiovisuais voltadas para a cultura do que questionar porque não temos salas comerciais de cinema”, aponta a dirigente de Cultura da prefeitura florense, Taísa Verdi.
... luz no fim do túnel
Se até Harry Potter conseguiu se salvar das garras de Lord Voldemort, o cinema de Flores também tem esperanças. Segundo o secretário de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito, Paulo Ribeiro, um projeto para a construção da Casa da Cultura está quase concluído. Baseado na estrutura do Teatro Ciee de Porto Alegre, o espaço abrigaria cerca de 400 pessoas com direito a telão para exibição de produções, mezanino e salas de apoio. “A ideia é um espaço multifuncional, que também contemplaria a projeção de vídeos, ainda mais que temos o Astro, o que consolidaria ainda mais o evento”, diz Ribeiro. A edificação da Casa da Cultura seria custeada por uma emenda parlamentar de R$ 900 mil.
Outra proposta que já está em prática e visa criar condições de acesso ao cinema é o projeto mensal ‘Cinema Mais Perto de Você’, promovido pelo Departamento de Cultura da Secretaria de Educação. Conforme a dirigente de Cultura, Taísa Verdi, o projeto é desenvolvido desde o mês de maio e exibiu quatro filmes. “São longas e documentários que têm relação com a nossa história e cultura e que proporcionam, além da exibição da obra, uma aproximação com os produtores”, explica Taísa.
A previsão é de trazer novas exibições para os próximos meses, sempre com sessões gratuitas. “Essa é uma grande iniciativa, pois está criando a demanda para que tenhamos um centro cultural mais apropriado”, aponta Juliano Carpeggiani.
Entretanto, se o projeto ‘Cinema Mais Perto de Você’ está a pleno vapor, a construção da Casa da Cultura não tem previsão de data. Desse jeito, a estudante Kemily Moresco Meert, 11 anos, que hoje ouve as histórias da avó sobre o antigo cinema florense, vai ter que continuar indo assistir filmes em Caxias do Sul. “Se tivesse em Flores eu não deixaria de ir nenhuma semana”, afirma ela. The End.
Mas... Nem sempre foi assim
Houve um tempo em que a população florense vivia no cinema. “Eu ia toda a semana com os meus amigos. O cinema era a grande diversão da cidade”, lembra a aposentada Iracema Moresco. Aos 77 anos, ela guarda com carinho as recordações do velho Cinema Central, que ficava na rua Borges de Medeiros, em frente à Praça da Bandeira, onde hoje está o Bradesco. Foi ali que por volta de 1910 ergueu-se um barracão de madeira para acomodar as primeiras e primitivas projeções. Por meio da ‘Lanterna Mágica’, os florenses acompanhavam a exibição de pequenas figuras em movimento.
Uma caixa cilíndrica iluminada por uma vela projetava as imagens que eram desenhadas em uma lâmina de vidro. Na década de 1920 o cenário mudou e a chegada da energia elétrica, que era fornecida ao cinema por um pequeno motor, permitiu a exibição dos primeiros filmes mudos. Eles eram trazidos de Caxias do Sul a cavalo e projetados somente nos sábados e nos domingos. “A sessão da noite era anunciada com o estouro de foguetes”, escreveu Claudino Antonio Boscatto no livro Memórias de um Neto de Imigrantes Italianos: pioneiros de Nova Trento.
Mas foi por volta de 1940 que as grandes mudanças aconteceram. O barracão de madeira foi demolido e um prédio em alvenaria construído em seu lugar. A nova sala de cinema tinha capacidade para 500 pessoas. As cadeiras de palhas foram substituídas por poltronas de madeira. O cinema era comandado por Orestes Pradella, que o comprou da sociedade Pró Trento, em 1949. Pradella manteve-o até 1969, ano em que o vendeu para Hilário Sgarioni. Nessa época, novas reformas foram feitas e foram instalados camarotes laterais, cortina vermelha aveludada e poltronas estofadas.
De acordo com o livro Cinemas: Lembranças, de Kenia Maria Menegotto Pozenato e Loraine Slomp Giron, as chamadas para as sessões eram feitas por meio de uma sirene, que podia ser ouvida em toda a cidade. A abertura de cada sessão era realizada com a música O Silêncio. “Os cartazes para divulgação dos filmes eram afixados nos postes das ruas centrais, sobretudo em frente à estação rodoviária”, escreveram Kenia e Loraine.
O Cinema Central constituía o ponto principal da cidade. Era também o lugar de encontro de muitos jovens, nem sempre interessados apenas em assistir aos filmes, mas à procura de diversão. “Comecei a frequentar quando tinha 14 anos e adorava. Íamos nas quartas, nos sábados e nos domingos. Brincávamos muito lá dentro e no inverno levávamos vermute para se esquentar, além, claro, dos namoros”, conta Iracema. As paqueras eram um dos pontos chaves. Conforme as escritoras Kenia e Loraine, na época em que havia uma única máquina de projeção, na hora da troca do rolo era feita uma pausa de dois a três minutos para colocar o segundo rolo. “Os namorados ficavam abraçados e quando a luz se acendia, os pares de afastavam”. “Comecei a namorar meu primeiro namorado no cinema. Com o meu marido também ia muito”, destaca Iracema, que gostava de assistir aos filmes de Teixeirinha e hoje frequenta, raramente, os cinemas de Caxias do Sul.
