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Escola Estadual Marcos Martini fecha por falta de alunos

Localizada na Linha 60, instituição tinha apenas três estudantes matriculados. Escola de Mato Perso também está com poucos discentes e em turmas multisseriadas

Poucos alunos têm colocado incertezas no futuro das escolas estaduais do interior. Neste ano, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Professor Marcos Martini, localizada na Linha 60, está em processo de fechamento. A instituição que possuía os anos iniciais do ensino fundamental, de 1º ao 5º ano, desde 2017 estava realizando reuniões com a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e a comunidade para definir o fechamento da escola devido ao reduzido número de alunos. Para 2019, a estimativa era que apenas três alunos permanecessem na instituição. Conforme a coordenadora pedagógica da 4ª CRE, Ivanete Rocha de Miranda, o setor de estrutura e funcionamento está providenciando todos os papéis pertinentes para o encerramento das atividades.

“Foi uma ação realizada em conjunto com a comunidade e a coordenadoria. Como apenas três alunos estudariam este ano no local, os pais preferiram destinar as crianças para outras instituições da cidade e também para Caxias do Sul”, explica Ivanete. 

A diretora da Escola Marcos Martini, Patrícia Munari Variani, conta que a instituição possuía, em 2018, nove alunos, seis deles no 5º ano – último ano na escola. Ela atuava como professora e diretora, com todos os alunos em uma única sala de aula. “Nossa estrutura sempre foi pequena, temos duas salas de aula, mas sempre fomos muito bem atendidos pelo Estado, nunca faltou nada”, destaca Patrícia. No início, a escola possuía duas professoras e uma merendeira, mas com o número de alunos diminuindo, e para conter as despesas, a diretora ficou sozinha para atender as crianças. “É um desafio constante para os professores terem alunos de anos diferentes que dividem a mesma sala de aula. Todos se apavoram e acham que não é dada uma boa educação, muito pelo contrário, nos dedicamos mais. Digo que os conteúdos são os mesmos, mas são aprofundados de maneiras diferentes para cada ano. Então, a partir do tema gerador, eu conseguia adaptar para todos os alunos conforme o grau de dificuldade”, explica. “Todos os professores deveriam trabalhar assim, porque não existe isso de se acomodar. Se uma criança for meu aluno no 1º ano e eu fazia um trabalho específico, não posso repetir esse trabalho por quatro anos. Então, eu sempre estava com novidades. Não existia repetir uma palavra cruzada ou um texto”, destaca Patrícia. Para aproveitar o espaço, no último ano a diretora montou uma sala de jogos na área que estava ociosa para incentivar os estudantes. 
Os materiais da escola, como armários, classes, cadeiras, mesas, eletrônicos, livros e brinquedos foram encaminhados a outras instituições estaduais.

Classes multisseriadas também em Mato Perso

No distrito de Mato Perso o cenário se repete. Poucos estudantes e salas de aula com turmas multisseriadas. A Escola Estadual de Ensino Fundamental Antônio de Souza Neto possui 79 alunos de 1º a 9º ano, sendo que alguns estão tendo aulas em conjunto. São os casos do 1º, 2º e 3º ano; 4º e 5º ano; e do 8º e 9º ano. As classes multisseriadas são a solução para a falta de alunos na escola. A diretora Andreza Maria Bertuol ressalta que a situação vem de anos, mas em 2019 está mais difícil. “Temos professoras para suprir as demandas das turmas separadas. Mas é uma ordem do Estado. Para eles, o que importa é o número de alunos em sala de aula e não a qualidade do ensino”, salienta.
A escola, neste ano, possui nove alunos no 1º ano, cinco alunos no 2º e sete no 3º, totalizando uma turma de 21 alunos. No 4º ano, apenas quatro alunos estão matriculados, e no 5º são 11. O 6º e 7º ano estão separados, com 12 e 10 alunos respectivamente, mas conforme Andreza isto ainda está em análise pela Secretaria Estadual da Educação e as turmas podem se unir. O 8º e 9º ano possuem 11 e 10 alunos, respectivamente. “Os pais não gostam, mas é o Estado que estipula isso. Por nós, faríamos todas as turmas separadas, com um trabalho mais individualizado, mas é uma demanda que vem de cima. O governo deste ano está bem mais rígido. Eles têm o mínimo de alunos que deve ser 20 por turma”, diz. 
Conforme a diretora, com duas turmas ainda é viável trabalhar em sala de aula, mas com três é mais complicado, principalmente com os alunos que estão em processo de alfabetização. Este é o primeiro ano da escola em que três turmas estão juntas. 
A professora dos anos iniciais Débora Ceccato Basso, que também leciona Língua Portuguesa para anos seguintes, se sente frustrada.

