Duas formas de aprender
Estudantes voltam às aulas em uma rotina de revezamento: um dia na escola e um dia em casa. Com nova bandeira a partir desta segunda, dia 22, as aulas presenciais podem ser suspensas
O primeiro dia de aula nas escolas da rede municipal, na última segunda-feira, dia 15, foi diferente de todos os outros: ao responder a chamada, todos os alunos disseram “presente”, mas só metade deles estava na escola. A outra metade fazia presença de forma online, acompanhando a mesma aula de casa.
Para os 24 alunos da 7ª série da Escola 1º de Maio, a realidade não foi diferente. Obedecendo aos modelos de ensino híbrido e revezamento impostos pela pandemia, a estudante Mariane Pinto Weber, 12 anos, vestiu uniforme, mochila e máscara para ir ao colégio na manhã de terça-feira, dia 15. No dia seguinte, via pela tela do computador a professora, os colegas na sala de aula e os outros 12 que, assim como ela, estudavam no conforto dos seus quartos.
“Tem uma diferença. Na escola, conseguimos nos concentrar mais no que estamos fazendo, temos mais atenção dos professores. Em casa, eu tenho minha irmã pequena, que às vezes vem no quarto me interromper”, conta Mariane, rindo da irmã caçula. Ela diz que, entre estudar na sala de aula e no quarto, prefere a primeira opção, mesmo com as mordomias de acordar mais tarde e ficar de pijamas em casa – e os incômodos da máscara e do distanciamento na escola.
Mariane conta que sente falta do contato com os colegas, mas poder vê-los online já é um alívio. Ela comemora o fato de que as amigas, Valentina e Maiara, vão à escola nos mesmos dias que ela: “Só de conversar, vê-las pessoalmente, já é muito bom. Mas falta aquilo de se abraçar, ficar mais próximo, fazer parte do mesmo grupo nos trabalhos”.
A realidade da pandemia mudou tudo e invade também os conteúdos: no caderno, que Mariane não abandona mesmo em casa, ela respondia uma série de perguntas sob o título “Matemática e a Covid”. A sua disciplina favorita, Educação Física, também está bem diferente. “A profe passa um vídeo de um alongamento ou exercício físico, compartilha a tela com a gente. Os que estão na escola fazem lá, cada um no seu quadrado, que tem as marcações no chão. Em casa, também fizemos, mas não dá para se soltar tanto”, conta Mariane.
Os pais da estudante, Jader e Mariliza, dizem que, apesar de todos os desafios de adaptação, a filha vem se saindo bem nos estudos desde a adoção do modelo híbrido. “Nós tentamos dar todos os recursos para ela adquirir o conhecimento. Se tornou ainda mais fundamental essa parte de acompanhamento dos pais, de conseguir auxiliar, tirar as dúvidas”, diz o pai.
A responsabilidade dos alunos em se manter focado nas aulas mesmo sem os professores por perto também aumenta. No caso de Mariane, é ela mesma quem se organiza na rotina de estudos: “A Mari é muito responsável. Nós auxiliamos na parte de apoio com a matéria, mas a outra parte ela faz toda sozinha. Ela se organiza, no horário da aula está pronta, não quer ficar para trás”, contam os pais.
Para a professora Iriane Zulianelo, o desenvolvimento da autonomia dos estudantes foi um dos pontos positivos trazidos pelo modelo online. “Eles tiveram que se tornar muito mais independentes. Isso é muito bom, porque nós precisamos formar pessoas que estejam preparadas, capazes de pensar e agir por conta própria e que sejam responsáveis pelos seus atos”, afirma Iriane, que dá aulas de matemática e é especialista em Educação.
O ensino híbrido também possibilitou aos professores dar uma atenção maior às tecnologias e incorporar novas dinâmicas aos seus métodos de ensinar. “Nós fomos desafiados a incluir a tecnologia ainda mais nas nossas aulas, abrir nossa cabeça para outras formas de ensino e ampliar nossos conhecimentos sobre essas ferramentas”, diz Iriane.
Na opinião da professora, o modelo presencial ainda é insubstituível, pois o contato olho no olho faz diferença na aprendizagem, mas algumas mudanças propiciadas pelas aulas remotas vieram para ficar. “Elas desestabilizaram um pouco, mas aprendemos muitas coisas novas. A pandemia antecipou um processo de renovação que ia acontecer inevitavelmente e que já deveria ter acontecido antes”, encerra Iriane.
Decreto retira limite de 50% de alunos na sala de aula
O decreto estadual 55.759, publicado na segunda-feira, dia 15, retirou o teto de 50% de alunos das salas de aulas nas instituições de ensino do Rio Grande do Sul. A mudança não significa o fim das regras de ocupação, pois segue mantida a restrição de distanciamento mínimo de 1,5m entre os alunos, conforme recomendações do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Secretários da Educação e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A alteração tem como objetivo viabilizar a retomada presencial às aulas para o maior número possível de estudantes, desde que com segurança. As demais orientações sobre os protocolos sanitários permanecem valendo, como o uso obrigatório de máscara, a higienização constante dos espaços, o estímulo à circulação do ar e o cuidado com as aglomerações.
Em Flores da Cunha, o decreto foi acatado, mas como já vigorava o distanciamento de 1,5m entre as classes em todas as escolas do município, ele deve mudar pouco a rotina dos colégios. Agora, turmas com número pequeno de alunos e salas de aula maiores poderão receber todos os alunos, sem o limite de 50%, desde que o distanciamento mínimo seja respeitado.
Bandeira preta
O decreto publicado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul neste sábado, dia 20, determina, para todos os municípios, novas medidas sanitárias de prevenção à Covid-19. O documento passa a vigorar a partir da data. A principal restrição proíbe as atividades dos estabelecimentos das 22h às 5h. A prefeitura informa que a fiscalização nos locais públicos será intensificada nestes horários.
Sobre a suspensão das aulas presenciais, a Prefeitura de Flores da Cunha comunica que na próxima segunda-feira, dia 22, as aulas na rede municipal de ensino permanecerão no formato híbrido. A partir de terça-feira, dia 23, o retorno dependerá do resultado da reunião entre os prefeitos e o governador, bem como do parecer do recurso de alteração de bandeira e continuidade da cogestão municipal. Uma definição deverá ser tomada após as 17h de segunda-feira.
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