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Especial Enoturismo: Passeio pelos caminhos do vinho

Confira primeira de uma série de reportagens sobre o assunto

A admiração pelo mundo do vinho vem crescendo ao longo dos últimos anos, seguindo a expansão produtiva e mercadológica do segmento pelo planeta. No Brasil, a cultura do vinho e o conhecimento que o envolve é recente. No entanto, nos últimos tempos, tem-se percebido, da mesma forma que o crescimento na qualidade dos vinhos locais, o interesse maior das pessoas pela história, pelos mistérios e pelas regiões onde a bebida é elaborada. E a melhor maneira de aprender mais sobre a rica cultura do vinho é justamente viajar para as regiões produtoras, visitando vinícolas, participando da colheita e buscando informações sobre os processos de elaboração e os diferentes tipos de vinhos. Aliado a isso, tem-se, ainda, os atrativos que cercam esse cenário: as belas paisagens dos vinhedos e a arquitetura. É esse cenário que está possibilitando a ascensão de um setor relativamente pequeno até poucos anos atrás: o enoturismo. O turismo de vinhos tem destaque em diversos países do mundo, como nos Estados Unidos, no Vale do Napa; em Portugal, no Douro; na Itália, em duas regiões: no Piemonte e Toscana; na França, Champagne-Ardenne; e na Argentina, em Mendoza. No Brasil, a Serra Gaúcha se destaca através de roteiros como o Vale dos Vinhedos, o Vinho dos Altos Montes (roteiro da Apromontes, leia mais na página 13), a Associação dos Produtores de Vinhos, de Pinto Bandeira e a Rota dos Espumantes, de Garibaldi. Mas também há projetos neste sentido em parte do Vale do São Francisco, no nordeste brasileiro. Conceito

Mas, o que é, especificamente, esse turismo do vinho? Segundo o coordenador do curso de Turismo da Universidade de Caxias do Sul e pesquisador em enoturismo (mestrado na área e agora doutorando no mesmo setor) Vander Valduga, o termo enoturismo é resultado da união de eno e turismo, sendo que eno deriva do grego oînos e significa vinho. “É um segmento da atividade turística que se fundamenta na viagem motivada pela apreciação do sabor e aroma dos vinhos e das tradições e tipicidade das localidades que produzem esta bebida”, explica. E complementa: “é um segmento do fenômeno turístico, que pressupõe deslocamento de pessoas motivadas pelas propriedades organolépticas e por todo o contexto da degustação e elaboração de vinhos, bem como a apreciação das tradições, da cultura, da gastronomia, das paisagens e tipicidades das regiões produtoras de uvas e vinhos. É um fenômeno dotado de subjetividade, em que a principal substância que o configura de fato é o encontro com quem produz uvas e vinhos”, salienta. No livro ‘O espaço geográfico e o turismo na Região da Uva e do Vinho no nordeste do Rio Grande do Sul’, a professora de Geografia da Universidade de Caxias do Sul e pesquisadora sobre regiões vitivinícolas para indicações geográficas, Ivanira Falcade, destaca que “o enoturismo pode ser definido como o deslocamento de pessoas, cuja motivação está relacionada ao mundo da uva e do vinho”. O vinho e as pessoas que o produzem são os agentes motivacionais do enoturismo, visto que cada safra de uvas é diferente e não se podem ter vinhos iguais, pois ele possui as características de seu terroir (expressão francesa que denota a tipicidade das características locais de um produto, bem como do manejo empregado na sua produção. Do ponto de vista enológico, a definição do termo terroir é bastante complexa, requer diversos estudos e análises dos produtos e da tipicidade do solo, clima, pluviosidade, além do manejo).

Enoturista O turista do vinho, ou o enoturista, é a pessoa que sai de sua casa com o objetivo de conhecer algo relacionado à vitivinicultura, seja uma visita a uma região, a um museu, a famílias produtoras ou apenas para participar de um curso degustação de vinhos. No Brasil, segundo a autora do livro “Políticas de Turismo – Planejamento na Região Uva e Vinho”, Ivane Maria Remus Fávero, definir enoturista ainda é um pouco difícil se comparado aos enoturistas da Europa, por exemplo, já que os mesmos são educados desde criança para valorizar o vinho, consumi-lo e defende-lo. “Aqui, nem sempre, o turista que chega é um conhecedor de vinhos. Em todo o processo vemos que o enoturismo está ajudando a educar para um consumo, porque a pessoas chegavam aqui e nunca tinham bebido vinho, ou, se tinham, era vinho de mesa. Aí chegam aqui e começam a conhecer outros vinhos, como o espumante”, explica.

