Educação financeira na prática
Escolas da rede municipal de ensino desenvolvem projetos que auxiliam os alunos no planejamento e na organização das finanças
Dinheiro não é assunto exclusivo de ‘gente grande’. As crianças também precisam planejar e observar a própria vida financeira. Incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e obrigatória a partir de 2020, a educação financeira tem como objetivo ensinar alunos matriculados no ensino fundamental a administrarem o dinheiro de forma responsável. Dessa forma, fica mais fácil – e divertido – aprender a lidar com as finanças e compreender que, muitas vezes, é preciso poupar para alcançar alguns objetivos traçados. Nas escolas florenses, conforme a BNCC, o tema é abordado nos planos de estudo do 5º ano da rede municipal. O projeto é desenvolvido em Flores da Cunha desde 2016 – quando era realizado com os alunos do 6º ano. No mês de julho, os professores concluíram a formação em educação financeira realizada pela Secretaria Municipal de Educação em parceira com o Sicredi. De acordo com a coordenadora pedagógica da Secretaria, Daniela Dal Picol Sandi, os docentes foram instruídos com a metodologia DSOP: D – Diagnosticar; S – Sonhar; O – Orçar; e P – Poupar. “A DSOP é uma metodologia que visa a realização dos sonhos através de um planejamento financeiro. É um método que não fica só no controle de renda/gasto porque adiciona os sonhos em sua fórmula”, explica Daniela.
Desde março, as professoras Patrícia Borges Gomes Bisinella e Carla Guareze, da Escola Municipal Tancredo de Almeida Neves, desempenham as atividades do brechó ‘Arrecadando para o Futuro’ com os estudantes do 5º ano da instituição. A atividade, que integra o conteúdo de educação financeira, permitiu aos 28 alunos da turma 501 aprender na prática sobre a gestão correta do dinheiro. Segundo a professora Carla Guareze, trabalhar os sonhos dos jovens foi a premissa do projeto. “Eles escreveram em origamis os sonhos a curto, médio e longo prazo junto com suas famílias. Nós fixamos a dobradura na sala para que eles olhem todos os dias e sintam-se motivados”, conta. A partir disso, as docentes pensaram em desenvolver uma ação que pudesse auxiliar os alunos a começarem, mesmo que devagar, a alcançar seus propósitos. “Por conta da grande quantidade de roupas recebidas pela escola, pensamos em fazer um brechó. A gente acabou aliando a educação financeira e a contribuição com o meio ambiente”, diz.
Além do exercício da economia financeira, a feira permitiu aos alunos a prática sustentável. “Eles também perceberam, por meio de uma análise, que havia poucas peças masculinas. Isso quer dizer que as mulheres compram e doam mais”, avalia Carla. Além das doações arrecadadas, os estudantes também contribuíram com roupas, calçados e acessórios que não utilizavam mais. Mais do que praticar o desapego, os jovens auxiliaram no processo de separação e seleção das peças e no desenvolvimento da parte teórica do projeto. “No dia do brechó, eles (os alunos) estavam no caixa, lidaram com o dinheiro, calcularam o troco, recepcionaram as pessoas”, relata. A professora salienta a importância de trabalhar esse conteúdo desde cedo. “Nas aulas de história, estudamos sobre como surgiu o dinheiro e eram feitas as primeiras trocas de produtos”, lembra. Já em matemática, o assunto é exposto a fim de instruir os jovens no planejamento e na organização das finanças. “Os alunos já devem participar da organização da casa agora. A contribuição deles para a economia, seja nas contas de luz e água ou no mercado, vai gerar uma melhoria na família. É preciso pensar no futuro, mas também no hoje, em como eles podem ajudar”, afirma.
O brechó ‘Arrecadando para o Futuro’, ocorrido em setembro, contou com a participação expressiva da comunidade. O valor dos itens comercializados variava de R$ 0,50 a R$ 2 – somente os casacos foram vendidos a R$ 5. Os lucros arrecadados serão revertidos em melhorias para a sala de aula do 5º ano. Conforme Carla, entre as metas dos estudantes estão a pintura das paredes e a troca de cortinas, além de outras benfeitorias que visam a melhora do ambiente. “Isso é uma motivação para eles estudarem e se sentirem mais alegres em sala de aula. É um dinheiro que vamos investir na educação deles”, declara a professora.
Os alunos Gabrielly Cabral Baranoski, 11 anos, e Eduardo da Cunha de Barros, 11, foram os responsáveis pela apresentação do brechó à comunidade. “Esse projeto foi pensado na economia do dinheiro e na sustentabilidade do meio ambiente. Com isso, conseguiremos fazer melhorias na sala”, diz o estudante. Gabrielly destaca a importância da atividade para a turma. “Nós trabalhamos com autonomia, cada um em sua tarefa”, aponta a aluna. Apesar da pouca idade, os colegas têm o hábito de guardar dinheiro e reconhecem a importância de aprender sobre a educação financeira. “A gente vai precisar bastante, para qualquer coisa usamos dinheiro”, assegura Gabrielly. Além disso, como o nome do brechó já diz – ‘Arrecadando para o Futuro’ – eles já pensam lá na frente. “Eu gostaria de viajar pelo mundo”, finaliza o aluno.
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