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Irmãs de São José mantêm viva a tradição em Flores da Cunha

Apesar de não atuarem mais na escola, as religiosas seguem dedicando seu tempo a vida contemplativa e ativa

Quem conhece a história de Flores da Cunha ou da Escola São José sabe que a educação iniciou no município com a chegada das Irmãs de São José. As religiosas atuaram na escola por cerca de 90 anos e, após, a instituição foi adquirida pelo município. Apesar das mudanças que ocorreram com o passar dos tempos, as irmãs continuaram seus trabalhos na cidade, seja de uma forma contemplativa – com orações – ou ativa – auxiliando no que for preciso.
Atualmente Flores da Cunha conta com a presença de quatro Irmãs da Congregação: Irmã Terezinha Rizzon, de 80 anos; Irmã Pierina Zandoná, de 85 anos; Irmã Maria Rosina Cambruzzi, de 88 anos; e Irmã Angelina Bavaresco, também de 88 anos. Durante o dia a dia, as quatros Irmãs dedicam parte do tempo para realizar orações coletivas e individuais. Algumas delas ainda se ocupam com outras atividades, como a de auxiliar na preparação das liturgias, levar a comunhão aos doentes, além de exercerem o cargo de Ministras da Eucaristia e Pastoral da Esperança.
Irmã Terezinha Rizzon é natural de São Marcos, atuou como professora por 30 anos e há 50 é religiosa. Realizou seu magistério e sua formação no Colégio São José de Caxias do Sul e, inicialmente, atuou na Escola Luiz Gelain, em Nova Pádua, por 11 anos, onde também realizou seus votos. Durante os 30 anos de docente, ministrou as disciplinas de Ciências Sociais, História, Geografia e Religião. Há 13 anos está no município e auxilia na preparação das liturgias. “Sempre trabalhei meio dia para a escola e meio dia para a pastoral, com juventude, com catequese, com liturgia, com aquilo que precisasse, e continuo aqui a preparar as liturgias”, explica Irmã Terezinha.
Já a Irmã Pierina Zandoná é natural da cidade de Seara, Santa Catarina, foi professora por 30 anos e há mais de 60 é religiosa: “Eu lecionava Português e as aulas que tinham que completar, então eu dava Ensino Religioso, História e Ciências também,” informa. A irmã estudou até o ginasial, fez um ano de postulado, dois de noviciado e só depois, com o passar dos anos, é que conseguiu fazer faculdade. Ela está no município há 13 anos e auxilia em diversos serviços. “Nós (eu e Terezinha) somos Ministras da Eucaristia, agora, depois da pandemia, diminuiu, mas senão íamos ao Hospital Fátima visitar os doentes. Quando posso também ajudo no hospital até o dia de hoje. A gente não dá mais aula mas continua ajudando”, revela a irmã.
As irmãs Maria Rosina Cambruzzi e Angelina Bavaresco, ambas de 88 anos, foram as últimas a chegar na cidade. Estas ajudam no dia a dia em casa e frequentam as missas. Devido à idade e a saúde frágil, acabam não realizando atividades externas.
As quatro irmãs recebem um salário. Com ele, as religiosas compram o que precisam para passar o mês, seja a comida ou um par de sapato, e o que sobra é envidado para um centro de saúde ou para as irmãs que estão em missões que, muitas vezes, não são remuneradas. “Eu recebo o meu salário, mas não fico com ele, entrego para aquela que está responsável para fazer o apanhado de caixa, porque nós temos contabilidade como qualquer instituição. A gente faz também o que entra e o que sai, tem que prestar contas, e aquilo que sobra não é só para manter as casas de saúde;  vamos dizer que eu tenha que fazer uma cirurgia, um tratamento dentário que custa mais, então esse dinheiro que está lá é para ajudar também nesses momentos, fica lá em segurança”, informa Irmã Terezinha.
Exemplo de preocupação, carinho e amor ao próximo, que segue com elas desde o início da caminhada. Como acontece com Irmã Terezinha que via, desde jovem, as necessidades na comunidade onde morava e tinha o desejo de ajudar: “Na minha família, por parte da minha mãe, ela me apoiava, me deixava ir, mas o pai não gostava muito, meu avô menos ainda, até o meu irmão mais velho dizia assim: ‘mas se tu quer ajudar tu pode ajudar o mesmo’. Depois, quando eu fiz os votos, o meu pai aceitou, ficou muito feliz. Ele achava que era perder uma filha, achava que eu ia para o convento e nunca mais ia me ver na vida”, relembra Terezinha, explicando que a escolha é uma força interior. 
Já Irmã Pierina não conhecia a vida religiosa, mas as aulas de catequese despertavam nela algo especial: “Na catequese ensinavam os cantos e eu ia para casa cantando, me deu uma luz interior, uma vontade de algo mais. Ninguém me ‘cutucou’ para a vida religiosa, eu que quis. Meu pai tinha três irmãs que eram freiras, então eles falavam delas, aí eu disse que queria também”, relata sobre como decidiu seguir o caminho religioso.