Investimentos na Rota dos Vinhos dos Altos Montes

Situada a 756 metros acima do nível do mar, Flores da Cunha é um lugar privilegiado para o vinho. Aqui, nasceu o primeiro vinho fino brasileiro, um Cabernet Sauvignon, elaborado a partir de um pioneiro parreiral de uvas viníferas plantadas em 1929. Oito décadas depois, a fertilidade histórica dessa terra se reafirma por meio do enoturismo. "Acredito que o enoturismo é que irá alavancar o turismo local. Será o turismo do vinho que irá, consequentemente, puxar os demais segmentos", prevê o presidente da Associação dos Produtores dos Altos Montes - Apromontes, Eumar Viapiana. Segundo dados da entidade, que congrega doze vinícolas, no ano passado cerca de 11,5 mil pessoas visitaram o roteiro turístico Vinhos dos Altos Montes, traçado entre Flores e Nova Pádua. Até setembro desse ano, mais de 8,7 mil pessoas passearam pelas vinícolas e degustaram seus vinhos. “Podemos aumentar ainda esses números porque temos cerca de 200 vinícolas e todos os nossos roteiros turísticos estão intimamente ligados ao vinho”, destaca o secretário de Turismo, Carlos Lisboa. Conforme Lisboa, estão sendo feitos investimentos fortes por parte dos empreendedores, principalmente em estrutura física, para receber turistas. “Estamos evoluindo, já que temos excelentes vinícolas, belas paisagens e condições para isso. Mas, precisamos investir muito em qualificação, estrutura da cidade e divulgação. Temos um grande produto que está cada vez melhor e é preciso mostrá-lo”, frisa. Nesse sentido, a Prefeitura Municipal está divulgando o enoturismo em feiras, como a Expotchê, que acontecerá no próximo ano, em Brasília, e na Festa da Uva 2010. “Nesses locais teremos um espaço para mostrar o que Flores tem e destacar o nosso principal produto que é o vinho”, aponta Lisboa. A construção da sede própria da Apromontes, junto ao pórtico municipal, é um dos fatores relevantes para esse tipo de turismo. O projeto, estimado em R$ 200 mil, é uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Prefeitura Municipal, e aguarda por definições. Além de ser sede da Apromontes, a construção será um ponto de recepção de turistas, realização de palestras e encaminhamentos para os roteiros enoturísticos e enogastronômicos. "É um dos ganchos para o desenvolvimento turístico, bem como o incremento em enoturismo que estamos fazendo junto com o Sebrae/RS para qualificar o atendimento", destaca Viapiana.

