Geral

Até poucos anos atrás comprar algum produto pela internet era algo impensável. Havia o medo de ser enganado e o item não chegar, além dos custos altos de transporte. Pois a realidade mudou e hoje lojas físicas já investem no chamado e-commerce (comércio eletrônico que realiza transações de compra e venda por meio de dispositivos e plataformas eletrônicas) para alavancar suas vendas. Em Flores da Cunha, esse tipo de comércio ainda é tímido, mas alguns pioneiros – fora redes nacionais já consolidadas –, já despontam e apresentam resultados positivos. Entre os segmentos locais que possuem comércio eletrônico estão vinícolas, confecções, artigos para casa, alimentos e materiais elétricos e de construção. Alguns empreendimentos locais ainda estão apostando no marketplace, que também é um site desenvolvido para promover a venda de produtos pela internet, porém se utiliza de uma plataforma mediada por uma empresa em que vários outros lojistas podem se cadastrar e vender, são casos como Americanas, Submarino.

Conforme o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Márcio Rech, o comércio florense está atento às novas tendências, sendo que no atual momento, muitas empresas possuem os dois ambientes, a loja física e a virtual como uma força de vendas do empreendimento local. “Ainda é tímido, muito em função dos desafios dessa forma de venda, como a usabilidade, os investimentos em marketing e a logística de transporte. Mas quando se fala em redes sociais, já existem muitas lojas locais adotando esta forma de marketing e com sucesso”, pontua o presidente. 

Para ele, o município possui uma qualidade muito grande em seus produtos, um bom poder de investimento para uma plataforma segura, além de um bom plano de marketing para expandir as fronteiras desse mercado. “Claro que hoje é necessário a informação, estar muito bem preparado para as complexidades que apareceram. A própria CDL já proporcionou cursos sobre este tema e continuará investindo em treinamentos e palestras para assessorar o comerciante”, afirma.

Em ascensão
No Brasil, a tendência do e-commerce também é recente, porém já se estabeleceu como um setor estável e em contínuo desenvolvimento. O comércio eletrônico deve faturar em 2018 R$ 69 bilhões num crescimento de 15%. O ano deve registrar mais de 220 milhões de pedidos nas lojas virtuais, com um tíquete médio de R$ 310. Em 2017, o e-commerce obteve faturamento de R$ 59,9 bilhões e fechou com 203 milhões de pedidos. Os dados são da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

De acordo com o relatório da associação, a dependência das lojas de e-commerce em grandes marketplaces, como Americanas, Submarino e Amazon, é evidente e todas as categorias de compras, já que 31,5% das vendas são efetuadas neste canal. A região Sul é a que apresenta melhor taxa de conversão média (1,5%). A compra por smartphones cresceu de 22% para 31% entre 2016 e 2017. O desktop ainda predomina, mas deve ser superado em até quatro anos. E o maior número de pedidos está no segundo semestre, com 55,2% das vendas do ano de 2017. A taxa média de devolução é de 2,7%. 

As 675 mil lojas ativas online atualmente – contra 600 mil em 2017 – são responsáveis por 5,63% dos sites no Brasil. Dentre estes, destaca-se a diminuição dos pequenos e-commerces em comparação aos médios e grandes. Em compensação, a pesquisa aponta que os pequenos sites representam 82% do comércio eletrônico brasileiro, contra 97% no ano passado. 

Dentre os segmentos mais vendidos pelos centros comerciais em 2017 estão os brinquedos (10%), as bijuterias, óculos e acessórios (9,2%), e os produtos para pets (7,5%). Tais tendências devem seguir pelos próximos tempos. A migração de compras da esfera física para as lojas online também é outra propensão do consumo no país. No ano passado, a modalidade representou 4,3% das vendas do varejo no país, enquanto que em 2016 a participação foi de 3,8%.

Experiência que migrou para a internet
Comprar roupas pelo celular ou computador e receber tudo em casa é uma tendência que vem agradando aos consumidores e corresponde ao principal setor nesse tipo de venda. A empreendedora Camila Dal Bó, 35 anos, percebeu isso há mais de um ano, quando passou a disponibilizar as peças que tinha na sua loja física também em um site na internet. A nova forma de se comunicar com os clientes começou pelas redes sociais e hoje já representa 50% das vendas da Camila Dal Bó Fábrica de Moda. “Pelas redes sociais recebíamos muitos pedidos, mas como a demanda era grande, eu tinha que enviar fotos, dar informações e tudo isso com agilidade, que é muito importante. Com isso, resolvemos investir no site, que tem todas as informações necessárias e eu fico à disposição para tirar dúvidas e no atendimento. O trabalho vem dando resultados muito positivos”, valoriza Camila, que possui formação em Moda.

Além do consumidor final, o site de Camila atende atacadistas que podem comprar em quantidades maiores e com preços direto de fábrica. O aumento mensal nas vendas é combustível para buscar sempre novos produtos e manter o bom atendimento. “Até o ano passado tínhamos uma produção própria, até pela experiência da família, que trabalha com malhas há 30 anos, contudo, como mantenho o e-commerce sozinha, neste ano, passei a terceirizar a confecção das peças, por meio de parcerias onde consigo dar ideias de tendências, escolher cores, pontos da malha, e assim por diante. A venda online dá resultado, mas exige organização”, destaca a empreendedora.

Outro ponto importante para Camila é a rapidez no retorno ao cliente e no envio dos pedidos. Para Flores, o frete é grátis e a compra entregue no mesmo dia, inclusive para bairros e comunidades do interior. “Estou sempre com o celular no bolso e faço questão de dar retorno rapidamente. Além disso, o site acaba trazendo pessoas para a loja, que chegam já sabendo a peça que querem provar. Sem esse contato facilitado com os clientes, minhas vendas não estariam chegando a 20%. Além disso, o retorno positivo também é muito rápido, e é muito bom receber elogios do nosso trabalho”, valoriza Camila.

