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Florenses pelo Mundo: A vida na terra da Rainha

Natural do distrito de Otávio Rocha, Luciane Martini trocou a carreira de designer de interiores por uma jornada que a levou a mais de 45 países em apenas oito anos

“O mundo é muito maior do que Flores da Cunha e Caxias do Sul”. A afirmação é de Luciane Martini, 37 anos, natural de Otávio Rocha. Pudera, ela já visitou 45 países desde 2016. A florense largou a carreira de designer de interiores para desbravar o mundo, motivada por um forte desejo de mudança e cuidado com sua saúde mental.

A primeira viagem de Luciane foi para Barcelona. Foi na Espanha que "caiu a ficha" sobre o tamanho e a pluralidade do mundo.

Quando voltou, Luciane se dedicou a sua profissão, como designer de interiores. Por dois anos, trabalhou em uma loja até que se viu atordoada por problemas relacionados ao estresse. Foi em uma aula de yoga que teve o “estalo” para buscar a cidadania italiana e fechar as portas do apartamento em Caxias do Sul, onde morava desde os 18 anos. 

— Foi em julho de 2018 que eu disse "vou embora". Sai da minha aula de yoga, comecei a pesquisar e falei com várias pessoas. Em seis meses, juntei dinheiro, vendi meu carro, coloquei meu apartamento em Caxias para alugar e fui — relembra.

O primeiro passo foi ir para a Itália, onde buscou se conectar às suas raízes. A florense conta que o talian ajudou durante os seis meses que passou no país. Contudo, o objetivo era Londres, onde mora há cinco anos.

— Para mim, Londres é a cidade mais multicultural e o centro do mundo geograficamente. Você pode ir a qualquer ponto do planeta com muita facilidade: são seis aeroportos aqui. Os principais motivos para ter escolhido Londres foram esta facilidade para viajar bastante, o dinheiro e já ter amigos por aqui.

Sobre as dificuldades, a florense destaca o idioma e o clima chuvoso do inverno, que faz com que anoiteça mais cedo. 

— Não importa quantas aulas de inglês você faça no Brasil, quando chegar aqui, alguém fará uma pergunta inocente e você começará a chorar. O inglês abre portas. Quanto melhor for o seu inglês, melhor será seu emprego.

A chegada na terra da Rainha foi em outubro de 2019. O plano era juntar dinheiro para continuar viajando pelo mundo. Cinco meses depois, aconteceu a pandemia de coronavírus.

— No começo, eu tinha dois empregos: um em um restaurante de comida asiática, das 6h às 15h, e, nos finais de semana, trabalhava em um pub. Era muito puxado; não sei como conseguia, mas, dia após dia, o inglês vai melhorando e você vai conhecendo mais a cidade.

Apesar de sentir falta dos tortéis da mãe, dos cafés na casa da nona e da facilidade de ver as amigas, Luciane gosta de viver em Londres e destaca as estações bem definidas e a preparação que a cidade tem contra o inverno rigoroso, ao contrário do Brasil.

Empoderamento pelo conhecimento

Em sua aventura, Luciane viajou por sete meses pela Ásia, onde fez voluntariado na pousada The Chai Lai Orchid, em Chiang Mai, Tailândia. O local, segundo a otaviense, é muito mais do que um espaço turístico ecológico; trata-se de uma ONG que resgata elefantes do trabalho forçado e abriga pessoas refugiadas da guerra civil de Myanmar. Os conflitos duram mais de 70 anos. 

— Uma conhecida me indicou o santuário de elefantes e, ingenuamente, mandei meu currículo por e-mail, me vendendo como alguém que adora animais e sonhava em cuidar de elefantes. A diretora desse voluntariado entrou em contato e disse: “Olha, Luciane, se você quer cuidar de elefantes, aqui não é o lugar, mas, se você se interessa por relacionamentos com pessoas, temos uma ONG que ajuda meninas e crianças através do empoderamento pelo conhecimento" — relata

Nessa experiência, Luciane transmitiu conhecimento aos jovens tailandeses em  aulas de inglês e apoiou este lar seguro, com educação e emprego para mulheres marginalizadas pela guerra, tráfico humano e exploração sexual.
— O Chai Lai Orchid é mais do que um alojamento ecológico e um lar para elefantes resgatados. Estávamos combatendo a exploração e capacitando nossas irmãs. No contexto do turismo antiético, esforçamo-nos para ser diferentes: ao dar prioridade à transformação social em detrimento do lucro, acreditamos que podemos proteger o ambiente, a nossa comunidade e os elefantes — finaliza

'Florenses pelo Mundo' conta as histórias de conterrâneos que expandiram fronteiras. A publicação ocorre sempre na última edição do mês.

 

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