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Esgoto no loteamento Monte Belo preocupa há 13 anos

Falta de infraestrutura prejudica moradores da localidade vizinha de São Cristóvão que convivem com mau cheiro

Embora o saneamento básico seja uma das áreas que mais preocupa as administrações municipais do país, muito ainda se discute para melhorar essa condição primordial para uma comunidade saudável. Hoje o percentual de esgoto tratado em Flores da Cunha é zero, número que pode começar a mudar com a construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Lagoa Bela e a ligação da rede a este local, com isso o município passará a tratar 70% do esgoto cloacal (leia mais abaixo). Mas, enquanto o projeto não sai do papel, outras regiões do município preocupam pela falta de infraestrutura, como, por exemplo, o loteamento Monte Belo. A região foi pauta das últimas sessões da Câmara de Vereadores, que apontaram o descaso em que o esgoto desemboca em uma área verde e acaba prejudicando famílias da comunidade vizinha de São Cristóvão, que sofre com o mau cheiro e o risco de doenças.

Um problema antigo, de pelo menos 13 anos. Esse é um dos argumentos que o presidente da Câmara de Vereadores, Jorge de Godoy (PP), o Jorgito, utilizou para reivindicar ações de saneamento no loteamento, que acaba originando problemas em São Cristóvão. O assunto voltou à Casa Legislativa pela procura de moradores que sofrem com o mau cheiro e os problemas que um esgoto a céu aberto pode trazer. “O esgoto é segurança pública na questão da saúde. A situação está aí desde 2001, são 13 anos em que o problema foi apresentado e não foi resolvido. Temos que parar de encontrar culpados e buscar soluções para os problemas. É uma área de domínio público, que está dentro do perímetro urbano do município e que está sem condições básicas de habitabilidade”, defende o vereador.

De acordo com a secretária de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito, Ana Paula Ropke Cavagnoli, o loteamento Monte Belo começou a ser projetado e construído antes da lei que obriga a instalação de fossa e filtro nas casas, ou até das estações de tratamento. A legislação mudou no meio do caminho e nem tudo foi adequado. “Nesta transição acreditamos que foram feitas algumas mudanças, mas não as suficientes. Hoje, nos novos projetos, é exigida a execução de uma fossa e filtro em cada casa. Esse é um importante tratamento do esgoto. Infelizmente podem ter casas mais antigas que não contam com isso”, reconhece a secretária. Mas, quem fiscaliza?

O esgoto que sai das ruas do loteamento Monte Belo acaba despejado em uma área verde que, pelo declive natural, chega a famílias de São Cristóvão. Em administrações anteriores um projeto chegou a ser feito com o objetivo de resolver o problema, mas nunca saiu do papel. “Esse projeto previa a construção de três ou quatro estações menores, dentro do próprio loteamento, atendendo as famílias. Mas isso é muito pouco, é necessário ver a situação de toda a tubulação, além de fazer todo um novo sistema, levando o esgoto das casas até a estação”, observa Ana Paula.

Por enquanto, sem projeto

Embora o problema seja de conhecimento de todos, atualmente a prefeitura não trabalha em nenhum projeto para a região no que diz respeito ao esgoto. De acordo com o prefeito Lídio Scortegagna (PMDB), a Secretaria de Planejamento está estudando algumas alternativas na busca pela solução do impasse. “Existem alternativas que devem ser escolhidas antes de trabalharmos em um projeto. Até agora temos duas opções e estamos vendo qual deve solucionar isso da melhor maneira possível”, explica.

A secretária Ana Paula reforça que são discutidas futuras ações. “Temos alguns estudos que foram feitos em administrações anteriores. Por estar no topo de uma montanha, não tem como ter apenas uma estação de tratamento, a região é inclinada e tem várias ‘caídas’. Pensar em mudanças ali é um pouco mais complicado, até por já ter uma estrutura consolidada. Sabemos que o problema existe, assim como em outras regiões mais antigas, que quando foram construídas não era exigida a fossa e filtro, mas o assunto está sendo monitorado”, garante Ana Paula.

As duas alternativas comentadas pelo prefeito são para canalizar o esgoto e levar para outra área, o que teria alto custo, e a construção de fossas em vários pontos do loteamento, opção que necessita de uma nova tubulação em todas as ruas. “Sabemos que esse problema existe e que é gravíssimo. Estamos dedicando trabalho para tomarmos uma atitude logo”, garante o prefeito.

Atualmente as residências são obrigadas a executar com a obra a construção da fossa e filtro para o esgoto cloacal. Em algumas regiões do município, a prefeitura não deve fazer alterações no saneamento, já que futuramente a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) irá canalizar todo o esgoto para uma estação a ser construída na localidade de Lagoa Bela.

