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Famílias vivem em situação precária

Prefeitura fiscaliza e monitora invasões no Loteamento Pérola III

A rara tarde de calor intenso na última semana da primavera ajudava a exalar o mau cheiro. A casa, limpa e sem forro no teto, é ocupada por nove pessoas. As moscas impedem que alguém fique muito tempo parado no mesmo local. A ninhada de sete filhotes de cachorro se aquecia sob o sol, em uma jaqueta velha, esticada na terra. Atrás da moradia erguida em uma área invadida, porcos e galinhas convivem, ao lado da horta com temperos e ervas e de canos de esgoto que deságuam no Arroio Curuzu. Apesar das condições insalubres, o casal Armando De Ré, 54 anos, e Inês Pereira, 43 anos, dizem que são felizes. “Puxei toda a madeira da casa nas costas. Moro aqui á três anos porque não conseguia mais pagar aluguel”, explica seu Armando, que com dona Inês teve nove filhos (sete moram junto), enxugando o suor do rosto após capinar o lote.

A família de Armando é uma das que ocupou a área onde hoje fica o loteamento Pérola III, há três anos, nas margens da RS-122. Ele garante ser o primeiro a morar ali. Há seis anos veio de São Miguel do Oeste (SC), após um irmão fixar residência em Flores da Cunha e afirmar que ele também poderia vir. “As pessoas ajudam bastante aqui. Recebemos comida e roupas”, observa. Hoje ele e a esposa estão desempregados, mas sustentam a casa com bicos – como faxinas e trabalho em parreirais. Com o passar dos anos, novas famílias de fora de Flores passaram a ocupar a área, o que motivou a prefeitura a iniciar um monitoramento. O secretário de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito, Paulo Ribeiro, cita o projeto Mais Qualidade de Vida, Mais Cidadania, lançado pelo Executivo nessa região no dia 3 de dezembro. “Não buscamos verbas isoladas. Queremos envolver a comunidade e, aos poucos, promover a remoção dessas áreas de risco”, projeta, referindo-se aos loteamentos Pérola II e III. A prefeitura projeta construir um loteamento popular no loteamento União II, com cerca de 80 casas, dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, da Caixa Econômica Federal. “A prefeitura entra com o terreno e a infraestrutura, a Caixa constrói as moradias e encaminha o financiamento diretamente com as famílias”, explica Ribeiro.

Também preocupado com a situação está o vereador Alexandre Scortegagna (PP). Ele visita regularmente o Pérola III e já se pronunciou na Câmara Municipal sobre o problema habitacional. “Casas são erguidas da noite para o dia. É preciso que a situação seja controlada para o problema não aumentar”, constata. Nesse sentido, a prefeitura tem um levantamento dos moradores da região e age, na medida do possível, impedindo novas invasões. “Nossa primeira ação, ao termos a verba liberada pelo Ministério das Cidades, é implantar o loteamento popular. O projeto está formulado. Caso esse dinheiro não venha, vamos buscá-lo em outros meios”, anuncia Samuel de Barros, o provável secretário de Desenvolvimento Social (conforme anunciado pelo prefeito Ernani Heberle, PDT, ao longo do ano) – a Câmara de Vereadores aprovou a criação da secretaria e dos cargos da pasta. “Situação não é tão ruim” Outra moradora do Pérola III é a dona de casa Elizete Pereira da Cunha, 23 anos. Acompanhada das três filhas, ela mora na casa que fica ao lado da destruída pela queda de um pinheiro no temporal que caiu na cidade na madrugada do dia 2 de setembro. “Eu tenho água encanada, mas algumas pessoas não têm”, conta – a família do seu Armando e da dona Inês também tem água e energia elétrica legalizadas. Na tarde de segunda-feira, dia 14, a jovem, que estudou até a 5ª série, estendia roupas quando parou para contar que mora no local há menos de um ano. “Vim de Santa Catarina com minha mãe. Eu tinha cinco anos”, diz, complementando que tem 13 irmãos, todos residentes no município. O marido, metalúrgico, garante o sustento da casa. “Gosto de morar em Flores da Cunha. A situação não é tão ruim assim”, sentencia Elizete, ao mostrar canos de esgoto localizados ao lado de uma vertente de água.

Invasões no loteamento Pérola III estão sendo monitoradas. - Fabiano Provin
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