Liberdade virtual ultrapassa grades da cadeia
Preso por homicídio em Flores da Cunha, jovem se comunica por redes sociais de dentro da Penitenciária do Apanhador
A Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) de Caxias do Sul investiga um preso de 20 anos que atualizou sua página no Facebook de dentro da Penitenciária Regional de Caxias do Sul, na localidade de Apanhador, contrariando as normas de segurança nos presídios gaúchos. As postagens foram feitas entre 4 de dezembro de 2013 e 24 de janeiro deste ano, conforme apurou a reportagem d’O Florense. As mensagens estão na página do jovem preso por homicídio em Flores da Cunha no final de novembro do ano passado.
O detido ‘iniciou’ na rede social uma semana após ser recolhido à cadeia e desde então se comunicava livremente com o mundo externo. Amigos do acusado interagem com ele e mandam recados pelo Facebook e pelo Twitter. As postagens eram constantes e feitas por telefone celular, provando que aparelhos chegam ao interior dos presídios, de onde são operados e mantêm os presos conectados com as pessoas do lado de fora.
Conforme a titular da Delegacia de Polícia de Flores da Cunha, delegada Aline Martinelli, após a descoberta, a casa prisional foi contatada para informar sobre o caso, e o detento deverá responder pelo delito – conforme a Lei de Execuções Penais, a falta é grave, podendo ainda o preso regredir no regime prisional.
De acordo com o diretor interino da Penitenciária Regional, Marco Antônio da Silva, após a denúncia houve revista na cela onde estava o apenado, e o telefone celular foi apreendido. Além disso, a ocorrência foi registrada na Polícia Civil, que deverá apurar o crime. “Sempre que há denúncias ou informações de alguma irregularidade é feita revista”, frisa o diretor.
De acordo com a delegada, na maioria das vezes os equipamentos ingressam nas cadeias por meio de familiares, dentro de alimentos ou escondidos nas partes íntimas. E, em alguns casos, os detentos contam com a ajuda de funcionários do sistema prisional. Para o diretor Marco Antônio, apesar do rigor na revista dos visitantes, “os presos tentam cada vez mais burlar a fiscalização, e estão sempre aprimorando maneiras de agir, exigindo nosso constante aperfeiçoamento”. Silva destaca que em vez do celular os presos têm acesso a chips, e um único aparelho pode ser usado por vários apenados. “Hoje um aparelho é usado por cerca de 50 presos, eles apenas trocam os chips”, conta. “E não é só isso que entra, mas também drogas”, complementa.
O caso de Apanhador
No seu perfil no Facebook o apenado de 20 anos comentou que faltavam poucos dias para ter liberdade, ou ficar na cadeia por muito tempo. “Além deu estar preso, nenhum problema! Ainda mais q quarta to no crime de novo!”, publicou no Twitter no dia 19 de janeiro. Pelo Facebook ele também chama a penitenciária de ‘faculdade’.
Detido desde 29 de novembro, ele passou da prisão temporária para a preventiva e é acusado, com outro rapaz de 23 anos, do assassinato de Lucas Franco de Souza, 23 anos, em 25 de novembro do ano passado, no interior de Flores da Cunha. O corpo de Souza foi encontrado no porta-malas de um Voyage na manhã seguinte ao crime, próximo à localidade de Santa Bárbara. De acordo com a delegada Aline Martinelli, em depoimento à polícia o suspeito negou o crime. Mas o inquérito policial encaminhado ao Poder Judiciário mês passado o indicia por homicídio simples.
Antes disso, dia 13 do mês passado, postou a seguinte mensagem: “Sou sujeito homem, todo erro tem uma consequencia! A meu teve, matei no peito! Logo to livre de novo!”. No dia 7: “Um dia eu eis de sair desse inferno, ai tua vida q irá se tornar um inferno!”. E em 6 de dezembro, uma semana após ser preso, questionado por amigos como estava, respondeu pelo Twitter: “To ótimo né! To em maiami”.