“Eu gostaria de fazer tanta coisa. Tem assuntos que dá para trabalhar junto, mas a maioria dos conteúdos fica difícil e é um trabalho bastante cansativo em sala de aula e também em casa. E sempre é preciso ter atividades na manga. E com os pequenos é pior, porque eles se distraem muito fácil e precisam de uma atenção mais individualizada”, pontua a professora.  

A direção da escola encaminha ofícios diariamente para a Secretaria Estadual da Educação solicitando a junção do 1º e 2º, 3º e 4º e o 5º separado para melhorar a distribuição dos alunos e para realizar uma aprendizagem mais direcionada.  
De acordo com a coordenadora pedagógica da 4ª CRE, Ivanete Rocha de Miranda, cada escola é analisada dentro da sua realidade. “Mandamos a demanda das escolas para a Secretaria Estadual, eles analisam e homologam a união dos anos. Mas sempre orientamos que esta união seja com alunos de idades próximas, como 1º, 2º e 3º anos, que faz parte do primeiro bloco da educação e depois sucessivamente”, relata. O número mínimo de alunos para ocorrer a junção das turmas é de 10 em cada ano escolar.
As alunas Gabriela Verona Madalosso, 14 anos, e Larisse Lodea, 14 anos, estudam no 9º ano e notam uma grande diferença de turmas separadas e unidas. “No ano passado estávamos separadas e é muito melhor, porque temos um professor somente para esclarecer as dúvidas”, diz Gabriela. A colega Larisse conta que conteúdos já vistos em outros anos, também atrapalham o andamento das aulas. “Às vezes confunde e enquanto a professora explica para uma série a outra está com atividade”, aponta. 
Conforme a professora Débora, muitas vezes o conteúdo é explicado de forma superficial, para que a outra turma possa realizar a atividade. “Eles acabam fazendo algumas atividades sem ter uma explicação mais aprofundada. Muitas vezes precisam trabalhar por conta e isso atrapalha. Isso ocasiona até uma regressão no estudo dos alunos, porque não conseguimos dar o nosso melhor”, finaliza.

Municipalização, uma solução

Uma alternativa que poderia reverter o quadro de turmas multisseriadas é a municipalização do ensino fundamental da Escola Estadual Antônio de Souza Neto. De acordo com a diretora Andreza Maria Bertuol, a ideia de municipalização foi discutida há 10 anos e deveria voltar a ser pensada. “Hoje deveríamos conversar melhor sobre o assunto, pois na época todos eram a favor. Só que atualmente é mais complicado, porque existem pais que são favoráveis e outros que são contra. Além disso, temos professores que trabalham há 20 anos pelo Estado e se ocorresse a municipalização perderiam seus direitos”, esclarece. 
Na escola, a educação infantil é municipalizada com a existência de duas turmas – por legislação a educação infantil é uma responsabilidade dos municípios. Ao todo são 31 alunos, sendo uma turma com 19 estudantes e outra com 12.  “O município tem um espaço cedido da Escola Antônio de Souza Neto para a educação infantil”, explica a secretária de Educação, Cultura e Desporto, Ana Paula Zamboni Weber. 
A demanda por alunos na educação infantil também aumentou devido ao fechamento de uma escola em Farroupilha. “Como temos alunos de Farroupilha, fizemos um convênio com a prefeitura do município vizinho para a cedência de uma professora. Então, uma turma tem uma professora designada de Flores e a outra de Farroupilha”, informa a diretora da escola.

Escola Marcos Martini está fechada a partir deste ano. A diretora Patrícia Munari Variani era a única funcionária da instituição. - Gabriela Fiorio
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