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Expectativa é de que a safra 2017 seja normal

Depois da quebra de mais de 50% da última colheita, produtores de Flores da Cunha acreditam em uma produção semelhante a de 2015

No capitel São João Bosco, no distrito de Otávio Rocha, os vinhedos já estão perfumados de vindima. A variedade Niágara Rosada, produzida sob a cobertura plástica instalada no último ano, está de encher os olhos, com boa sanidade e qualidade. Desde a última semana, a família de Nilson Molon, 51 anos, já colhe com cuidado os cachos que seguem para consumo in natura na Central de Abastecimento (Ceasa) de Porto Alegre. Diferente da maioria dos produtores do distrito e do restante de Flores da Cunha, a cultivar já está pronta para colher. “Este parreiral fica em uma parte mais baixa e mais úmida da propriedade, por isso acabou amadurecendo um pouco antes do restante da área plantada”, explica Molon, que produz ainda tomate e quivi. A expectativa do agricultor é de colher cerca de 60 mil quilos de uva nos 3 hectares de vinhedos da família. A produção dele integra os 600 milhões de quilos de uva esperados para a safra 2017 no Rio Grande do Sul, de acordo com dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) – o número representa cerca de 100% a mais se comparado ao ano anterior, quando foram colhidos pouco mais de 300 milhões de quilos em solo gaúcho.

Flores da Cunha, que amargou na última safra uma perda em mais de 50% devido a chuvas em excesso e granizo – foram 42,2 milhões de quilos colhidos e 34 milhões de quilos da fruta comprados de outros municípios e processados em solo florense –, a expectativa é de que sejam colhidos nesta safra mais de 80 milhões de quilos da fruta, que dá ao município o título de maior produtor brasileiro. Para comparação, na safra de 2015 foram 88,6 milhões de quilos. Depois desse cenário, felizmente as previsões são boas e tudo indica que as condições climáticas e o manejo realizado pelos produtores ao longo dos meses ajudarão para que a safra de uva se normalize esse ano.

Avaliações

Com boa sanidade, a expectativa desta safra é de uvas de qualidade, de acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua e vice-coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin. Os períodos menos propícios para ataques de fungos e problemas de doenças que permearam na formação dos cachos colaboraram com a expectativa positiva. As noites mais frescas de dezembro ocasionaram um atraso na maturação das uvas, com início da colheita previsto para o final de janeiro, variando de acordo com a cultivar e o clima.

Para a secretária de Agricultura e Abastecimento de Flores da Cunha, Stella Mari Pradella, esta será uma boa safra, mas o período de maturação dos cachos exige dias mais ensolarados para garantir aos grãos cor e grau glucomérico (teores de açúcares). As chuvas diárias das últimas semanas ainda não prejudicaram os vinhedos, mas a expectativa é que o sol volte a prevalecer. “Se essas condições permanecerem pela próxima quinzena aí sim poderemos ter problemas na maturação final da uva. Mas como a produção está atrasada, as últimas chuvas não prejudicaram as produções”, explica Stella, que é engenheira agrônoma. Em termos de volume, a safra promete ser dentro da normalidade.

Expectativa por melhores preços

Para o agricultor Nilson Molon, a qualidade das uvas que ele já começou a colher destoa do preço da fruta no mercado. Na última safra Molon colheu apenas 4 mil quilos de uva dos três hectares de vinhedos, que alternam as variedades Niágara Rosada e Bordô, esta última destinada para a produção de vinho. Com as perdas em função do clima, Molon decidiu investir e instalou a cobertura plástica em parte dos parreirais. Neste ano as mudanças já foram observadas. “Esta é a primeira safra com uvas cobertas e a qualidade é outra se comparada aos parreirais tradicionais. O custo-benefício também é grande, pois utilizei muito pouco insumo nesta área. Uma pena que o preço não está como gostaríamos”, acrescenta o agricultor, que conta com o auxílio da esposa Isabel Monego Molon, 45 anos; do sobrinho Tales, 21 anos; e até mesmo do filho, o pequeno Róger, de oito anos. Neste ano o preço mínimo da uva espitulado pelo governo foi de R$ 0,92 ao quilo (refere-se à variedade Isabel de 15º Babo).

Contrastando com os 4 mil quilos colhidos na última safra, neste ano a expetativa da família é de colher cerca de 60 mil quilos de uva. As previsões boas de Molon são as mesmas de produtores espalhados pelo Rio Grande do Sul. Depois de uma perda de 57% em 2016 – considerada a maior quebra desde 1969 –, a expectativa é que a produção gaúcha seja praticamente o dobro da colhida na última safra. No Estado, as primeiras uvas começaram a ser colhidas no início de janeiro, com maior incremento de volume a partir da segunda quinzena do mês, de acordo com o vice-presidente do Ibravin e presidente da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho/RS), Oscar Ló. “Estamos muito contentes com a qualidade, os vinhedos estão com uma boa produção. Tudo indica que teremos uma safra normal e, com isso, os estoques também deverão voltar aos patamares dos anos anteriores, alcançando o armazenamento de cerca de 150 milhões de litros. A quebra do último ano não impactará negativamente na qualidade e nem no volume da produção desta safra”, avalia Ló.

 

Tendo como destino a Ceasa de Porto Alegre, uvas produzidas pelo agricultor Nilson Molon já estão sendo colhidas em Otávio Rocha. - Camila Baggio/O Florense
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