As peças da Camila Dal Bó Fábrica de Moda são vendidas para todo o Brasil e, mesmo com destaque no inverno, as malhas também estão ganhando espaço em outras estações do ano, com peças diferenciadas como croppeds, casacos furadinhos, saídas de praia e vestidos. “Assim conseguimos atender inclusive os Estados mais quentes do país. Os consumidores estão perdendo o medo de comprar pela internet e acredito que o segredo seja se colocar no lugar da pessoa que está procurando os teus produtos. Ter atenção, manter contato e ser atencioso, respeitando prazos de entregas e também atendendo as trocas quando necessárias. O retorno é importante para fortalecermos nossos clientes e mostrarmos que somos um site confiável”, avalia Camila.

As irmãs Ana e Daniela Bassanesi também enxergam na internet uma ferramenta de vendas. Há mais de 20 anos confeccionam casacos de lã e há mais de 10 anos começaram a vender peças diretamente ao cliente por meio de e-mail, depois pelas redes sociais, e há dois anos investiram no site da e-commerce Kischurts. “Hoje cerca de 60% das nossas vendas correspondem a vendas online, principalmente para Estados como São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O e-commerce nos dá uma boa visibilidade, mas atender bem o cliente é fundamental”, avalia Ana. “O site não se vende sozinho, divulgamos novidades, promoções e primamos sempre pelo contato direto com o cliente, auxiliando na sua experiência de compra pela internet”, complementa Daniela.

Vinícolas também estão de olho
E se a produção de vinhos de Flores da Cunha tem notoriedade, nada como o setor também entrar na onda das vendas online. A maioria das vinícolas da cidade têm em seus sites links que direcionam o consumidor para lojas online especializadas em vinhos e que oferecem a venda dos seus produtos. Algumas ofertam orçamentos para que o consumidor possa selecionar os itens que deseja. Já é um direcionamento dessa importante parcela de consumidores ávidos em comprar sem sair de casa.

A Mioranza oferece a opção de venda em seu próprio site, com frete grátis para compras acima de determinado valor. As linhas de vinhos, espumantes e sucos são comercializadas em caixas de seis e 12 garrafas. A Monte Reale, além de seus vinhos, disponibiliza as recém-lançadas cervejas artesanais Alem Bier pelo endereço virtual. Desde 2013, a Luiz Argenta oferece em seu site uma boutique virtual, onde os vinhos podem ser comprados de qualquer parte do país. “Hoje, devido à produção pequena da Luiz Argenta, não conseguimos estar presentes em lojas, restaurantes e delicatesses de todo o Brasil, ficando difícil o acesso ao nosso produto para fãs da marca, que nos conheceram em feiras, mídias, redes sociais e principalmente em visitas na vinícola. Além disso, esta foi uma forma de estreitar o relacionamento direto com o consumidor final mesmo à distância”, destaca a gerente de marketing, Daiane Argenta.

Para Daiane, as vendas online se tornaram um novo modelo de consumo. “Devido à falta de tempo das pessoas, insegurança nas grandes cidades, facilidade de obter informações e pesquisas sobre os produtos e marcas através de ferramentas online, a venda pela internet se tornou uma ótima opção para o nosso estilo de vida atual e a tendência natural é que só aumente sua representatividade. Desde 2013 até o momento, a nossa loja virtual vêm crescendo todos os anos e hoje atinge o mesmo faturamento da loja física localizada em Gramado. Lembrando que o investimento e os custos de manutenção de uma loja virtual comparada com uma loja física é muito, muito menor”, enfatiza a gerente.

Por que apostar
Um dos fatores que contribui para esse crescimento é a popularização dos smartphones entre os brasileiros, facilitando cada vez mais o acesso às lojas virtuais. É possível somar a esta tendência a realidade de muitos consumidores brasileiros que despertaram o interesse para o conforto de comprar sem sair de casa. Além disso, conforme especialistas do Sebrae, o comércio eletrônico oferece vantagens e facilidades tanto para clientes quanto para empreendedores.

Um desses aspectos é o custo operacional, que no e-commerce é mais baixo que um pequeno local físico. “Se você vai montar um pequeno negócio local, precisará arcar com a burocracia, comprar móveis, fazer reformas, contratar equipe, enquanto que vendendo pela internet os custos, geralmente, são menores em relação ao estoque, comissão, equipe”, destaca o especialista em Marketing do Sebrae, Leonardo de Souza Neves.

Outras vantagens são as facilidades, já que o comércio eletrônico pode ser acessado de qualquer lugar do Brasil e até exterior por uma pessoa, e também, muitas vezes, o negócio é tocado da própria casa do empreendedor. “Se uma pessoa está em casa assistindo TV e vendo as novidades do Facebook, ela pode se deparar com um anúncio e comprar de você em poucos minutos. Isso é diferente no varejo físico”, diz.

O poder de alcance e a disponibilidade são outros fatores que pontuam a favor do comércio eletrônico. Em um negócio físico, geralmente, o alcance é municipal ou regional. “Isso mostra que outra grande vantagem do e-commerce reside no fato das lojas virtuais atingirem consumidores do país inteiro. E diferente de uma loja física, que tem horário, o comércio eletrônico funciona 24 horas, com compras ocorrendo até na hora que o proprietário estiver dormindo”, explica Neves.  

Em volume de pedidos
14,2% moda e acessórios
12% saúde, cosméticos 
e perfumaria
10,5% casa e decoração
9,2% telefonia e celulares
8,3% livros e apostilas
6,4% esporte
4,5% informática
4% alimentos e bebidas
3,6% eletrônicos

Fonte: Ebit Informação.