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Gasolina ultrapassa a barreira dos R$ 6

Encher o tanque do carro em Flores da Cunha pode custar mais do que um quarto do salário mínimo

Um mês e meio após o preço da gasolina atingir os R$ 5 em todos os postos de combustível do município, ele já está R$ 1 mais caro. O florense que quiser abastecer o tanque do seu automóvel no centro da cidade não vai fazê-lo pagando menos de R$ 6 o litro – o que para muitos não é uma questão de desejo, mas sim de necessidade.
“O nosso carro não fica um dia parado. Eu e o meu marido temos que usar diariamente para o trabalho. Está tudo caro, a comida está lá em cima, a gasolina também. É horrível, não tem o que dizer. Não temos opção de não usar o carro, é um bem que não podemos abrir mão”, conta a florense Cassiane de Matos Barbosa, que antes mesmo de a gasolina chegar a esse valor costumava gastar mais de R$ 1 mil por mês em combustível.
Outro exemplo é o de Ricardo Vedana, morador de Alfredo Chaves e que atualmente se desloca de uma empresa a outra à procura de trabalho. “Dia desses, fui a Farroupilha, abasteci nesta mesma rede e paguei R$ 5,84. Até o novo preço da gasolina, eu costumava gastar R$ 600 em combustível. Moro no Alfredo, não posso vir de ônibus, porque só vou poder voltar no fim do dia”, explica Vedana.
É mesmo “um absurdo”, palavra que todos os consumidores ouvidos pela reportagem utilizaram para definir a situação. Pelos preços praticados hoje, o florense que abastecer um carro popular, com tanque de 50 litros, apenas uma vez por mês, poderá pagar até R$ 307,45 – mais do que um quarto (27,95%) do salário mínimo atual, de R$ 1.100. Um mês e meio atrás, a soma chegava a, no máximo, R$ 259,45 (23% do salário mínimo), valor já considerado alto pelos clientes. 
O aumento nos preços é fruto dos reajustes feitos pela Petrobrás. Já foram seis em 2021, o que fez a gasolina encarecer 54,3% nas refinarias no acumulado desse ano – no fim do ano passado, ela custava R$ 1,84 às distribuidores e hoje é vendida a R$ 2,84, pela necessidade de se equiparar aos preços internacionais. As distribuidoras repassam o aumento para os postos de gasolina que, em boa parte, acaba no bolso do consumidor final.
Conforme o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, de Empresas de Garagem, Estacionamento, de Limpeza e Conservação de Veículos e Lojas de Conveniência de Caxias do Sul e Região (Sindipetro Serra), Eduardo D’Agostini Martins, os donos dos postos de combustível ficam à mercê da petrolífera estatal. “Na prática, a  Petrobrás é uma empresa monopolista, dona do mercado. Quando define um aumento, todo o mercado tem que acatar, porque não há concorrência. Eles aumentam e era isso”, diz Martins. 
O preço alto é lamentado pelos postos, porque leva à diminuição da procura por combustível. “Se sente imediatamente. Quando a gasolina sobe, o movimento diminui muito. Então, as famílias começam a segurar, a ter um carro só, a trocar o carro pela moto. Para o revendedor é muito prejudicial. O combustível caro fecha posto de gasolina”, comenta o presidente do Sindipreto.
Essa percepção é a mesma do sócio proprietário do Posto do Élio, Felipe Alexandre Salvador, que lamenta a diminuição da procura: “Em fevereiro, tivemos uma queda de 25% no faturamento se comparado ao ano passado. Grande parte é em função desses aumentos que têm se mostrado absurdos em relação aos ganhos que o trabalhador normal, comum, recebe. Somado à pandemia, esse fator fez a gente perceber uma queda de rendimento entre 30% e 40%, o que é gigantesco no mês de março”.
Para os postos de Flores da Cunha, o cenário é especialmente ruim, já que o segundo e o terceiro mês do ano costumam ser de recuperação – historicamente, em janeiro a procura por combustível cai no município, devido à época da safra. Os próximos dias também não geram otimismo: o governo federal vai realizar a troca no comando da Petrobrás, o que sugere uma nova política de preços, mas isso só irá ocorrer no final do mês. “Até lá, os preços vão continuar a subir e é difícil dimensionar até quando o brasileiro vai aguentar esses aumentos. Será um março muito difícil, está bem delicada a situação”, encerra Salvador.


 - Pedro Henrique dos Santos
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