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Elas no comando

Empreendedorismo feminino é tendência no cenário nacional e Sala do Empreendedor auxilia a desburocratizar esse processo

A busca pela independência financeira, associada a flexibilidade de horários e ao desejo de inovar é o que tem motivado milhões de mulheres a serem donas dos seus próprios negócios. Segundo dados do Sebrae e da Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras a nível global. Dos 52 milhões de empreendedores no país, 30 milhões são do sexo feminino e, entre os microempreendedores individuais, elas representam 48% do total. 
Em Flores da Cunha não é diferente. Elas estão buscando, cada vez mais, e independente da idade, empreender nos mais diversos segmentos. Característica que pode ser evidenciada ao conversarmos com a artista reborn Mariele de Souza Abbatti, de 33 anos, e com a jovem Brenda Andreetta Pereira, de 19 anos. As duas procuraram a Sala do Empreendedor para fomentar seus negócios e desburocratizar as formalizações. 
Filha de pais empreendedores, desde cedo Mariele adquiriu o gosto pelo feito à mão, por meio do bordado, ensinado pela mãe, e com arte do crochê e do ponto cruz, passada pela vó. A proprietária do Mariele Abbatti Reborn Dolls, produção de bebês quase reais, comanda o negócio desde 2019, e conta que a ideia surgiu quando sua filha pedia um irmãozinho e, como outra gravidez poderia colocar em risco sua vida e da criança, ela buscou alternativas para suprir a necessidade da filha. “Sempre fui apaixonada por bonecas e nós começamos a olhar as bebês reborn. Na época eu trabalhava fora, mas já buscava e queria um negócio próprio. Comecei a pesquisar e foi surgindo o interesse de fazer os cursos, fui comprando as coisas enquanto eu ainda estava trabalhando, porque era para ser só um hobby. Depois, quando fui desligada, acabei entendendo que era uma oportunidade de ingressar no meu negócio”, lembra a empreendedora que ainda guarda sua primeira boneca, desde seu 1º ano de idade. 
Como não poderia ser diferente, o primeiro bebê reborn confeccionado foi um presente para a filha – que atualmente está com 10 anos e, em breve, deve ajudar a mãe nessa arte. Hoje, os trabalhos de Mariele estão ganhando, também, o mercado internacional. Estados Unidos, Itália, Portugal e Rússia estão na rota de expansão da artista que já enviou bebês para diversos estados do Brasil. 
“Como agora eu preciso tirar nota fiscal e formalizar outras coisas para começar a exportar as bebês, eu precisava de um suporte e fui na Sala do Empreendedor. Foi muito legal, eu gostei, o pessoal atende super bem, eles dão algumas ideias de coisas que não estamos fazendo e podemos aplicar no nosso negócio”, explica Mariele, que procurou a Sala do Empreendedor há cerca de 15 dias. 
De acordo com a artista reborn, esse auxílio foi fundamental na indicação de um curso do Sebrae sobre notas fiscais, importação e exportação, e na confecção do Alvará dos Bombeiros. Ela também revela que a conversa permitiu um direcionamento para ver se realmente está no caminho certo, também em relação às redes sociais, suas principais plataformas de venda. “O meu público, hoje, vai desde crianças até idosos, não tem restrição de faixa etária. Fora do Brasil as bebês são feitas para pessoas que colecionam, mas aqui as crianças viram e começaram a querer também. Às vezes as pessoas acham que é só um bebê, mas não é, é uma arte. Além de ajudar muito idosos e adultos no tratamento da depressão e do Alzheimer, também auxilia as crianças a interagirem e a socializarem”, enfatiza Mariele.
A profissional elenca que o diferencial de seu trabalho está em não entregar apenas a bebê, mas também, duas trocas de roupa, mamadeira, Certidão de Nascimento, Teste de Pezinho, manual, enfeites de cabelo, brincos, sapatinhos, chupeta, entre outros acessórios que integram o enxoval: “É algo exclusivo, único, porque eu posso pegar o mesmo molde, fazer, e nenhuma das bebês vão sair iguais. A cliente pode escolher a cor do olho e do cabelo, as características que ela quer, tenho, inclusive, mães que mandam fazer semelhantes aos seus filhos”.
Outro ponto destacado por ela é as clientes terem a possibilidade de acompanhar o processo de desenvolvimento dos bebês – renascimento, como ela prefere chamar – por meio do envio de fotos. “Tem uma veia que eu fiz, um tracinho, aí elas pedem, às vezes, um arranhado, um dentinho, uma manchinha, e a gente vai adaptando, vamos criando junto com a cliente. Assim elas visualizam como querem e podem me pedir nesse processo, porque depois do verniz e do acabamento eu não consigo mais mexer”, destaca. 
Mariele trabalha sozinha na confecção das bebês e estabelece um prazo máximo de 30 dias para a entrega. Isso porque ela precisa comprar o molde específico para aquela peça, que leva em média 15 dias para chegar, uma vez que são importados, bem como as tintas, o verniz, as agulhas e os óleos. “Em cima do molde eu vou fazendo as camadas e colocando no forno para aderir a tinta no vinil, processo que se repete até acabar a última camada, na qual se fazem os retoques, coloca-se o verniz para proteger toda a camada de pintura, coloca-se no forno de novo, selamos e depois colocamos os olhos, o cabelo e os acessórios, até que ela fique pronta”, descreve sobre o processo de criação das bebês, que podem ser encomendados por meio de sua página no Instagram @mariele.reborndolls, demais redes sociais da marca, ou, de forma presencial na Rua Elda Lourdes Truccolo Curra, 269, junto ao bairro Videiras. 
“É uma grande conquista, um sonho poder levar as bebês para o mundo inteiro, porque esse é o objetivo, não ficar somente no Brasil. É muito gratificante entregar a bebê para a pessoa e ver a vontade e a alegria dela, quando comecei a empreender entendi que era exatamente isso que eu queria fazer”, conclui Mariele, emocionada.

