Geral

Pela primeira vez a Romaria do Frei Salvador teve uma presença especial vinda direto do Vaticano, em Roma. O postulador geral das Causas de Beatificação para a Ordem dos Freis Capuchinhos no mundo, frei Carlo Calloni, veio com o intuito de presenciar a fé dos fieis – não somente florenses –, em Frei Salvador Pinzetta. O religioso, acompanhado pelo assessor frei Antonio Haddad, chegou ao município ainda no início da semana para, juntamente com o vice-postulador da Causa, frei Sergio Dal Moro, se integrar dos próximos passos do processo de beatificação do frei que nasceu em Casca, mas praticou sua fé em Flores da Cunha. O venerável Frei Salvador ainda tem um caminho longo, e crucial, em busca da beatificação.

Frei Carlo Calloni explica que o fato de Frei Salvador ser venerável já significa que ele foi reconhecido, pela Igreja Católica, por ter vivido uma vida heroica, ou seja, "de maneira muito bela".

“Ele viveu as virtudes cardeais em sua trajetória de vida religiosa como a fé, a esperança, a caridade, a temperança, a justiça, e viveu os votos religiosos com total obediência e castidade. Este é o motivo pelo qual viemos ao Brasil, pois uma parte da estrada pela beatificação foi concluída, e foi um trabalho feito com grande empenho, pois o reconhecimento das virtudes já é algo muito importante, mas essa estrada ainda é longa”, adianta Calloni.

Ele lembra que tornar um religioso beato é permitir uma adoração pública, tornando aquela pessoa um modelo de fé e intercessor de Deus. “Contudo, para que isso ocorra, é preciso um fato extraordinário. Em resumo, um milagre. E isso exige, sem exceções, um grande compromisso, um trabalho melindroso de captar evidências, de apresentá-las, de analisá-las e, então, submetê-las ao julgamento da Igreja por meio da Congregação das Causas dos Santos, que possui todo um caminho a percorrer para ter uma conclusão. O motivo que estamos aqui é este: procurar evidências de que este fato extraordinário existe”, complementa.

Pela interseção de Frei Salvador
O postulador frei Carlo Calloni está em Flores da Cunha pela primeira vez. O religioso acompanha todas as causas de beatificações dos Freis Capuchinhos e, para cada uma delas, nomeia um vice-postulador que pode seguir mais de perto cada passo do processo. No Brasil, os freis possuem, contando com Frei Salvador, cinco processos em busca da santidade. “O mais difícil é juntar todas as evidências. Se for um caso de cura, por exemplo, são necessários todos os documentos médicos, precisos e que comprovem o milagre”, complementa Calloni. Posteriormente, esses documentos são analisados pelo bispo, que a pedido dos freis, nomeará uma comissão de investigação. São esses integrantes que examinam os documentos e ouvem as testemunhas envolvidas no caso. “Além dos documentos, essas testemunhas também devem provar que a cura, ou seja, o fato extraordinário e de milagre, aconteceu por meio da interseção do venerável Frei Salvador, não somente que ocorreu uma cura, mas que ela aconteceu porque as pessoas rezaram por Frei Salvador”, complementa o religioso.

O vice-postulador da Causa, frei Sergio Dal Moro, destaca um caso que ainda será levado em conta neste processo. É o da florense Dulce Zulian, que atribuía a cura de um câncer no intestino à fé em Frei Salvador – a idosa de 81 anos faleceu em fevereiro deste ano vítima de afogamento. “Ainda não desistimos desta história, pois ela ter morrido de acidente não invalida o fato de ter se curado há 12 anos. A comprovação de um milagre é um caminho longo que pode ser interrompido em qualquer uma dessas fases, por isso a importância de termos um caso claro e com uma boa probabilidade de ter andamento, pois só um pode ser escolhido e, se ele não se mostrar efetivo, voltamos ao início do processo”, admite frei Sergio. Depois dessa análise, se aprovada, a ação segue para a Congregação dos Santos, em Roma, que também tem um trâmite complexo e preciso, com análise de médicos, teólogos, cardeais e, por último, do papa. “É preciso ser um caso claro já no início, caso contrário será inútil. Este milagre é estudado sob um ponto de vista científico e sua conclusão deve ser que a ciência não tem uma explicação. Deve ser dito somente isto”, resume frei Calloni.

Não há um prazo para que o processo de beatificação do Frei Salvador tenha andamento, tampouco para que ele seja concluído. “Tivemos um caso de canonização em 2017 de um religioso que estava em processo desde 1825, foram quase 200 anos para que um milagre pudesse ser comprovado. Então não existe uma previsão, mesmo que hoje os processos sejam mais ágeis. Vi junto ao sepulcro do frei, na Igreja Matriz, diversos relatos de graças alcançadas, isso já é belíssimo e demonstra que o povo de Deus reconhece no Frei Salvador uma luz de santidade. Mas o milagre exige uma consistência maior. É preciso ser tangível”, finaliza frei Carlo Calloni.

Venerável
Em maio o papa Francisco promulgou o Decreto ‘Super Virtibus’, que reconhece as virtudes heroicas do Servo de Deus Salvador Pinzetta, Frade Menor Capuchinho que faleceu em 1972. O processo havia sido aprovado em junho do ano passado pelo Congresso dos Teólogos da Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano, em Roma. Esta primeira etapa do processo contou com um documento de 1.380 mil páginas, levando consigo um sumário das testemunhas, sínteses dos depoimentos e uma biografia documentada. 

No total, foram 52 pessoas entrevistadas no relatório que nesta semana tornou o Frei Salvador venerável. Com isso, abre-se o caminho para a segunda etapa, que é a comprovação de um milagre. O processo de beatificação de Frei Salvador Pinzetta iniciou em 2011.