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Flores da Cunha sedia hoje Fórum Educacional Regional

Quarta edição do evento será realizada no salão paroquial do muncípio, às 19h30min, com palestra do professor Mario Sergio Cortella. Entrada é franca

A responsabilidade de educar, a importância da família no processo de aprendizagem, os limites para crianças e adolescentes. Esses e outros temas serão debatidos na próxima segunda-feira, dia 20, durante a quarta edição do Fórum Educacional Regional de Flores da Cunha. O evento tem início a partir das 19h30min, no salão paroquial. A entrada é franca.

Sob o tema Educar: Responsabilidades e Limites o evento será conduzido pelo professor Mario Sergio Cortella. Filósofo, mestre e doutor em Educação, é professor titular do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e palestrante em congressos nacionais e internacionais. Foi secretário municipal de Educação de São Paulo entre 1991 a 1992 e autor dos livros A Escola e o Conhecimento, Nos Labirintos da Moral, Não Espere pelo Epitáfio: Provocações Filosóficas, Não Nascemos Prontos! e O que a Vida me Ensinou – Viver em Paz para morrer em Paz, entre outros.

De acordo com a secretária de Educação, Cultura e Desporto, Bernardete Carniel Debon, a palestra é um momento único para que a comunidade regional, em especial educadores e familiares, discuta sobre as responsabilidades sobre a educação. Segundo ela, o Fórum serve ainda para que professores e educadores repensem sua forma de educar ao ouvirem as experiências e ensinamentos de um professor do renome de Cortella. “O evento serve para iniciar na sociedade a discussão das responsabilidades e dos limites na educação. Se todos souberem o seu verdadeiro papel torna tudo mais seguro e confiável”, diz a secretária. Abaixo, confira uma entrevista com o palestrante.

“A educação é um ato coletivo”

O Florense: Levando em conta o tema do 4º Fórum Educacional Regional, quais assuntos serão abordados durante o encontro?
Cortella:
Mostrar acima de tudo que educação é um ato coletivo. Embora exista sem dúvida a participação de cada pessoa, a educação como obra na escola, num sistema de ensino, é um ato coletivo, isto é, um projeto de uma comunidade educativa que envolve não só a nós professores e professoras, mas também funcionários, alunos e pais. Nesse sentido, existe uma partilha de responsabilidades, essa partilha não anula que cada um tenha a sua responsabilidade, mas ninguém tem toda a responsabilidade sozinho. O que significa também que aí se encontram alguns dos nossos limites. É exatamente a partir dessa ideia que vou fazer uma reflexão no Fórum de Flores da Cunha.

O Florense: Quais são os principais problemas da educação atual?
Cortella:
Se olharmos o ponto de vista de políticas públicas, isto é, da responsabilidade dos governos, há quatro grandes problemas: o primeiro deles é a democratização do acesso e da permanência, ou seja, universalizar toda educação básica, não apenas o ensino fundamental, colocando, portanto, na escola, todos os brasileiros e brasileiras até 17 anos de idade. Mas não apenas que entrem, que nela permaneçam. Portanto, democratização do acesso e da permanência. O segundo é a democratização da gestão. A participação da comunidade escolar nos assuntos que se referem aquilo que toca na educação das crianças e dos jovens sob a nossa responsabilidade. Em terceiro lugar, uma nova qualidade de ensino com uma formação permanente dos professores, de maneira que a gente não faça uma atividade que fiquei anacrônica, que fiquei ultrapassada, e ao mesmo tempo entenda que estamos lidando com processos e esses processos têm uma marca de mudança para a qual a nossa competência é preciso estar sempre atenta. Por último, o quarto grande entrave é educação de jovens e adultos. Nosso país ainda tem, apesar de sermos a sexta economia mais rica do planeta, 12 milhões de homens e mulheres com mais de 15 anos de idade que não conseguem, por exemplo, ler o lema da própria bandeira, e alguns deles estão em Flores da Cunha. A existência disso é algo inaceitável para uma sociedade em pleno Século 21.

O Florense: Investimos pouco em educação, já que são apenas 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e com uma meta de chegarmos a 10%. Como encarar esse baixo investimento?
Cortella:
Cinco por cento do PIB não é um investimento tão baixo se nós estivéssemos em uma posição muito boa. Por exemplo, as grandes nações do mundo que já resolveram boa parte de seus problemas com a educação pública, investem por volta de 4% ou 5%. Por que no Brasil isso é insuficiente? Porque nós saímos dos últimos 20 anos de uma miséria educacional muito grande e uma indigência educacional. Portanto, precisamos de muito mais energia, muito mais combustível para recuperar toda essa deficiência anterior. Por isso, para nós, embora o prazo seja igual a outros países, não é suficiente. Temos sim a meta de chegar, progressivamente, a esse gasto de 10% do nosso PIB. Mas enquanto isso não se realiza, temos a necessidade de controle dos recursos, de parcerias entre os municípios e o Estado para ganhar capacidade de aproveitamento das estruturas já existentes e, claro, a capacidade de não desviar recursos daquilo que é finalidade da área educacional.

O Florense: A escola acaba suprindo muitos problemas sociais do país. Isso faz com que ela deixe de lado a primeira função, que é a de educar?
Cortella:
Não, pois a escola pública é um equipamento republicano que faz parte da rede de proteção social. Essa rede de proteção social é composta pelo conjunto de órgãos públicos que cumprem a função institucional de cuidar dos cidadãos em qualquer idade. Evidentemente uma escola não se limita à instrução. Uma escola é lugar de convivência, de cuidado com as crianças. Por exemplo, a atividade de merenda escolar é um componente muito importante no local onde as pessoas ficam bastante tempo, como é o caso da escola. Não é o caso da escola oferecer atendimento médico odontológico, que para isso existem outras estruturas, mas de fato, como parte da rede de proteção social, a escola tem hoje mais tarefas do que ela tinha antes, mas também, e porque nós tivemos uma população que ao migrar das grandes áreas rurais para a área urbana fizeram com que houvesse um maior número de alunos. Isso, sem dúvida, com o agravamento da convivência nas cidades, levou a esse papel importante, mas não exclusivo, das escolas.

O Florense: Como interpretar os índices de educação, como o Ideb, que teve seus números divulgados nesta semana?
Cortella:
Eles apresentam muito bem o reflexo real, agora, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica mostra em primeiro lugar que quando a família ajuda e dá suporte também no acompanhamento faz crescer a condição de melhoria. Em segundo lugar, uma gestão de escola com um grupo de professores motivados e interessados também altera a condição. No entanto isso não basta, é preciso o apoio do poder público. Os índices que essa semana foram divulgados mostram uma melhora, mas eles não nos deixam desatentos nem entusiasmados. Estamos apenas no início de um processo que precisa melhorar – e muito.

O Florense: Como evitar o ‘pedagocídio’, tão citado em suas obras?
Cortella:
Com três grandes atitudes: a primeira delas é ter humildade para saber que há muitas coisas que não sabemos, e nós temos que aprender essas coisas que não sabemos para fazer melhor aquilo que precisamos saber. Em segundo lugar, um compromisso da comunidade escolar composta por pais, alunos, professores e funcionários, com a proteção daquela comunidade. Em terceiro e último lugar, que os cidadãos de uma cidade como, por exemplo, Flores da Cunha, se interessem pela escola que os cidadãos frenquentam independentemente de ele mesmo não estar mais nela. Uma comunidade é aquela que se cuida, e quando temos pessoas que descuidam aí nós temos sim uma dificuldade muito maior de sobrevivência.


Palestrante será Mario Sérgio Cortella. - Facebook/Divulgação
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