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Florenses ainda têm dificuldade em separar o lixo

Mais de 40% dos resíduos seletivos são descartados de forma irregular nas lixeiras orgânicas do município, o que gera prejuízos aos cofres públicos e ao meio ambiente

Na Semana do Meio Ambiente um assunto pertinente sempre volta à tona: o lixo. Você já parou para pensar em quanto lixo produz ou se está separando-o de forma correta? Pois saiba que, além da preservação ambiental, uma das principais preocupações que afeta o futuro do planeta é a separação adequada dos resíduos. E em Flores da Cunha a população tem dificuldade em separar corretamente seu lixo. Conforme levantamento do Departamento de Meio Ambiente, 44% do lixo seletivo é descartado de forma irregular nas lixeiras destinadas aos orgânicos. Essa mistura de orgânico e seletivo provoca prejuízos na faixa de R$ 127 mil ao ano para os cofres públicos. O que pode ser resumido como falta de responsabilidade tem uma solução prática: é preciso começar desde já as mudanças.
O lixo seletivo do município é encaminhado para a Associação dos Recicladores Amigos de Flores da Cunha que tem todo o cuidado de separar o que a comunidade não separa. De acordo com a diretora do Departamento de Meio Ambiente, Franciele Zorzi, os recicladores acabam tendo um retrabalho quando o lixo está misturado, além da inutilização de outros resíduos que ficam sujos. “Flores da Cunha produz aproximadamente 30 toneladas de lixo por dia, que são designadas a um aterro. Ali é encaminhado o lixo orgânico e o rejeito do seletivo. Depois temos todo o lixo seletivo”, explica. 
Conforme o presidente da Associação dos Recicladores, Adriano Alves da Silva, são encaminhadas à Associação diariamente sete toneladas de resíduos. Dessas, apenas três toneladas são recicladas, gerando um total de 33 toneladas diárias de lixo seletivo e orgânico. Ou seja, com uma população estimada de 30.430 habitantes, cada florense produz mais de um quilo de lixo por dia. 
O município conta com 940 unidades de contêineres de lixo seletivo e orgânico, o que deveria auxiliar na separação dos resíduos mas, conforme Franciele, de tempos em tempos é realizada uma varredura para observar as condições dos equipamentos. “Não podemos deixar os contêineres nas ruas quebrados, é preciso ajeitar. Então, quando é realizada a lavagem, também realizamos manutenções. Quando não há o que fazer, o local fica sem até conseguirmos repor. Mas em todas as quadras, principalmente no Centro e bairros próximos, existe um contêiner, então não é o caso de misturar o lixo”, avalia. A aquisição dos contêineres é feita por meio de licitação, sendo necessário ter uma verba disponível para realizar a compra dos equipamentos. Ao jogar o lixo nos contêineres, os caminhões da empresa Biasotto realizam o recolhimento e encaminham para o destino correto. Na área rural do município, existe apenas a coleta do seletivo. 
Ele é encaminhado para a comunidade de Nossa Senhora da Medianeira, onde fica a sede dos recicladores. Os resíduos orgânicos e os rejeitos do seletivo – material orgânico encontrado no seletivo e chorume –, são destinados à Central de Tratamento de Resíduos, em São Leopoldo.