História da Congregação das Irmãs de São José

As Irmãs de São José surgiram após uma revolução na França, que deixou muitas pessoas necessitadas. Assim, mulheres e moças, vestidas com trajes comuns (não usavam hábito) circulavam no meio do povo com o intuito de atender pobres e doentes.
No ano de 1898 algumas irmãs vieram da Europa para o Brasil. As religiosas estudavam na cidade de Garibaldi e, na medida em que se formavam, dependendo das necessidades, iam sendo designadas para atuarem nos municípios. “Nessa época, quando as irmãs estavam mais ou menos prontas, formadas, e se tinha por exemplo três ou quatro irmãs, elas abriam uma casa”, revelam Terezinha e Pierina.
Dessa forma, em outubro de 1901, chegaram em Flores da Cunha as primeiras religiosas da Congregação das Irmãs de São José: Madre Maria Odila Gaymar e as irmãs Clotilde Zaberer, Maria Betton e Carmela Orso. As religiosas vieram para o município atendendo uma solicitação realizada pelo fundador da Província Capuchinha no Rio Grande do Sul, Frei Bruno de Gillonnay, que idealizava abrir e manter uma escola na comunidade. “Os freis tinham o objetivo de abrir uma escola aqui, porque era uma necessidade da comunidade”, explicam as irmãs.
Naqueles anos, as religiosas começaram suas atividades no município em uma pequena casa provisória, onde também moravam. As irmãs acolhiam em torno de 150 a 200 crianças – meninas e meninos – todos os dias, os quais traziam suas refeições. “Conta na história que a Irmã Tarcísia recebia essa comidinha e colocava para aquecer. Era muita dedicação das irmãs com as crianças”, relatam as religiosas.
“Quando era muito frio, chegava aquelas crianças com pouca roupa, sem chinelo, ela (Irmã Tarcísia) dava uma coisa quente para eles tomarem, tinha um cuidado muito grande”, revelam, ao mesmo tempo em que contam que Irmã Tarcísia passava pelo hospital e pelas farmácias em busca de garrafinhas de remédio vazias para encher com água quente e dar para cada criança esquentar as mãos e poder escrever.
As Irmãs de São José se dedicavam ao trabalho na instituição, respondendo por diversas funções e fazendo atividades religiosas também. De acordo com as irmãs Terezinha Rizzon e Pierina Zandoná, inicialmente as aulas eram realizadas apenas pelas irmãs, mas com o passar dos anos professores leigos começaram a fazer parte da equipe de educação. “Com o tempo foi mudando, porque as irmãs foram diminuindo e foram entrando as leigas também. Não é por ser escola religiosa que não pode ter leigas. Se tu for no Colégio São José de Caxias do Sul tem muitas leigas, mas a coordenação, direção, fica com elas (religiosas), porque elas dão o rumo”, explicam.
Por 13 anos as irmãs vindas ao Brasil lecionaram na casa provisória, só após, em 1914, foi iniciada a construção do primeiro prédio escolar, de madeira, no mesmo local onde hoje se encontra a escola. Depois disso, foram 69 anos de crescimento até que uma nova reforma tivesse de ser feita para poder atender mais estudantes. A inauguração das ampliações aconteceu no dia 16 de outubro de 1983.
Apesar de ser responsável pela formação de inúmeras pessoas, a escola foi entregue ao município em 1991. “Elas fecharam porque quando éramos em muitas irmãs, elas trabalhavam e exerciam diversas funções. Depois as irmãs foram diminuindo, porque foram envelhecendo também e então elas acharam melhor entregar para a prefeitura”, explicam, ao mesmo tempo em que informam que as irmãs trabalhavam praticamente de graça, como uma forma de ajuda e acolhimento, não só de educação.

Irmãs de São José e Irmãs Clarissas Capuchinhas

No município de Flores da Cunha existem duas congregações religiosas: as Irmãs de São José e as Irmãs Clarissas Capuchinhas, ambas pertencentes a religião católica. Mas, afinal, qual a diferença entre elas? 
De acordo com as Irmãs Terezinha Rizzon e Pierina Zandoná, a diferença está no modo de vida. As Clarissas Capuchinhas são mais reservadas e vivem da oração, já as Irmãs de São José, além das orações costumam realizar outras atividades: “Elas têm uma vida mais contemplativa, que é uma vida de oração, elas ficam mais lá, não saem para fazer uma pastoral, nem dar aula. Vivem em clausura. Nós somos vida contemplativa e ativa”, explicam as irmãs, reforçando que elas têm a obrigação da oração, porque quando elaboraram uma liturgia elas dão aquilo que tem. “Nós temos a oração pessoal e temos um momento de oração juntas, tudo dependendo de como nos organizamos, e sempre que podemos vamos a missa”, relatam.
Outra diferença que pode ser visivelmente notada são as vestes. Muitos florenses já devem ter cruzado com as Irmãs de São José em vários eventos religiosos, uma vez que elas utilizam roupas do dia a dia (não usam hábito), diferentemente das Irmãs Clarissas que utilizam uma veste especial. “Nossa congregação também usava as vestes. Nós começamos sem hábito, depois, no caminhar da história, a igreja pediu. Aí, mais tarde, foi aberto que as irmãs que começaram sem hábito podiam voltar a ficar sem”, relatam as irmãs, ao mesmo tempo em que revelam que Irmã Pierina participou das mudanças. “Eu (Irmã Terezinha) não passei pela metamorfose, mas a Irmã Pierina sim, foi o preto, depois foi um mais simplesinho, só tinha um véuzinho, era uma roupa assim, vestidas todas iguais”, relembra a religiosa.

As irmãs Angelina Bavaresco e Terezinha Rizzon (em pé) e Pierina Zandoná e Maria Rosina Cambruzzi. (sentadas)  auxiliam no município.  - Valdinéia Tosetto
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