Centralizar para desburocratizar 
A Sala do Empreendedor passou a realizar atendimentos em agosto de 2021, de forma remota. Em dezembro do mesmo ano foi apresentado o espaço físico, junto ao hall de entrada da prefeitura municipal de Flores da Cunha, que conta com o suporte do agente municipal de Desenvolvimento, Deivid Luan da Silva.
De acordo com o secretário municipal de Turismo, Indústria, Comércio e Serviços, Tiago Centenaro Mignoni, a adesão ao serviço tem sido gradativa, mas, após a inauguração do espaço, está aumentando: “Desde agosto de 2021 até agora já foram mais de 1.500 atendimentos. Em fevereiro contabilizou-se o maior número de toda a região da Serra Gaúcha, isso conforme os dados do sistema que o Sebrae RS disponibiliza para as salas do empreendedor. Cerca de 60% dos atendimentos ocorrem de forma digital, remota, e os outros 40%, presencial”.
O local é uma das entregas do Programa Flores Mais Empreendedora e contempla o eixo de desburocratização que, em parceria com o Sebrae, permite oferecer um conjunto de serviços aos empresários e aos que querem empreender no município, tais como: os referentes ao processo de registro empresarial – emissão da guia de arrecadação do Simples Nacional, Declaração Anual de Faturamento, parcelamento dos débitos, emissão de NF-e, formalização, abertura, alterações e baixas na modalidade MEI. Auxílio na solicitação de Alvará de Localização e Funcionamento, realização do Plano Simplificado para o Alvará de Bombeiros, Inscrição Municipal, análises de subsídios para apoiar investimentos das empresas locais, espaço de coworking, consultorias com o Sebrae, parceria com instituições financeiras, entre outros. 
“A desburocratização ocorre por meio da centralização de processos na Sala do Empreendedor, que dá andamento às etapas junto às demais secretarias e departamentos da prefeitura, não sendo necessário que o empreendedor tenha que percorrer vários caminhos”, explica o secretário, que acrescenta que simplificando os processos é possível fortalecer a economia local e fazer do município um lugar com mais qualidade de vida. 
“Junto com o Ministério da Economia, através do programa Brasil Mais, estamos disponibilizando para as pequenas empresas atendimento sem custo para trabalhar a Cultura de Inovação, melhorar os resultados da empresa, reduzir custos, qualificar os produtos, resolver problemas, por meio de um profissional que fica por quatro meses fazendo atendimento nesses negócios para a obtenção de melhores resultados. Cada uma das pessoas atendidas é orientada a se conectar com o melhor caminho para o seu desenvolvimento”, finaliza Tiago.

