Dia da Mulher: “A vida é como um quebra-cabeça, temos que ir com calma, montando pecinha por pecinha”
A fala de Alice Munaro Bisinella resgata a importância da fé e da esperança em sua trajetória
Agricultora, do lar, cozinheira e costureira. Estas são apenas algumas das atividades desenvolvidas por Alice Munaro Bisinella, ou será que o correto seria chamá-la de Jaque, ou melhor, de Inês? Calma, estamos falando da mesma pessoa.
Alice é o nome que está na Certidão de Nascimento, mas que, na verdade, deveria ter sido Jaque, que foi o escolhido pelas irmãs, uma falha de comunicação no momento do registro em cartório. E Inês? Esse era o nome que ela achava que estava no documento, mas que, quando começou a ir para a escola, descobriu ser Alice. Enfim, o fato é que hoje a paduense é chamada pelos três nomes, “três em um”, como ela mesma brinca.
A conversa com a mãe de Charles, Jonathan e Moisés Bisinella rende boas histórias, e não é somente por conta dos nomes, mas principalmente pela trajetória de dedicação, força de vontade e fé que fizeram com que ela assumisse diversos papéis em um curto espaço de tempo. Hoje, com 60 anos, ela reside no Centro de Nova Pádua e há mais de um ano trabalha como costureira para uma confecção local, mas, nem sempre foi assim. Há 20 anos, com a perda do marido, ela teve de enfrentar muitos desafios.
“Foi como se tivessem me tirado o tapete, fiquei sem chão. Os primeiros tempos não foram fáceis, eu tinha como prioridade os filhos, a educação, já que eles estavam na fase da adolescência, uma fase difícil, e é justamente nessa etapa que eles iam se espelhar no pai, e ele faleceu. Eu me via como se fosse em alto mar, com meus filhos, remando e remando e o vento soprando ao contrário, mas, fui seguindo em frente”, emociona-se Alice, que destaca que outra dificuldade foi manter a propriedade no Travessão Bonito.
Na época em que ficou viúva, optou por continuar apenas com o trabalho de dia, na colônia, uma vez que também atuava como merendeira, no turno da noite, na escola Luiz Gelain, em Nova Pádua. “Como era muito cansativo, eu pedi licença e fiquei dois anos na colônia. Quando eu ia retornar para a escola eu teria que trabalhar em Flores da Cunha, então eu achei melhor me exonerar e ficar por aqui mesmo”, explica.
Um tempo depois, a família de empregados que ajudava a paduense se desligou e, com isso, seu filho caçula, Moisés Bisinella – hoje com 30 anos – assumiu a propriedade e cultiva uva e tomate. Aos poucos, as coisas foram se encaminhando e ela pôde trabalhar como cozinheira em um restaurante do município, e, hoje, atua como costureira. “Agora eu ainda vou para a colônia, uma tarde ou duas por semana. Vou cuidar da horta, fazer o pão no forno à lenha e ajudar no que for preciso”, destaca a multitarefas, que acredita que a mulher está sendo cada vez mais valorizada e se destaca por suas diversas funções.
“Eu acho que a mulher agricultora assumiu um papel muito importante, porque ela trabalha na lida da casa, tem que cuidar dos filhos e vai para a colônia. Então ela tem dupla atividade. Hoje a mulher tem decisões, até nas próprias famílias, eu acho que está progredindo, elas assumem os negócios e são o braço direito”, enaltece.
Alice também deixa seu conselho para superar os momentos difíceis ao longo da vida: “Que as mulheres tenham fé e esperança de que dias melhores virão, embora, claro, tem suas dificuldades, mas, vamos superando dia a dia e orando também. Porque parece que a oração ficou de lado e nós estamos passando por situações difíceis, o mundo todo, então eu acho que a oração, a meditação, são pontos cruciais para a caminhada”, conclui, evidenciando a importância da fé e do apoio das pessoas próximas, que sempre a motivaram.
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