Reprodução Facebook/Divulgação
Apresar de presos e com restrições, detentos seguem na criminalidade
Mesmo que os responsáveis por casas prisionais na maioria das vezes não admitam publicamente, sabe-se que quem está atrás das grades não perdeu totalmente a liberdade. A lista de crimes cometidos por meio eletrônico e por telefone celular de dentro da cadeia é extensa e sua prática tem aumentado geometricamente com a universalização da internet, tida por muitos como um território livre, sem lei e sem punição. Crimes de extorsão, falsos sequestros, ofertas de empréstimos fáceis, sorteios e uma série de delitos são cometidos por presos, apesar de estarem recolhidos nas prisões.
De acordo com a delegada Aline Martinelli, da DP de Flores da Cunha, os criminosos ligam e extorquem até mesmo familiares. Há pouco mais de um ano e meio houve casos de florenses que, após terem veículos furtados ou roubados, foram extorquidos de dentro do presídio. Conforme a delegada, era uma quadrilha de estelionatários que agia na região e já havia sido presa por agentes da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) de Caxias do Sul.
Um dos suspeitos, de 33 anos, acabou indiciado por estelionato e por usar telefone celular sem autorização legal de dentro da Penitenciária Industrial de Caxias do Sul (Pics). Segundo Aline, ele tentou extorquir um comerciante da cidade pedindo um valor para devolver o veículo que havia sido furtado em Flores da Cunha. No entanto, a vítima foi orientada pela polícia a não entregar o dinheiro, enquanto que os agentes da Polícia Civil rastrearam a ligação e descobriram que partiu de dentro da Pics. Este foi o único caso descoberto à época, mas havia registros de outros semelhantes.
O esquema
Se passando por policial, o suspeito ligava para rádios da região que noticiavam furtos e roubos de veículos e solicitava informações sobre as vítimas dos furtos, placas dos veículos. Depois de obter as informações, ligava para os proprietários e pedia dinheiro para devolver o bem, que na verdade não estava com ele. O acusado contava com ajuda de um motoboy que buscava o dinheiro no local sugerido. O dinheiro era entregue a familiares do preso. Mesmo com o caso esclarecido, a delegada faz um alerta às pessoas: para que não paguem resgate de bem nenhum porque não há garantia de devolução, e que comuniquem a Polícia Civil, detalhando número de telefone e horário das chamadas para possível interceptação.
O detido ‘iniciou’ na rede social uma semana após ser recolhido à cadeia e desde então se comunicava livremente com o mundo externo. Amigos do acusado interagem com ele e mandam recados pelo Facebook e pelo Twitter. As postagens eram constantes e feitas por telefone celular, provando que aparelhos chegam ao interior dos presídios, de onde são operados e mantêm os presos conectados com as pessoas do lado de fora.
Conforme a titular da Delegacia de Polícia de Flores da Cunha, delegada Aline Martinelli, após a descoberta, a casa prisional foi contatada para informar sobre o caso, e o detento deverá responder pelo delito – conforme a Lei de Execuções Penais, a falta é grave, podendo ainda o preso regredir no regime prisional.
De acordo com o diretor interino da Penitenciária Regional, Marco Antônio da Silva, após a denúncia houve revista na cela onde estava o apenado, e o telefone celular foi apreendido. Além disso, a ocorrência foi registrada na Polícia Civil, que deverá apurar o crime. “Sempre que há denúncias ou informações de alguma irregularidade é feita revista”, frisa o diretor.
De acordo com a delegada, na maioria das vezes os equipamentos ingressam nas cadeias por meio de familiares, dentro de alimentos ou escondidos nas partes íntimas. E, em alguns casos, os detentos contam com a ajuda de funcionários do sistema prisional. Para o diretor Marco Antônio, apesar do rigor na revista dos visitantes, “os presos tentam cada vez mais burlar a fiscalização, e estão sempre aprimorando maneiras de agir, exigindo nosso constante aperfeiçoamento”. Silva destaca que em vez do celular os presos têm acesso a chips, e um único aparelho pode ser usado por vários apenados. “Hoje um aparelho é usado por cerca de 50 presos, eles apenas trocam os chips”, conta. “E não é só isso que entra, mas também drogas”, complementa.