Busca pela qualificação A predominância do vinho comum de menor preço e maior escala é ainda forte na região. O grande volume desse tipo de bebida dá ao Município o título nacional de maior produtor de vinhos. Entretanto, um salto na fabricação de vinhos finos tem desenvolvido a cidade como destino enoturístico. Conforme Viapiana, a evolução dos vinhos dos Altos Montes, que vem há cerca de sete anos, é o resultado de um trabalho atento dos produtores para aprimorar seus vinhos finos. "Uma dessas frentes é a avaliação interna que realizamos para monitorar os produtos comercializados e fazer uma auto-avaliação", destaca Eumar. "Todos os vinhedos novos implantados são em espaldeira, estamos diminuindo a produção por hectare e trabalhando a vinificação para qualificar cada vez mais", complementa. Essas mudanças nos métodos de plantio, colheita e vinificação estão sendo feitas para que dentro de alguns anos a região possa estampar no rótulo de suas garrafas o selo de Indicação Geográfica (IG) dos Altos Montes. O selo de controle de procedência, já atingido pelo Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, é a certificação que assegura a qualidade dos vinhos produzidos na localidade. "Está em andamento e a previsão é de obtermos em 2012. Essa Indicação irá impulsionar ainda mais o turismo e tornar a rota reconhecida internacionalmente", pontua Viapiana. Novas variedades O desenvolvimento de novas variedades de uvas viníferas tem sido também uma das principais estratégias dos produtores para revigorar os Vinhos dos Altos Montes. Sem deixar de plantar as tradicionais Cabernet Sauvignon e Merlot, as vinícolas locais têm investido em produção de uvas menos conhecidas dos consumidores, como Malvasia de Cândia, Montepulciano, Refosco, Marselan, Moscatto Giallo, Touriga Nacional e Alicante Bouchet. Outro predicado importante são os investimentos na qualificação que as doze vinícolas vêm cultivando. Pelo menos três delas estão prestes a inaugurarem novos espaços. A Vinícola Luiz Argenta é uma. Um arrojado prédio está sendo construido e quando estiver finalizado irá inaugurar em solo florense o processo de vinificação por gravidade. Dessa forma, do topo à base, a uva irá escoar por quatro andares para passar pelas diversas etapas do processo de vinificação. Outro investimento está sendo feito pela Vinícola Monte Reale. Até 2013, a cantina deverá inaugurar junto as suas instalações um hotel com 108 apartamentos. E a Viapiana – Vinhos e Vinhedos inaugura neste mês um novo espaço turístico. Uma moderna estrutura abrigará boutique, wine bar, restaurante e sala de degustações técnica para a realização de cursos e workshops. "Todas estão focadas no aprimoramente para o enoturismo e adaptando espaços para isso", afirma o presidente da Apromontes. Vinhos dos Altos Montes A Rota dos Vinhos dos Altos Montes é formada por doze vinícolas da Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes (Apromontes). São elas: Cooperativa Vinícola São Pedro, Vinícola Luiz Argenta, Valdemiz Vinhos Finos, Panizzon Bebidas, Terrasul Vinhos Finos, Vinhos Mioranza, Vinícola Salvador, Viapiana Vinhos & Vinhedos, União de Vinhos do Rio Grande, Fante Indústria de Bebidas Ltda, Vinícolas Góes & Venturini e Fabian Vinhos Finos. Criada em 2002, a entidade tem por objetivo promover a organização da área geográfica determinada para a produção de vinhos finos, visando sua certificação de origem, divulgação e comercialização. Por isso, incentiva a pesquisa vitivinícola, bem como a qualificação dos vinhos e de seus derivados, e trabalha para desenvolver o potencial turístico da região. O roteiro com mais de 30 quilômetros inclui visitação, degustação e varejo. Enoturismo no Brasil – outros roteiros Vale dos Vinhedos O enoturismo no Brasil iniciou seu desenvolvimento pela Serra Gaúcha, na região, o Vale dos Vinhedos é a principal rota, constituída por 31 vinícolas e mais de quatro dezenas de empreendimentos ligados ao setor. Enquanto em 2008 o Vale recebeu 65.200 visitantes, somente nos meses de junho, julho e agosto de 2009, esse número chegou a 69.670. Conheça mais no site: Vale dos Vinhedos Asprovinho Conhecida como a região de montanhas de Bento Gonçalves, a 750 metros de altitude, Pinto Bandeira está localizado em um dos pontos mais belos da Serra gaúcha. O roteiro é formado por oito vinícolas. Conheça mais no site: Asprovinho Rota dos Espumantes O roteiro é formado por sete vinícolas de Garibaldi. O turista pode conhecer a elaboração da bebida pelos processos como o charmat e o champenoise, acompanhar processo de engarrafamento e guarda e orientações sobre servir e degustar espumantes. O roteiro turístico permite ao visitante conhecer desde vinícolas multinacionais até empresas familiares. Mais informações podem ser obtidas no site Rota dos Espumantes. Vale do São Francisco A região do Vale do São Francisco conta com sete vinícolas, além de um vasto número de atrativos naturais e gastronômicos. O clima com temperaturas mais elevadas é um convite a um passeio de barco pelas praias do rio e um mergulho nos lagos. O Vale do São Francisco é considerado uma das melhores regiões do mundo para o plantio de uvas em razão da pouca chuva. Enoturismo no mundo – alguns roteiros Vale do Napa - EUA Mendoza - Argentina Borgonha - França Champagne-Ardenne - França Toscana, Piemonte e Região do Prosecco - Itália Cape Winelands - África do Sul Douro - Portugal
 - Divulgação
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