O trabalho da Associação

São sete anos envolvidos com o meio ambiente e 19 pessoas que tiram o seu sustento através do lixo. O primeiro funcionário da Associação dos Recicladores Amigos de Flores da Cunha, Adilson da Silva Camargo, 38 anos, aponta que a separação dos resíduos florenses está enfraquecendo a cada ano. “Tanto se fala em conscientização, recebemos alunos, explicamos, mas com o tempo está pior. E percebemos que com a colocação dos contêineres de lixo, para nós, só prejudicou. Vem tudo misturado”, lamenta. 
Conforme Camargo, quando a cidade não possuía os equipamentos de lixo, os garis conseguiam fazer uma separação mais adequada de cada sacola. Com os contêineres todo o lixo é apenas depositado dentro do caminhão. “Das 160 toneladas mensal que recebemos aqui, 90 toneladas nós não aproveitamos, ou seja,  56,3%. Vem tudo misturado e perdemos muito. Daqui vem o nosso salário, aqui a gente ajuda a natureza, mas estamos bem decepcionados”, conta. 
Para os trabalhadores, muita coisa se perde. Como no seletivo aparecem resíduos orgânicos, o mesmo ocorre no processo inverso e muito material, que poderia ser aproveitado, acaba indo direto ao aterro e prejudicando o meio ambiente. “Se cada um melhorar suas atitudes só um pouquinho já ia ser o suficiente para não piorar a situação em que chegamos”, diz Camargo, que afirma que muitos visitantes reclamam do cheiro do local. “Você já parou para sentir o cheiro de papelão e plástico? Resíduo seletivo não tem odor. O que as pessoas sentem aqui por alguns minutos são as consequências do que elas fazem em casa. Pensa nós, que ficamos aqui o dia inteiro”. 
De acordo com a Associação, a área central apresenta a pior separação do município. Nos bairros e no interior o cuidado é um pouco maior. O material que pode ser reciclado é comercializado pela Associação. Eles separam plástico mole, papelão, garrafas pet, pda (plástico que não quebra, como embalagens de produtos) e sucata.

Educação ambiental nas escolas

Com mudanças no currículo escolar, a partir deste ano as escolas de Flores da Cunha passaram a realizar atividades de educação ambiental com os alunos do terceiro ano do ensino fundamental. Conforme a legislação, “entende-se por educação ambiental os processos através dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, atitudes, habilidades, interesse ativo e competência, voltados ao meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. No município, os projetos de educação ambiental são desenvolvidos pelo Departamento de Meio Ambiente e o objetivo das atividades é desenvolver nas pessoas a consciência dos problemas ambientais e estimulá-las a tentar buscar soluções para estes problemas.
A Escola Municipal Tancredo de Almeida Neves é uma das instituições que iniciaram com o projeto no terceiro ano do turno integral. “Estando na escola o dia inteiro é muito mais fácil trabalhar essa questão de conscientização”, avaliam as coordenadoras pedagógicas Débora Zulian e Graziele Dall Acua.
A turma está trabalhando com a horta da escola, que está ativa desde o ano passado. “Durante todo o ano eles aprendem a separar o lixo. Nas salas de aula possuem dois recipientes, no pátio também. Além deles realizarem a compostagem do material orgânico e utilizar na horta”, contam. E não é apenas os estudantes do terceiro ano. Eles são os multiplicadores da ação e auxiliam as outras turmas na conscientização. “Queremos despertar a conscientização para que ela se torne hábito”, explicam as professoras.
A partir desse projeto escolar, a instituição solicitou verbas à Ceran. A empresa irá encaminhar recursos para a escola para a aquisição de lixeiras, nas cinco cores, além de bancos feitos com materiais reciclados.

Lixo no lugar certo

Você como separar seu lixo? Veja o que é seletivo e o que é orgânico. 

Lixo orgânico: restos de comida, folhas de árvore e outros materiais que entram em processo de decomposição facilmente. Papel higiênico, guardanapos e fraldas descartáveis também são lixos orgânicos.
Lixo seletivo: são resíduos que não possuem origem biológica ou que foram produzidos pelo ser humano. São plásticos, metais, vidros e papéis. 
Eletroeletrônicos: a prefeitura não pode armazenar esse tipo de material, por isso são realizadas campanhas de recolhimento.
Resíduos volumosos: são os móveis, sofás, armários, mesas, entre outros. O município conta com uma coleta diferenciada. O morador precisa entrar em contato pelo telefone (54) 3292.3221, com a Biasotto, e passar o endereço completo para que a coleta ocorra.
Resíduos verdes: galhos resultantes da poda de árvores, da limpeza de jardins, grama, entre outros, são recolhidos por equipes da Secretaria de Obras. Basta entrar em contato pelo telefone (54) 3279.3600 e solicitar o recolhimento.
Embalagens de agrotóxicos: esse tipo de material não pode ser descartado no lixo comum, nem mesmo no seletivo. Por isso, existem campanhas específicas que destinam essas embalagens. 
Resíduos da construção civil: o município não possui uma coleta gratuita desses materiais. 

44% do lixo seletivo é descartado de forma irregular nas lixeiras. - Gabriela Fiorio
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