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Excesso de chuva faz agricultores aumentarem atenção

Mês de setembro foi chuvoso, 13% acima da média, motivo para que os produtores de Flores da Cunha e Nova Pádua antecipassem alguns cuidados

Trinta dias. Destes, 15 com muita chuva, chegando aos 210 milímetros em Flores da Cunha e 189 milímetros em Nova Pádua. Na Serra Gaúcha, o mês de setembro registrou um índice 13% acima da média prevista para esse período, que é de 169 milímetros. A chuva expressiva no início da primavera deixou agricultores florenses e paduenses de olhos atentos nas culturas que começaram a se desenvolver agora. A parreira começou a brotação, assim como o alho e a cebola com o desenvolvimento do bulbo. Embora o frio e a chuva não sejam fenômenos esperados para esta época, a agricultura não deve sentir maiores prejuízos. Mas os produtores devem estar atentos para as doenças.

Setembro é conhecido por abrir a temporada das flores e da primavera. As temperaturas começam a subir e gradativamente abandonam as características do inverno. Mas neste ano o mês será lembrado também pela quantidade de chuva – mais da metade dos dias foram chuvosos, com maior índice registrado no feriado Farroupilha (dia 20), com 83 milímetros na Serra e 110mm em Nova Pádua, resultado de uma forte instabilidade.

De acordo com o meteorologista Flávio Varone, do Centro Estadual de Meteorologia (Cemet-RS), a instabilidade não deve durar mais muitos dias. A partir de agora, e gradativamente, as temperaturas devem subir, contudo, serão amenas à noite e na madrugada, uma condição típica da primavera. “O volume de chuva deve ficar dentro da normalidade, que em outubro é em torno de 160mm a 180mm. O índice é um pouco alto devido a algumas instabilidades vindas da Argentina que devem cruzar o Estado, mas dentro da média”, aponta Varone.

Para os meses de novembro e dezembro as chuvas diminuem, de acordo com as características de proximidade com o verão, onde são mais esporádicas, com uma média de 130mm a 150mm. “No verão a Serra Gaúcha é uma das áreas onde mais chove no Estado em função do relevo que favorece a formação de nuvens e também pela proximidade do mar. Com os dados que temos hoje podemos prever uma condição de chuva regular”, explica o meteorologista.

Olhos atentos
Embora as chuvas tenham um índice maior do que a média, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, aponta que ainda é cedo para registrar algum dano ou perda nas produções. “Tudo varia de acordo com o estágio em que estão as culturas. Obviamente que ainda dependemos do clima até o final do seu ciclo, mas na minha avaliação ainda é cedo para saber se essas chuvas vão ou não prejudicar a qualidade dos produtos. Isso depende de uma série de fatores, como época do plantio, variedade e estágio”, acrescenta Schiavenin.

A videira está em fase de brotação e os agricultores estão atentos para doenças que se proliferam com a umidade e calor. Tratamentos antes utilizados no período de floração, no final de outubro a novembro, foram antecipados com o objetivo de evitar futuras complicações na fase mais importante para a produção, a da floração. “Ainda é cedo para estimar a qualidade da safra da uva de 2014, mas o produtor está atento e ainda não temos motivos para preocupações”, acrescenta Schiavenin.

Prevenção e busca por novidades
O agricultor Vanderlei Menegat, 42 anos, procurou neste ano novos produtos para diminuir os prejuízos com a instabilidade das temperaturas. Nas últimas duas semanas de setembro a Serra Gaúcha teve registros de geada, que foi notada por alguns produtores em vinhedos de Flores e Nova Pádua. No Travessão Paredes, na propriedade de Menegat, as parreiras ficaram intactas após a geada, isso porque ele buscou com agrônomos uma espécie de suplemento para as videiras, deixando-as mais resistentes.

Menegat aplicou o produto nos mais de 2 hectares das variedades Bordô, Niágara e Isabel. E sentiu a diferença. “Estamos investindo em opções que nos ajudem a prevenir futuras perdas. Notei que a parreira ficou mais forte e não foi afetada pela geada. É um custo a mais, mas que vira investimento quando notamos que funcionou”, valoriza o produtor, que conta com a ajuda da esposa Ivete e da filha Vanessa para trabalhar na propriedade.

O paduense explica que o excesso de chuva também não prejudicou as parreiras, mas fez com que os tratamentos programados para novembro fossem adiantados. “Percebemos isso com a brotação que começou muito bonita, mas começou a ser prejudicada com a alta umidade. Iniciamos o tratamento para evitar futuras perdas”, destaca. Menegat busca em palestras realizadas em Nova Pádua novidades que possam auxiliar na rotina da colônia, além de diminuir possíveis perdas provocadas pelo clima. De acordo com o chefe do escritório da Emater paduense, Leonildo Sperotto, a geada registrada em setembro apenas fez com que a parreira desacelerasse a brotação, não apresentando perdas significativas.

Problemas podem chegar se a precipitação aumentar
Para as parreiras, no início da primavera, quando a temperatura aumenta, as gemas são reidratadas (chuva, neblina, alta umidade do ar) – elas gradualmente desaclimatam e perdem a resistência às baixas temperaturas. Mas para que isso aconteça elas precisam estar livres de doenças – principal problema dos altos índices de chuva. De acordo com o chefe do escritório da Emater-RS de Nova Pádua, Leonildo Sperotto, o excesso de água pode trazer doenças, aumentando a necessidade de utilização de produtos. “A parreira não quer saber de chuva, precisa se firmar para a floração com temperaturas altas. A umidade é bem-vinda lá no verão, na formação e maturação do grão, quando a planta precisa de água e nutrientes. Para evitar doenças o produtor deve estar atento e antecipar os tratamentos, o que infelizmente aumenta o trabalho e os investimentos. O solo é tudo e agora a atenção deve ser extrema”, destaca.

Assim como a parreira, o alho e a cebola estão se desenvolvendo e podem ter problemas no crescimento do bulbo, apresentando o perfilhamento. “Agora é uma época em que o alho está crescendo e certamente a chuva em excesso é prejudicial para a qualidade, pois depois ele é vendido em uma seleção menor e com baixo preço”, adianta Sperotto.

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de Flores da Cunha está orientando produtores sobre as doenças da videira, como a Botritis. Por ser verificada antes do tempo, que geralmente é na floração, a recomendação é que os produtores procurem um agrônomo para o controle da doença.

A Botritis tem como sintomas o surgimento de uma lesão cinza nas folhas ou em partes do cacho. Na folha também aparecem manchas marrons como se fossem desenhadas uma após a outra na forma de anéis. O dano ocorre principalmente no cacho que pode cair ou perder partes. Isso resulta em perda de produção.

Algumas ações preventivas já foram antecipadas por Menegat, no interior de Nova Pádua. - Camila Baggio
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