Na discussão do problema, a Câmara de Vereadores apresentou fotos que mostram que, além de prejudicial para a população, a situação é ruim para o meio ambiente. “No local onde está sendo desbocado o esgoto já se encontram nascentes de água contaminada, além de uma área verde com plantas que são protegidas por legislação estadual. Sem contar na proliferação de animais peçonhentos e doenças. Vamos esperar quanto tempo para tomar uma atitude?”, questiona o vereador Godoy. Em resposta, o líder de governo na Casa, Valdir Franceschet (PMDB), concordou que o problema exista, porém, utilizou o argumento político de que a criação do Monte Belo ocorreu na segunda administração do ex-prefeito Heleno Oliboni (PDT), entre 2001 e 2004.


Desconforto dentro das residências

Para as famílias de São Cristóvão que sofrem pela falta de planejamento do loteamento vizinho, tanto as chuvas como os dias de calor intenso ocasionam situações de desconforto dentro da própria casa. Além do mau cheiro, as chuvas trazem muita sujeira e água contaminada.

Assim é na casa de uma moradora que é empresária em Caxias do Sul e prefere não divulgar o nome por temer represálias. O terreno onde mora conta com uma nascente de água que era utilizada pela família. Agora, contudo, está tudo contaminado. “Mandamos analisar a água e ela não pode mais ser utilizada. Todo o esgoto do loteamento cai na área verde e chega até nossas casas. Não é respeitada nem a natureza nem as pessoas. Quando chove é extremamente desagradável, além do odor. Hoje os órgãos públicos prezam tanto o meio ambiente e depois fazem isso”, desabafa a moradora. “Os alagamentos são terríveis, tirando que é melhor nem pensar em que estado está aquela água que entra nas casas”, complementa uma vizinha.

De acordo com a proprietária de uma empresa próxima à saída dos dejetos, em São Cristóvão, no ano passado a prefeitura espalhou terra com o objetivo de dificultar que a água invada as casas. “Ajudou um pouco, mas quando chove não adianta. O cheiro é insuportável”, lamenta.

Foto/Camila Baggio

Canos saem das moradias e desembocam na área verde.


Estação de tratamento permanece no papel

Não será em 2014 que a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Lagoa Bela sairá do papel para se tornar realidade. A expectativa de que a obra iniciasse neste ano travou na definição do terreno onde será instalada a estação que deve tratar cerca de 70% do esgoto cloacal de Flores da Cunha. A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) tem 10 anos, a contar de 2010, para entregar o empreendimento.

De acordo com informações enviadas pela assessoria da Corsan, atualmente a estatal trabalha na definição da compra do terreno para a construção da ETE. A primeira área, segundo o superintendente-adjunto da Regional Nordeste da Corsan, Lutero Fracasso, não foi adquirida pelo alto preço solicitado pelo proprietário. “A Corsan então procurou outra área, bem próxima a essa primeira, que obedece todos os requisitos segundo a equipe técnica que esteve no município há 20 dias. Estamos ainda medindo e fazendo os estudos para ter certeza de que o local pode receber a estação de tratamento”, complementa Fracasso, referindo-se à localidade de Lagoa Bela.

Além do terreno, o projeto final da construção do complexo de esgotamento sanitário pelo sistema misto progressivo está em fase de elaboração. Inicialmente a Corsan irá investir cerca de R$ 5 milhões. Ao longo dos 25 anos de vigência do contrato (renovado em 2011), a previsão da Companhia é de investir cerca de R$ 40 milhões em Flores da Cunha.


Estudo deve amenizar alagamentos em São Cristóvão

Um estudo que está em andamento deve amenizar alagamentos em São Cristóvão. Isso é o que as famílias da localidade esperam. Além do esgoto que incomoda os moradores, toda a comunidade sofre com problemas de alagamento, como o registrado no início de 2012, quando as águas do Arroio Curuzu levaram parte da Rua Luiz Zanandréa e da galeria subterrânea, além de provocar a morte do taxista Olásio Minetto, 57 anos, que trafegava pelo local no momento da enxurrada.

Desde aquela época a prefeitura buscou uma parceria com o Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade da Caxias do Sul (UCS) para apurar informações geográficas. O contrato foi repassado à Corsan, mas a Secretaria de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito assinou outro contrato, este com uma empresa que deve estudar e região e buscar resolver os problemas de alagamento.

Desde maio deste ano a Sanetal Engenharia e Consultoria, de Santa Catarina, tenta identificar como resolver os problemas de alagamentos na região do Acesso Sul de Flores da Cunha. A empresa trabalha na topografia para drenagem, desenvolvendo planos de ação e de prioridades no sistema de macrodrenagem da sub-bacia hidrológica que abrange São Cristóvão, São Pedro, São João e arredores. “A ideia principal do projeto, e que deve resolver, é a construção de bacias de contenção para regular a saída de água, ‘piscinões’ que seguram a água das chuvas”, explica a secretária Ana Paula Ropke Cavagnoli. O investimento é de R$ 147,5 mil apenas para o estudo.

A Sanetal já fez visitas ao município e conheceu áreas disponíveis para serem criadas as bacias. “Esses mecanismos resolveriam os alagamentos em São Cristóvão. São ações utilizadas em Caxias do Sul e também no Estado de São Paulo”, exemplifica a secretária.


Dejetos do Monte Belo escorrem e caem no Arroio Curuzu, em São Cristóvão. - Camila Baggio
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