Brincadeira que virou negócio

Escalar para chegar ao topo do seu próprio negócio e buscar sempre algo mais é o objetivo da estudante de Engenharia Química, estagiária e empreendedora – aos finais de semana, como ela mesma descreve – Brenda Andreetta Pereira e seu namorado, Felipe Chiarani Prado, de 21 anos, já evidenciado na logo da empresa, representada por uma montanha. 
O casal comanda a Premier Browneria, em Flores da Cunha, desde novembro de 2021. E nesse curto período de tempo muita coisa mudou para os jovens que começaram a produzir brownies para ajudar com as despesas da faculdade, vendendo para pessoas que já conheciam, aos finais de semana. “Quando saíamos e tinha que levar alguma coisa nós sempre levávamos brownie e combinávamos com outros amigos para eles levarem o sorvete. Era sempre assim. No final do ano passado começamos, na brincadeira, vendendo só para amigos que já conhecíamos. Depois de um mês, criamos uma página no Instagram, aí nossos amigos compravam, postavam e quando percebemos estávamos fazendo também para pessoas que não conhecíamos”, lembra Brenda. 
A empreendedora conta que, no início, os doces eram feitos em casa – um final de semana na sua casa, no bairro São Pedro, e outro no bairro São José, na casa de Felipe – até que, em fevereiro desse ano, eles foram convidados pelo Paradouro do Suco para participar de um evento com a browneria. Brenda revela que foi uma surpresa muito boa, mas que, como não tinham nada formalizado, precisou se informar sobre o que faria naquela situação e foi então que recorreu à Sala do Empreendedor: “Eles foram super atenciosos, combinaram para eu ir lá no mesmo dia, me passaram vários contatos e agendaram uma reunião com o Sebrae, além de sugerirem que eu criasse um MEI e buscasse os documentos, porque, com isso, eu poderia participar do evento. Então abrimos o MEI na prefeitura e o pessoal da Sala do Empreendedor foi em busca do Alvará de Bombeiros e de Localização”, explica, ao mesmo tempo em que destaca que muitas dúvidas eram respondidas por WhatsApp, para agilizar. 
“Foi tudo muito rápido, recebemos a proposta do evento e tínhamos uma semana para pensar e ir atrás de tudo para poder participar. O apoio, tanto da prefeitura, quanto do Sebrae e da Sala do Empreendedor, foi e está sendo fundamental, porque eles dão um subsídio – tem documentos exigidos pela Vigilância Sanitária que não são baratos e eles auxiliam com uma porcentagem”, evidencia a jovem que parabeniza, também, a vistoria do Alvará de Localização e a Vigilância Sanitária, pela flexibilidade e atenção.
A participação no evento também exigiu que o casal buscasse um local destinado à confecção dos bolos, que atendesse às recomendações da Vigilância Sanitária. Para conseguir isso, em um curto período de tempo, eles acabaram locando a cozinha e o banheiro de um tio de Brenda, fazendo algumas reformas e, com isso, conseguindo estar presentes na ocasião. “Quando fomos para o evento não tínhamos nada, aí fizemos a plaquinha com nome, os cardápios impressos, estoque, começamos do zero”, revela. 
Com a visibilidade da marca e a conquista de novos clientes, também veio o retorno às aulas presenciais, dessa forma, agora, a dupla se reveza para dar conta da produção: “Quando temos pedidos na sexta, toda a quinta de noite o Felipe – que é responsável pelos brownies – faz a quantidade dos que vão ser recheados na sexta, aí eu consigo folga e faço os cremes – já que sou responsável pelos recheios. Fazemos a quantidade exata para a nossa meta, se vendermos muito na sexta, de noite fazemos mais creme para o sábado e o domingo. No sábado acordamos e fazemos brownie para rechear, no domingo a mesma coisa”, explica Brenda sobre o processo de produção dos seis sabores de bolo. 
Apesar de não contar com espaço físico aberto para consumo, os clientes da Premier Browneria podem retirar suas delícias junto ao local em que são produzidas, na Avenida 25 de Julho, 1928, sala B. Os pedidos podem ser feitos pelo Instagram @premier_browneria e demais redes sociais da marca. 

Mariele de Souza Abbatti dá vida aos bebês quase reais, que viraram sua fonte de renda.  - Karine Bergozza
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