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Fazendo o seu papel

Empresa florense produz papéis 100% celulose e reciclados, com o máximo de cuidado ambiental

Dos vinhedos de Flores da Cunha, além de vinhos, nascem papéis. Seja 100% celulose ou frutos da reciclagem, eles viram uma infinidade de produtos: higiênicos, toalha, seda e até mesmo calçados. Todo esse processo é realizado na Vinhedos Papéis, na divisa com Caxias do Sul, prezando pelos cuidados com o meio ambiente e o reaproveitamento de recursos – até mesmo da água com que são fabricados. Um cuidado premiado com a FSC, a certificação florestal de maior credibilidade internacional (veja na página ao lado).
O processo de fabricação do papel reciclado é relativamente simples. Ele começa na separação da matéria-prima (aparas de papel) de acordo com as características desejadas no produto final. As aparas são misturadas com água e transformadas em uma pasta. Resíduos indesejados como plásticos, clips e grampos são separados por sucessivas etapas de peneiramento. A pasta purificada é colocada em um refinador,  necessário para a formação da folha de papel.
O passo seguinte já é na máquina: na chamada mesa plana, grande parte da água é removida e o papel ganha forma. Após, ele segue para a seção de secagem, mediante aplicação de vácuo, com o papel sendo pressionado contra um cilindro aquecido. A água remanescente evapora e o papel pode, enfim, ser enrolado em bobinas para processamento ou comercialização.
A empresa não recolhe papéis para a reciclagem de pessoas físicas por uma questão legal. No entanto, empresas recicladoras realizam esse trabalho, separam os papéis e os enviam em fardos para a Vinhedos, que mistura as aparas recebidas com a celulose pura, dando origem ao papel reciclado. Todos os produtos fabricados pela empresa hoje estão também disponíveis em formato reciclado, à exceção do papel seda, que não permite reciclagem. 
Mas há várias formas de reaproveitamento. Segundo o gerente de produção da Vinhedos Papéis, Glaiton Tuzzin, todos os materiais beneficiados na empresa são 100% reaproveitados. Um insumo muito utilizado na fabricação de papel é a água, que também é reutilizada pela empresa. Desde o ano passado, a Vinhedos começou a tratar 100% do seu efluente. Desses, cerca de 95% é reutilizado diariamente – às vezes, a empresa passa entre 10 a 15 dias sem lançar mão de novos recursos. 
Outra solução ambiental encontrada foi para resíduos como o lodo e as cinzas da caldeira, maior fonte de energia da empresa. Eles são misturados e o resíduo sólido resultante é destinado para a agricultura, onde produtores rurais o reutilizam como adubo no tratamento do solo. 
Demais resíduos, como papelão e metais, também recebem destinos corretos e são vendidos para alguém que vai reaproveitá-los ou reciclá-los. “O pouco que nós não conseguimos destinar ou fazer a logística reversa como o caso das bombonas de óleos lubrificantes, destinamos para o aterro sanitário. Mas trabalhamos para reduzir isso gradativamente, conforme conseguimos alguém para vender ou destinar”, afirma a engenheira técnica responsável da Vinhedos, Bruna Rossi Fenner. 
Por falar em venda, desde o início da pandemia, o papel ficou mais caro, até pela alta do dólar – a maior parte da celulose utilizada vem do exterior. O mesmo acontece com o papel reciclado, devido ao aumento do custo das aparas e a dificuldade em conseguir a matéria prima. Com isso, a procura por esse tipo de papel diminuiu – enquanto a pelo papel em geral subiu durante a pandemia. O que não deve desestimular a busca pelo reciclado: “Além do custo, é preciso levar em conta que se está evitando usar matéria prima que seria extraída direta da natureza”, comenta Bruna. 

O que é a certificação FSC? 