O Cinema Central fechou suas portas por volta de 1988 devido a problemas financeiros. A última sessão ocorreu num domingo com o filme O Dia Seguinte. Na segunda-feira, às 8h da manhã, os operários iniciaram a demolição do prédio. E a cidade ficou sem cinema.
As produções do Astro são mostradas no salão paroquial; os curtas-metragens da série Vindima da Imagem, produzida pelo NPAV, foram apresentados em festivais de cinema e percorreram o interior numa mostra itinerante; os filmes alternativos e documentários regionais trazidos por meio do projeto ‘Cinema Mais Perto de Você’, da prefeitura, são exibidos no Espaço Cultural São José; e as sessões comerciais ficam restritas a outras cidades. “Acredito que Flores precisaria de uma sala de cinema para filmes alternativos, que pudesse contar com sessões de longas produzidos na região e no Brasil.
Qualidade de som, isolamento acústico e uma boa reprodução audiovisual são essenciais para uma sala de cinema”, afirma a presidente da Associação dos Produtores de Arte e Cultura de Flores da Cunha (Apac), Shamila Carpeggiani.
Para o produtor audiovisual e diretor do documentário O País da Cocanha, produzido em Flores e que neste ano recebeu o Prêmio Absoluto do Concorso Memorie Migranti, na Itália, Juliano Carpeggiani, o Espaço Cultural São José abriga a demanda de público, mas não tem estrutura para exibições. “O local em si não tem condições técnicas necessárias para fazer uma sessão de qualidade, como tamanho de tela, tipo de projetor, equipamento de som. O que tem lá é muito defasado e precário”, diz Carpeggiani, que atualmente trabalha na produção do curta Lá Longe, que integra o projeto Histórias Curtas da RBS TV.
O crescimento do Astro – Festival de Cinema Estudantil, que neste ano chegou a sua 13ª edição e que anualmente atrai cerca de 3 mil pessoas durante os dias de exibição dos vídeos, é outro ponto que precisa ser levado em conta. “Ele já acontece há anos e vem demonstrando como Flores pode crescer nesta área de cinema. Se formos avaliar, toda a cidade se envolve de alguma forma e a cada ano aparecem mais estudantes desejando fazer parte deste acontecimento”, argumenta a presidente do Grêmio Estudantil São Rafael, Giane Alves Bertin.
Cinema às escuras...
Os tempos áureos dos cinemas de rua se foram. Com a popularização, nos anos de 1990, dos shoppings centers, os cinemas migraram para suas dependências. Começava uma nova era e, hoje, no mesmo local, funcionam várias salas com diversas opções de filmes. É por isso que atualmente Flores, que já teve cinema, não teria condições de manter um. Para se ter uma ideia, o diretor da rede GNC Cinemas, Hormar Castello Junior, explica que diversos critérios são adotados para a implantação de uma sala de cinema. “População da cidade, tradição do mercado local, potencialidade da região são alguns dos quesitos que consideramos para nosso processo de tomada decisão”, enumera.
Se um cinema é inviável, uma sala para exibições seria possível e teria o apoio da Apac. “Aproveitaríamos muito bem o espaço, pois há tempo idealizamos um projeto de sessões de cinema alternativo com exibições mensais na cidade. Uma sala com capacidade para 200 cadeiras, de menor porte, a exemplo da Sala de Cinema Ulysses Geremia, do Ordovás, e que poderia comportar sessões alternativas dos filmes do Astro, já que o maior público na semana de exibição é formado pelos próprios estudantes”, pontua Shamila. Da mesma opinião compartilha o produtor audiovisual Juliano Carpeggiani: “Uma obra pequena seria o suficiente. Algo mais modesto que o UCS Teatro, que comportasse plateias alta e baixa e o mezanino resolveria a demanda de atender um público menor ou maior”.
De acordo com o coordenador da Sala de Cinema Ulysses Geremia, localizada junto ao Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, em Caxias do Sul, Conrado Heoli, o espaço comporta 100 lugares e sua proposta é valorizar a apresentação de filmes alternativos, sobretudo europeus, latinos e brasileiros que normalmente não estão no circuito comercial. Implantada em 2001, promove sessões a preços populares ou mesmo, gratuitas. “Acredito que temos de pensar muito mais em espaços de cinema ou de exibições audiovisuais voltadas para a cultura do que questionar porque não temos salas comerciais de cinema”, aponta a dirigente de Cultura da prefeitura florense, Taísa Verdi.
... luz no fim do túnel
Se até Harry Potter conseguiu se salvar das garras de Lord Voldemort, o cinema de Flores também tem esperanças. Segundo o secretário de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito, Paulo Ribeiro, um projeto para a construção da Casa da Cultura está quase concluído. Baseado na estrutura do Teatro Ciee de Porto Alegre, o espaço abrigaria cerca de 400 pessoas com direito a telão para exibição de produções, mezanino e salas de apoio. “A ideia é um espaço multifuncional, que também contemplaria a projeção de vídeos, ainda mais que temos o Astro, o que consolidaria ainda mais o evento”, diz Ribeiro. A edificação da Casa da Cultura seria custeada por uma emenda parlamentar de R$ 900 mil.
