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É preciso falar sobre o suicídio

Trinta e dois brasileiros acabam com a própria vida por dia. Atualmente, o suicídio tem uma taxa superior às vítimas decorrentes de aids e da maioria dos tipos de câncer. É classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a 14ª causa de morte no planeta – a terceira entre pessoas de 15 a 44 anos, de ambos os sexos. No Brasil, ainda segundo a OMS, o Rio Grande do Sul lidera o ranking brasileiro. Em Flores da Cunha, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde, desde 2006 – dados disponibilizados até 2013, 13 pessoas decidiram pôr fim à própria vida. Na busca por abrir as conversas sobre esse tabu, surgiu o Setembro Amarelo, campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo direto de alertar a população a respeito da realidade deste problema no Brasil e no mundo e suas formas de prevenção. O mês de setembro terminou, mas o número de pessoas que tiram a própria vida avança silenciosamente.

O suicídio sempre foi um assunto pouco falado – é comum as pessoas fugirem do tema e, por medo ou desconhecimento, não enxergarem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas. Segundo a OMS, nove em casa 10 casos poderiam ser prevenidos e por isso se amplifica a importância da busca por ajuda e atenção. De acordo com a psicóloga Nicolle Toigo, que atende em Porto Alegre e Flores da Cunha, existem comportamentos que podem indicar uma maior disposição ao suicídio, como falar constantemente em morte, o isolamento social e a perda de interesse por atividades que antes lhe trazia prazer, além da diminuição do rendimento escolar ou no trabalho. “São características associadas a pessoas depressivas e pessimistas, com comportamento de risco como álcool, drogas ou direção perigosa. Contudo, algumas vítimas de suicídio não apresentam nenhum sinal significativo”, alerta a psicóloga. Mudanças bruscas de rotina como a perda de emprego ou de um ente querido, término de relacionamentos, preparativos como testamento e senhas de banco também podem ser motivadores de um suicídio.

O Setembro Amarelo tem como tema Falar é a melhor solução, lembrando que uma abordagem adequada é importante no momento de auxiliar uma pessoa com esse risco. “Devemos agir como bons ouvintes, sem críticas ou julgamentos. Chame para uma conversa e de modo carinhoso, mantendo o contato visual, preste atenção e toque no assunto diretamente. Busque também ajuda de um profissional especializado”, indica Nicolle. Algumas falas comuns sinalizam alerta: “a vida não vale a pena”; “nada mais importa”; “não vou mais atrapalhar, ficam melhor sem mim”; ou “não consigo mais”.

Em Flores da Cunha, ações do Setembro Amarelo envolveram a equipe do Centro de Atenção Psicossocial (Caps Florescer), que realizou palestras sobre prevenção do suicídio e valorização da vida para profissionais das equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBSs). O assunto vem sendo abordado também com pacientes nas oficinas terapêuticas e rodas de conversa.

Uma triste ‘solução’

Problema de saúde pública, o suicídio ainda é um assunto sobre o qual se fala pouco. No Brasil, o índice perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (o que exclui doenças). “Todos já tivemos um momento de desespero e de falta de esperança. Mas, aos poucos, os sentimentos e ideias se reorganizam e se descobre uma saída. Algumas pessoas, no entanto, não conseguem encontrar uma alternativa. O sofrimento psíquico e o desespero são insuportáveis e viver torna-se pesado e angustiante, a vida perde o sentido. Então o suicídio, para essas pessoas, parece ser a solução. O suicida busca pôr fim a sua dor”, observa a psicóloga Nicolle.

Falar de suicídio, na maioria das vezes, é falar de depressão. A especialista complementa que, além da depressão, doenças mentais como a bipolaridade, o alcoolismo e drogas, a esquizofrenia e os transtornos de pessoalidade provocam uma vulnerabilidade maior. “A pessoa sofre um estado de confusão mental e se encontra fora de si, fragmentada, com os mecanismos de defesa do ego abalados e, por isso, ‘livre’ para atacar a si mesma”, analisa. Prestar atenção aos sinais e sempre buscar ajuda de pessoas próximas e profissionais é fundamental. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV), promotor do Setembro Amarelo, disponibiliza um site que auxilia pessoas com pensamentos suicidas – www.cvv.org.br. O contato pode ser feito pelo telefone 141, via Skype (acesso pelo site), ou email (mensagem enviada também pelo site). Em todos os canais, o atendimento é feito por voluntários treinados e a conversa é anônima.

 

Sobre o Setembro Amarelo

Iniciado no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida, Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o Setembro Amarelo realizou as primeiras atividades em 2014 concentradas em Brasília. Em 2015 já conseguiu uma maior exposição com ações em todas as regiões do país. “Mesmo sendo um tabu, o suicídio é um sério problema de saúde pública. Não podemos mais ignorar esses fatos, falar sobre esse tema alerta a todos e possibilita que a pessoa que está passando por esse sofrimento, em silêncio, busque ajuda. Campanhas como o Setembro Amarelo salvam vidas”, valoriza a psicóloga Nicolle, que possui pós-graduação em Psicologia Hospitalar e especialização em Psicologia Clínica.

 

Mitos

- Após uma tentativa de suicídio a pessoa nunca mais volta a tentar? Uma pessoa que já teve uma tentativa apresenta um maior risco de cometer suicídio. Contudo, os pacientes que levam a sério o tratamento com medicamentos e terapia não chegam a tentar se matar uma segunda vez. O importante é buscar a ajuda.

- Tendência para o suicídio é hereditária? Não existem estudos conclusivos, porém, histórico familiar de suicídio é um fator de risco importante, especialmente em famílias com muitos casos de depressão.

- A pessoa que fala sobre suicídio apenas quer chamar atenção? A pessoa está em sofrimento e precisa de ajuda. Muitos suicidas comunicam sim previamente a sua intenção.

 

 

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