A FSC (Forest Stewardship Council) é uma organização independente, não governamental, sem fins lucrativos, criada para promover o manejo florestal responsável ao redor do mundo. Fundado em 1993, o FSC se tornou o sistema de certificação florestal de maior credibilidade internacional e o único que incorpora de forma igualitária os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos. 
Através de seu sistema de certificação, o selo FSC reconhece a produção responsável de produtos florestais, permitindo que os consumidores e as empresas tomem decisões conscientes de compra, beneficiando as pessoas e o ambiente, bem como agregando valor aos negócios. 
A Vinhedos Papéis possui certificação FSC Cadeia de Custódia (CoC) desde 2013, garantindo a rastreabilidade desde a produção da matéria-prima que sai das florestas até chegar ao consumidor final. A utilização do selo nos produtos da Vinhedos garante que esses foram fabricados utilizando matéria-prima de floresta certificada, que não exploram trabalho escravo ou infantil e que respeitam os direitos dos trabalhadores e seu bem social e econômico.
O gerente de produção, Glaiton Tuzzin, explica que a certificação é renovada a cada três anos. Durante uma semana, é realizada uma auditoria interna para garantir que toda a documentação técnica esteja de acordo com a certificação, garantindo a procedência correta das matérias-primas.
Além dessa, há dois tipos de certificação. Uma é a de Manejo Florestal, garantindo que a floresta é manejada de forma responsável, de acordo com os princípios e critérios da certificação FSC. Todos os produtores podem obter o certificado, sejam pequenas, grandes operações ou associações comunitárias. 
Essas florestas podem ser naturais ou plantadas, públicas ou privadas. A certificação de Manejo Florestal pode ser caracterizada por tipo de produto: madeireiros, como toras ou pranchas; ou não madeireiros, como óleos, sementes e castanhas.
A última certificação é a da Madeira Controlada. As normas dessa categoria têm como objetivo orientar as empresas certificadas a evitarem produtos com origem florestal de categorias consideradas inaceitáveis pelo FSC. Apenas os materiais provenientes de fontes aceitáveis pelo FSC podem ser utilizados como controlados. 
Há cinco tipos de madeira que não podem ser misturadas com os materiais certificados pelo FSC: madeira explorada ilegalmente ou em violação de direitos tradicionais e humanos; madeira oriundas de florestas nas quais altos valores de conservação estejam ameaçados por atividades de manejo ou sendo convertidas em plantações ou uso não-florestal; e madeira de florestas nas quais árvores geneticamente modificadas sejam plantadas.

365 dias de cuidado

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Leonel de Moura Brizola, em Flores da Cunha, os cuidados com o meio ambiente vão muito além de uma semana: eles duram o ano todo. No colégio, estudantes, professores e funcionários arrecadam papéis que seriam descartados e os encaminham para a reciclagem, gerando também recursos financeiros para a escola com a venda dos resíduos.
“Isso funciona desde 2019. Nós vamos acumulando folhas, papéis, caixas de papelão, livros e revistas velhas ao longo do ano. Tudo aquilo que os familiares dos alunos, a comunidade em geral, não sabia para onde destinar, nós recolhemos e quando tem um volume, eu chamo o pessoal da Águia Papéis e eles vêm buscar. A maior parte do lixo que sai da escola é papel”, explica a diretora Dorilda Viali Schiavo. 
Esse cenário não mudou com a pandemia. Mesmo com as aulas online, o consumo de cadernos e livros não foi substituído pelo do computador – e além de não diminuir, aumentou. “Nossos alunos têm problemas de acesso à internet, ao celular, aí dificulta”, conta a diretora, que viu a quantidade de papel se multiplicar no ano passado, quando todas as atividades eram impressas pelos professores, mas nem sempre retiradas por alunos ou responsáveis.
A última venda foi em fevereiro, quando a escola recebeu sacos de livros e, com mais alguns guardados na instituição, acumulou cerca de 600kg, que geraram R$ 270 em recursos para a escola, especialmente importantes neste momento. “Com a pandemia, nós não podemos fazer nenhuma festa, nenhum evento, então nós não temos nenhum dinheiro extra. A reutilização dos papéis nos permite comprar algumas coisas para a escola”, comenta Dorita.
Segundo a diretora, o objetivo é expandir o simples projeto nos próximos anos com o intuito de continuar conscientizando a comunidade escolar e principalmente os alunos sobre a importância de ajudar o meio ambiente. “Vontade nós temos de trabalhar com os professores, envolver os alunos e mostrar como fazem o papel, ir lá conhecer a empresa, a fábrica. Ainda não podemos por conta da pandemia, mas é algo que queremos”, encerra a diretora. 

 - Vinhedos Papéis/ Divulgação
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