Outra proposta que já está em prática e visa criar condições de acesso ao cinema é o projeto mensal ‘Cinema Mais Perto de Você’, promovido pelo Departamento de Cultura da Secretaria de Educação. Conforme a dirigente de Cultura, Taísa Verdi, o projeto é desenvolvido desde o mês de maio e exibiu quatro filmes. “São longas e documentários que têm relação com a nossa história e cultura e que proporcionam, além da exibição da obra, uma aproximação com os produtores”, explica Taísa.
A previsão é de trazer novas exibições para os próximos meses, sempre com sessões gratuitas. “Essa é uma grande iniciativa, pois está criando a demanda para que tenhamos um centro cultural mais apropriado”, aponta Juliano Carpeggiani.
Entretanto, se o projeto ‘Cinema Mais Perto de Você’ está a pleno vapor, a construção da Casa da Cultura não tem previsão de data. Desse jeito, a estudante Kemily Moresco Meert, 11 anos, que hoje ouve as histórias da avó sobre o antigo cinema florense, vai ter que continuar indo assistir filmes em Caxias do Sul. “Se tivesse em Flores eu não deixaria de ir nenhuma semana”, afirma ela. The End.
Mas... Nem sempre foi assim
Houve um tempo em que a população florense vivia no cinema. “Eu ia toda a semana com os meus amigos. O cinema era a grande diversão da cidade”, lembra a aposentada Iracema Moresco. Aos 77 anos, ela guarda com carinho as recordações do velho Cinema Central, que ficava na rua Borges de Medeiros, em frente à Praça da Bandeira, onde hoje está o Bradesco. Foi ali que por volta de 1910 ergueu-se um barracão de madeira para acomodar as primeiras e primitivas projeções. Por meio da ‘Lanterna Mágica’, os florenses acompanhavam a exibição de pequenas figuras em movimento.
Uma caixa cilíndrica iluminada por uma vela projetava as imagens que eram desenhadas em uma lâmina de vidro. Na década de 1920 o cenário mudou e a chegada da energia elétrica, que era fornecida ao cinema por um pequeno motor, permitiu a exibição dos primeiros filmes mudos. Eles eram trazidos de Caxias do Sul a cavalo e projetados somente nos sábados e nos domingos. “A sessão da noite era anunciada com o estouro de foguetes”, escreveu Claudino Antonio Boscatto no livro Memórias de um Neto de Imigrantes Italianos: pioneiros de Nova Trento.
Mas foi por volta de 1940 que as grandes mudanças aconteceram. O barracão de madeira foi demolido e um prédio em alvenaria construído em seu lugar. A nova sala de cinema tinha capacidade para 500 pessoas. As cadeiras de palhas foram substituídas por poltronas de madeira. O cinema era comandado por Orestes Pradella, que o comprou da sociedade Pró Trento, em 1949. Pradella manteve-o até 1969, ano em que o vendeu para Hilário Sgarioni. Nessa época, novas reformas foram feitas e foram instalados camarotes laterais, cortina vermelha aveludada e poltronas estofadas.
De acordo com o livro Cinemas: Lembranças, de Kenia Maria Menegotto Pozenato e Loraine Slomp Giron, as chamadas para as sessões eram feitas por meio de uma sirene, que podia ser ouvida em toda a cidade. A abertura de cada sessão era realizada com a música O Silêncio. “Os cartazes para divulgação dos filmes eram afixados nos postes das ruas centrais, sobretudo em frente à estação rodoviária”, escreveram Kenia e Loraine.
O Cinema Central constituía o ponto principal da cidade. Era também o lugar de encontro de muitos jovens, nem sempre interessados apenas em assistir aos filmes, mas à procura de diversão. “Comecei a frequentar quando tinha 14 anos e adorava. Íamos nas quartas, nos sábados e nos domingos. Brincávamos muito lá dentro e no inverno levávamos vermute para se esquentar, além, claro, dos namoros”, conta Iracema. As paqueras eram um dos pontos chaves. Conforme as escritoras Kenia e Loraine, na época em que havia uma única máquina de projeção, na hora da troca do rolo era feita uma pausa de dois a três minutos para colocar o segundo rolo. “Os namorados ficavam abraçados e quando a luz se acendia, os pares de afastavam”. “Comecei a namorar meu primeiro namorado no cinema. Com o meu marido também ia muito”, destaca Iracema, que gostava de assistir aos filmes de Teixeirinha e hoje frequenta, raramente, os cinemas de Caxias do Sul.
O Cinema Central fechou suas portas por volta de 1988 devido a problemas financeiros. A última sessão ocorreu num domingo com o filme O Dia Seguinte. Na segunda-feira, às 8h da manhã, os operários iniciaram a demolição do prédio. E a cidade ficou sem cinema.
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