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Dia da Mulher: Mas, desde quando mulher entende de vinho?

Nunca dei atenção ao fato deste mundo ser predominantemente masculino

“Ser mulher é não pensar muito nas diferenças entre os dois sexos.” Começo este texto com a frase da jornalista especializada em vinhos Suzana Barelli, de São Paulo. Ela foi questionada por uma revista sobre o que seria para ela ser Mulher. Concordo com a Suzana. Desde que iniciei a trabalhar com a comunicação do vinho (conto minha história para vocês logo abaixo) nunca dei atenção ao fato deste mundo ser predominantemente masculino. Tanto é que nas degustações as quais participo há mais homens que mulheres.  
No entanto, tenho percebido que esses números têm mudado. Muitas enólogas e sommeliers estão surgindo. Para ilustrar: Na Associação Brasileira de Sommeliers, unidade Rio Grande do Sul, dos 354 formados em 10 turmas, 136 são mulheres (38% do total). Outro exemplo vem da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, o mais importante órgão de referência no mundo dos brancos e tintos. A OIV é presidida, hoje, por uma brasileira, a catarinense e professora Regina Vanderlinde. 
Mas há muitos outros exemplos mundo a fora. Jancis Robinson, uma das mulheres mais importantes do mundo do vinho da atualidade, é uma das responsáveis pela seleção de vinhos da rainha da Inglaterra. Jornalista, ela foi a primeira mulher a obter o título de Master of Wine. Podemos ainda citar Monica Rossetti, brasileira e enóloga. Ela mora e trabalha na Itália, país maior produtor de vinhos do mundo, e atua na vinícola do marido e também presta assessoria para outras empresas; e a sommelier argentina Cecília Aldaz, que mora no Brasil e está à frente do programa Um Brinde ao Vinho, do grupo Globo.  A sommelier traduz os vinhos, as uvas e suas sensações usando metáforas e linguagem simples.
Nesses mais de 15 anos atuando como jornalista que comunica o vinho, tenho que admitir que ser mulher neste contexto é lidar o tempo todo com linhas tênues. É a tentativa diária de se equilibrar entre a independência e a intimidação. É quase nunca saber se a abordagem de um homem tem algum interesse além daquele que ele diz ter – e já passei por alguns momentos de constrangimento. É ter sua competência medida na relação (des) proporcional de sua aparência física. E isso me chateia, às vezes. Mas, como citei acima, minha força advém de manter sempre o profissionalismo. É preciso focar no trabalho e enfrentar todo e qualquer preconceito de cabeça erguida, afinal, o vinho merece!

Machismo no mundo do vinho
No mês de janeiro deste ano, o jornalista Marcelo Copello fez uma pesquisa com 500 mulheres de todo o Brasil sobre machismo no mundo do vinho, com participantes de várias partes do país.
A conclusão foi a de que as mulheres estão muito magoadas com os homens e que se sentem prejudicadas nesse nicho de mercado. Cerca de 80% respondeu que acha o meio profissional do vinho um ambiente machista. O jornalista também recebeu 98 relatos, ou seja, mais de 20% das entrevistadas, que descreveram ter vivenciado algum caso de machismo, incluindo uma que falou em estupro. Os relatos serão todos publicados na íntegra, sem nenhum tipo de edição, preservando apenas os nomes das entrevistadas. É possível conferir o resultado completo da pesquisa em http://www.marcelocopello.com/post/machismo

Minha história
Desde que iniciei no mundo do vinho, e para os que ainda não conhecem a minha história, saiba que o meu amor pela bebida surgiu durante a Festa Nacional da Vindima de 2003, quando fui princesa e precisei estudar sobre a bebida. Na época, eu era repórter do Jornal O Florense e quem me explicou brevemente sobre as diferenças entre os vinhos foi o jornalista e diretor do jornal, Carlos Raimundo Paviani. Depois daquela simples aula eu não imaginaria que eu poderia, depois de alguns meses, aliar o meu amor pelo jornalismo com uma nova paixão, o vinho, e transformá-lo em profissão.
Na ocasião, fui instigada a estudar sobre a bebida, afinal eu teria que me dedicar a um novo projeto: uma revista sobre vinhos chamada Bon Vivant. Era dezembro de 2004. Fiz cursos – hoje tenho duas formações em sommelier – participei de degustações, li muitos livros, reportagens. Viajei, não somente para as regiões do vinho no Brasil, mas também na América do Sul e Europa. Foi um caminho sem volta. De lá para cá a revista teve algumas mudanças, como todo o mundo da comunicação. De impressa passou para um site. O que não mudou foi o foco: os vinhos brasileiros. Organizamos guias de vinhos e comunicamos a bebida de uma forma simples para que esse mundo de Baco chegue a cada vez mais pessoas e que o brasileiro passe a consumir mais, melhor e com muita responsabilidade – hoje o consumo per capita no país é de menos de três litros.
Nesses mais de 15 anos, eu também mudei, e tento ser uma profissional melhor a cada dia.  Tenho muito a aprender ainda, já que o jargão “quanto mais se estuda sobre vinhos mais temos a certeza de que precisamos estudar mais” é, de fato, uma realidade. Já consegui muitos novos consumidores de vinhos, e minha meta é ampliar essa rede de amantes da bebida, principalmente entre as mulheres. Tim-Tim!

Andréia Debon é jornalista especializada em vinhos e sommelier. - Gabriela Fiorio
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