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Ensino Médio volta após mais de 200 dias

Retorno das aulas presenciais está definido para o dia 28 de outubro, após mudança no calendário que tinha como data para a volta o dia 13

Depois de sete meses sem aulas presenciais, os estudantes de Ensino Médio da rede estadual vão finalmente retornar às escolas. A reabertura está marcada para o dia 28 de outubro, após reunião entre os diretores com a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), realizada na segunda-feira, dia 5. Assim, as duas escolas de Ensino Médio de Flores da Cunha, Frei Caneca e São Rafael, vão receber os alunos pela primeira vez em 224 dias – a última aula ocorreu no dia 18 de março.
Essa é a terceira vez que o governo do Estado define uma data para o retorno das atividades: as aulas iriam recomeçar no próximo dia 13, mas posteriormente foram adiadas para o dia 20. A 4ª CRE explica que o adiamento se deve pela falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), que ainda não chegaram às escolas. Na região, são 117 instituições que voltarão às aulas no fim do mês.
Para retornarem às atividades presenciais, elas terão de se adequar ao protocolo de proteção ao coronavírus estabelecido em conjunto pelas Secretarias Estaduais de Saúde e de Educação. Mas, o retorno dos alunos não é obrigatório e os pais terão autonomia para decidir se os filhos voltam ou não para as escolas. As aulas vão seguir em modelo híbrido, tanto em formato presencial, quanto online.
A diretora da Escola Estadual de Ensino Médio São Rafael, Ana Paula Citolin Rigotto, conta que as salas de aula foram organizadas de modo a promover o distanciamento de 1,5m entre os alunos e higienizadas para cumprir os protocolos sanitários. Cartazes com orientações também foram distribuídos pela escola e, nos próximos dias, serão feitas marcações nas escadas e corredores para guiar a locomoção dos estudantes. Já a carga horária de 25 horas semanais será reduzida para cerca de 15.
Com quase tudo pronto, a expectativa é para saber quantos alunos irão comparecer às aulas, já que as turmas também serão reduzidas. “Fizemos um levantamento há alguns dias e apenas um terço dos alunos voltaria. Agora estamos recebendo as autorizações dos pais e elas estão em número menor ainda. A maior turma terá 14 alunos, outras têm apenas quatro”, afirma Ana Paula. A Escola Estadual de Ensino Médio Frei Caneca optou por não se pronunciar sobre a volta.
Ambas as escolas seguem o calendário do município, que prevê o fim do ano letivo para o dia 17 de dezembro – assim, as aulas presenciais teriam duração de pouco mais de um mês e meio, o que gera dúvidas sobre se o esforço se justifica. “Eu quero muito o retorno, mas precisamos que um bom número de alunos volte para que toda a energia gasta e o trabalho movimentado valham a pena”, diz a diretora. 

Quanto mais conhecimento, melhor

Para a estudante do 3º ano da Escola São Rafael, Thaisa Ascari Fernandes, 17 anos, o período de atividades online tem sido desgastante. Segundo ela, a falta de contato diário com os professores e colegas torna o estudo mais complicado. “Na escola, o aprendizado é muito mais dinâmico. No ensino online, a gente tem bastante atividade para fazer, mas o conteúdo é pouco em comparação ao que aprenderíamos em sala de aula, porque falta tempo”, diz a estudante.
A preocupação, nesse caso, é com as provas do vestibular e do ENEM – matérias como Matemática e Português tiveram carga horária reduzida no formato online. Assim, alguns conteúdos importantes para as avaliações não receberam a atenção devida: “Os professores se esforçaram ao máximo. Mas acredito que, na volta, vamos ter bastante trabalho para recuperar. Isso é bom. Nós precisamos disso, não só para as provas. Quanto mais conhecimento a gente tiver, melhor”.
A estudante, que nunca ficou tanto tempo longe da escola, é favorável à volta desde que todos os protocolos sejam seguidos, e está ansiosa para rever colegas e professores. “Muitas outras coisas menos importantes voltaram. Algumas pessoas são contra, mas estão indo viajar, jogar futsal. Eu acho isso bem triste porque é nessas horas que a gente vê as prioridades do país”, afirma Thaisa.
Outra frustração é de não poder realizar a formatura, sonho que alimenta desde quando entrou no Ensino Médio. “São doze anos estudando na escola e a gente espera por esse momento, porque é uma conquista. É frustrante não poder comemorar com os amigos e a família. É mais uma coisa que esse ano nos tirou”, encerra a estudante.

 

Saudades do contato

A parada causada pela pandemia foi um momento de reflexão para o estudante Junior de Oliveira, 17, que também está no 3º ano da Escola São Rafael. Ele diz que o formato online o fez perceber ainda mais a importância do professor. “Muitos reclamavam dos professores antes da pandemia. Mas agora a gente vê como eles são uma peça essencial, porque além da aprendizagem, eles nos ajudam emocionalmente, nos incentivam, compreendem as nossas dificuldades”, afirma Junior.
Para o estudante, a parte mais difícil do ensino à distância foi aprender a se organizar. Como trabalha durante o dia, ele precisa de disciplina para não deixar os conteúdos se acumularem. E nisso, os colegas também fazem falta. “É importante um momento de distração durante o estudo. Um colega que faz uma piadinha te anima, te faz manter acordado. Em casa, a gente olha para a cama e tem vontade de dormir”, brinca o estudante.
A troca de experiências com os colegas é uma das principais virtudes da escola, segundo Junior, que ficou prejudicada com a educação online: “Na escola, eu costumava trocar ideias, debater com os meus amigos. O terceiro ano era para ser algo espetacular, o fim de uma grande caminhada. Mas não conviver com os colegas prejudicou demais a experiência. Eu sinto falta desse coleguismo”.
Mesmo assim, Junior é contrário à volta às aulas. Ele diz que o retorno é desnecessário, pois os alunos já estão adaptados às aulas online. “Claro que eu estou muito ansioso para ver os professores, os colegas. Mas as restrições retiram a verdadeira essência da escola que, além do estudo, é feita pela união, pelo contato com o outro”, diz Junior.

Na rede municipal

As escolas da rede municipal seguem o calendário do Estado, mas ainda não têm uma data definida para a volta. O município estuda o retorno às aulas da Educação Infantil e do Fundamental II (anos finais) também para o dia 28 de outubro, enquanto o Fundamental I (anos iniciais) retomaria as atividades no dia 12 de novembro. 
Conforme a Secretária da Educação, Ana Paula Zamboni Weber, a decisão será tomada em reunião com os diretores e depende da vontade das famílias. “Nós estamos analisando a opinião dos pais, se eles preferem manter o ensino remoto ou voltar às aulas presenciais. A pesquisa que fizemos mostrou uma baixa adesão ao ensino presencial”, afirma Ana Paula. 
 

Thaisa Ascari Fernandes é favorável à volta das aulas presenciais.  - Pedro Henrique dos Santos
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