Dia da Mulher – Artigo: Cirurgias pós-maternidade
Por Adriana Milani, cirurgiã plástica
O Dia da Mulher sempre merece minha reflexão. Ser cirurgiã plástica permitiu-me adentrar o universo feminino e desvendar parte de sua exuberância. As mulheres são, de fato, interessantes. Complexas, por vezes manhosas, por vezes irredutíveis, mas quase sempre uma combinação de adjetivos totalmente opostos que coexistem em plena harmonia. Em termos de observação de cirurgia, mesmo o procedimento sendo o mesmo, as mulheres reagem a eles de formas sempre diferentes. Isso faz do meu trabalho qualquer coisa menos entediante.
Somado a isso, há alguns meses pude experimentar a feminilidade em toda sua essência por meio de um dos ‘sacramentos’ do universo feminino: a maternidade. Ao avaliar uma paciente, inevitavelmente, penso no que eu gostaria que fosse feito em mim, minha mãe ou minha filha. Essa empatia que existe entre as mulheres nos eleva a um nível de sensibilidade quase que exclusivo desse gênero. E a ironia de tudo isso é que, ao trabalhar com mulheres passei a entender e admirar cada vez mais os homens, que parecem lidar com destreza e tirar de letra situações que são, no mínimo, desafiadoras para mim como cirurgiã, na lida com elas em momentos de fragilidade.
E a cirurgia plástica, onde entra nessa história? Submeter-se a uma plástica faz parte daquele controle de qualidade próprio do gênero feminino. Em tempos de ‘politicamente correto’, perdoem-me pelas generalizações que aqui escrevo, mas hão de convir comigo que a tolerância de um homem com uma toalha molhada em cima da cama ou mesmo no chão é muito maior do que a de uma mulher. Obviamente que existem exceções, mas essa busca pela ordem faz elas se reconstruírem e se reinventarem a cada dia, sendo a cirurgia plástica um fator intensificador nesse processo.
Dadas as circunstâncias, escolhi falar de cirurgias pós-maternidade, que tem recebido o apelido de mommy makeover. Após ter filho o corpo muda. Na verdade muda antes. Ele começa a se preparar no primeiro dia de gestação, desde as unhas dos pés até a ponta dos cabelos. Como resultado chega para o cirurgião plástico normalmente as ‘sequelas’ nas mamas e abdômen de todo o processo de gestação, parto e puerpério. Eventualmente a colocação de próteses mamárias é suficiente para preencher mamas murchas pós-amamentação; em alguns outros casos a mastopexia (cirurgia para elevação das mamas, com ou sem uso de próteses) se fará necessária. Assim como ocorre no pós-operatório, só poderemos avaliar tais ‘sequelas’ passados seis a 12 meses do término da amamentação, ou do parto, no caso das alterações abdominais.
Da mesma forma o abdômen poderá ficar com estrias, flácido, com um ‘valo’ na linha média (pelo afastamento dos músculos), ou apenas com excesso de adiposidade nos casos de ganho de peso. O tratamento normalmente é lipoabdominoplastia com plicatura, que nada mais é do que uma costura interna dos músculos, devolvendo a rigidez e continência da parede abdominal.
Em termos manutenção de resultados, é preferível estar com a prole completa antes das cirurgias. Entretanto, desejar ou ter mais filhos não necessariamente prejudicará o resultado estético de cirurgias anteriormente realizadas.
Mas não são somente essas cirurgias que as ‘mamães’ procuram. A maternidade muitas vezes representa uma nova jornada de autoconhecimento e descobertas; e não raro aquele nariz que nunca havia sido mexido por falta de coragem será modificado para estar de acordo com uma nova mulher que renasceu com o nascimento de uma criança.
Viva a diversidade, viva a feminilidade, viva o contraste com o masculino! E vida longa a quem tem a oportunidade e honra de poder cuidar e tratar bem uma mulher.
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