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Futuro incerto para as escolas cívico-militares

Há um ano a Escola Tancredo de Almeida Neves adotou o modelo e já observa melhorias no comportamento dos alunos

Não é novidade que o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim), criado em 2019 durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), foi extinto – com decisão divulgada em janeiro deste ano. No entanto, o que ainda não se sabe ao certo é como será o futuro das instituições que adotaram esse modelo de ensino. 
No início do mês, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniu com entidades de trabalhadores da educação e reafirmou que o Programa não terá continuidade e, conforme publicado pela Agência Brasil, a previsão é de que as escolas que adotaram as diretrizes cívico-militares sejam mantidas, por outro lado, não está previsto que novas instituições utilizem o modelo, afinal, não há disponibilidade de dados específicos sobre a eficácia deste ensino e o desempenho de estudantes, o que impede de traçar um comparativo nas mais de 200 escolas públicas de todo o país que aderiram ao programa do governo federal.
Em Flores da Cunha, desde o início de 2022, os alunos do 1º ao 9º ano da Escola Municipal Tancredo de Almeida Neves, no bairro União, seguem as diretrizes cívico-militares, sendo a primeira instituição municipal da Serra Gaúcha a receber o projeto, realizado em parceria com a Secretaria da Educação do Estado – Seduc RS. Agora, a orientação é que, ao longo de 2023, o Ministério da Educação (MEC) analise a eficácia e as mudanças causadas nas instituições que implantaram o modelo. Mas, até então, de acordo com o secretário de Educação, Itamar Brusamarello, “não houve qualquer alteração no dia a dia da escola, tampouco recebemos orientações de qualquer modificação. Até o presente momento, a Escola Cívico-Militar Tancredo de Almeida Neves segue as diretrizes atinentes ao modelo cívico-militar. Não há nenhuma medida nova”. 
Dessa forma, o sargento Herton, que foi designado como monitor em 2022, continua atuando na escola florense, enquanto o tenente Ferreira (ambos da Brigada Militar) exonerou-se da função por questões pessoais, mas, o secretário adianta que, em breve, a vaga será preenchida, uma vez que os resultados deste ensino estão sendo notados, na prática. “O modelo cívico-militar busca fortalecer as relações, principalmente nos aspectos de atitude, respeito, disciplina, regras de comportamento, responsabilidade, valores, ética, deveres e direitos. Por meio destas premissas, percebeu-se um processo de melhora comportamental e organizacional dos alunos”, defende Brusamarello.
Ponto de vista compartilhado pela diretora da Escola Tancredo de Almeida Neves, Ana Paula Zamboni Weber, que percebeu os estudantes mais focados após a implantação do ensino cívico-militar: “Nós temos uma rotina mais organizada, quando os alunos chegam eles formam filas, assim evitamos uma entrada com correrias. Também diminuiu bastante a questão de bullying”, constata. 
Avanços que também podem ser evidenciados quando falamos no rendimento escolar da aprendizagem. Conforme a diretora, o dia a dia marcado pelos valores de respeito e disciplina está contribuindo para que os estudantes aumentem a concentração em sala de aula, conseguindo alcançar um desenvolvimento cognitivo de mais qualidade. “A escola cívico foi um movimento novo, uma experiência bastante nova na educação, por se tratar de cívico-militar e não de uma escola militar. É um processo, um início, e já observamos pequenas sementes sendo plantadas, mas um resultado maior e melhor depende de outras experiências”, ressalta Ana Paula, acrescentando que nesta modalidade de ensino os monitores não interferem no planejamento pedagógico, mas sim, agregam valores atitudinais e cívicos, fora da sala de aula, para convivência em sociedade.
E a opinião dos pais que residem no bairro União, cujos filhos estudam ou irão estudar na escola, em sua maioria, foi positiva: “A Escola Cívico-Militar teve a adesão da maioria dos pais e, hoje, o CPM (Círculo de Pais e Mestres) apoia bastante a continuidade desse trabalho, uma vez que no final de 2022 teve uma avaliação e notamos que existe um apoio dos pais nesse modelo de ensino”, evidencia a diretora. 
No que diz respeito aos alunos, por sua vez, Ana Paula revela que todos estão envolvidos com as rotinas cívico-militares e que, especialmente nas séries inicias, dos seis aos 10 anos de idade, se percebe uma participação ainda maior, notada nos comandos de formação de fila para todos os deslocamentos da escola, na hora do lanche, na entrada e saída dos alunos. “Os anos finais também tem toda essa organização e a gente fala com os alunos, pergunta, avalia com eles e eles percebem que mais organização também gera mais respeito entre eles, adolescentes, nessa convivência diária. A presença do monitor também faz parte de todo o corpo profissional da escola e os estudantes enxergam o monitor com ‘pertencimento’ à escola”, conclui a diretora, otimista com o modelo adotado pela escola há um ano. 

Escola Tancredo Neves é uma das 200 do país a adotar o modelo  cívico-militar.  - Gabriela Fiorio
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