O caso de Apanhador
No seu perfil no Facebook o apenado de 20 anos comentou que faltavam poucos dias para ter liberdade, ou ficar na cadeia por muito tempo. “Além deu estar preso, nenhum problema! Ainda mais q quarta to no crime de novo!”, publicou no Twitter no dia 19 de janeiro. Pelo Facebook ele também chama a penitenciária de ‘faculdade’.
Detido desde 29 de novembro, ele passou da prisão temporária para a preventiva e é acusado, com outro rapaz de 23 anos, do assassinato de Lucas Franco de Souza, 23 anos, em 25 de novembro do ano passado, no interior de Flores da Cunha. O corpo de Souza foi encontrado no porta-malas de um Voyage na manhã seguinte ao crime, próximo à localidade de Santa Bárbara. De acordo com a delegada Aline Martinelli, em depoimento à polícia o suspeito negou o crime. Mas o inquérito policial encaminhado ao Poder Judiciário mês passado o indicia por homicídio simples.
Antes disso, dia 13 do mês passado, postou a seguinte mensagem: “Sou sujeito homem, todo erro tem uma consequencia! A meu teve, matei no peito! Logo to livre de novo!”. No dia 7: “Um dia eu eis de sair desse inferno, ai tua vida q irá se tornar um inferno!”. E em 6 de dezembro, uma semana após ser preso, questionado por amigos como estava, respondeu pelo Twitter: “To ótimo né! To em maiami”.
Reprodução Facebook/Divulgação
Apresar de presos e com restrições, detentos seguem na criminalidade
Mesmo que os responsáveis por casas prisionais na maioria das vezes não admitam publicamente, sabe-se que quem está atrás das grades não perdeu totalmente a liberdade. A lista de crimes cometidos por meio eletrônico e por telefone celular de dentro da cadeia é extensa e sua prática tem aumentado geometricamente com a universalização da internet, tida por muitos como um território livre, sem lei e sem punição. Crimes de extorsão, falsos sequestros, ofertas de empréstimos fáceis, sorteios e uma série de delitos são cometidos por presos, apesar de estarem recolhidos nas prisões.
De acordo com a delegada Aline Martinelli, da DP de Flores da Cunha, os criminosos ligam e extorquem até mesmo familiares. Há pouco mais de um ano e meio houve casos de florenses que, após terem veículos furtados ou roubados, foram extorquidos de dentro do presídio. Conforme a delegada, era uma quadrilha de estelionatários que agia na região e já havia sido presa por agentes da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) de Caxias do Sul.
Um dos suspeitos, de 33 anos, acabou indiciado por estelionato e por usar telefone celular sem autorização legal de dentro da Penitenciária Industrial de Caxias do Sul (Pics). Segundo Aline, ele tentou extorquir um comerciante da cidade pedindo um valor para devolver o veículo que havia sido furtado em Flores da Cunha. No entanto, a vítima foi orientada pela polícia a não entregar o dinheiro, enquanto que os agentes da Polícia Civil rastrearam a ligação e descobriram que partiu de dentro da Pics. Este foi o único caso descoberto à época, mas havia registros de outros semelhantes.
O esquema
Se passando por policial, o suspeito ligava para rádios da região que noticiavam furtos e roubos de veículos e solicitava informações sobre as vítimas dos furtos, placas dos veículos. Depois de obter as informações, ligava para os proprietários e pedia dinheiro para devolver o bem, que na verdade não estava com ele. O acusado contava com ajuda de um motoboy que buscava o dinheiro no local sugerido. O dinheiro era entregue a familiares do preso. Mesmo com o caso esclarecido, a delegada faz um alerta às pessoas: para que não paguem resgate de bem nenhum porque não há garantia de devolução, e que comuniquem a Polícia Civil, detalhando número de telefone e horário das chamadas para possível interceptação.
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