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Dedicação ao futebol passada às crianças

Ex-centroavante Vagner do Canto atuou em 15 clubes e há um mês coordena a escolinha de futebol

Está enganado quem pensa que vida de jogador de futebol é moleza. Rotina de treinos; longas viagens para jogar uma partida, ficando longe da família; não ter um clube para atuar; baixos salários... Mas o que realmente preocupa um atleta é o que fazer depois de pendurar as chuteiras, como se chama a aposentadoria na gíria do futebol. Nas últimas duas décadas, antes mesmo dos atletas decidirem parar, começaram a desenvolver projetos paralelos com a carreira, se preparando para a vida fora do campo – evitando que outras pessoas tomem as decisões. E no futebol isso é muito comum. Pensando em orientar crianças e adolescentes que pretendem ingressar no mundo da bola, o ex-centroavante Vagner do Canto foi um dos jogadores que encaminhou, paralelamente, o plano de criar uma escolinha de futebol.

Há um mês, o atleta que passou por 15 clubes na carreira, iniciou um projeto de aulas de futsete na Sociedade Recreativa Aquarius. “É preciso pensar no que fazer depois de parar de jogar. Amadureci a ideia e encaminhei o programa voltado a meninos de seis a 13 anos. Meu planejamento inclui a ampliação das idades e, também, oferecer a modalidade para meninas”, adianta Vagner, hoje com 32 anos. Natural de Caxias do Sul, ele casou-se com a fisioterapeuta Karoline Mossi e, há quatro meses, fixou residência em Flores da Cunha.

Além do projeto com a criançada – já são 47 alunos que têm aulas nas terças, sextas-feiras e sábados –, Vagner pretende se formar no final do ano em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), habilitando-se para trabalhar na clínica de fisioterapia e estética que abriu no Centro de Flores com a esposa. “Entrei na faculdade em 1997. Vou me formar após 13 anos, sendo que estudei em cinco instituições diferentes pelo fato da troca de clubes. Optei em dar aulas nos sábados para os pais terem a oportunidade de acompanharem os filhos. Isso é muito importante – ter a família presente no desenvolvimento das atividades”, opina o ex-atleta que jogou profissionalmente pela última vez em fevereiro deste ano pelo Brasília, no Candango, o campeonato estadual do Distrito Federal. Outra atividade que ele desenvolve é o treinamento da Seleção Sub-15 (infantil) florense, a qual irá participar da Copa Internacional que será realizada em janeiro de 2011 no município.
Trajetória

Formado nas categorias de base do Esporte Clube Juventude, Vagner começou na escolinha do time caxiense aos oito anos de idade. E lá ficou por 15 anos. Em 1997, no time júnior, com 18 anos, foi promovido ao elenco profissional pelo então treinador Adenor Bachi, o Tite – atualmente no comando do Corinthians (SP). No Rio Grande do Sul, Vagner passou pela ex-Ulbra (hoje Universidade), Santa Cruz, Brasil de Farroupilha, Inter de Santa Maria, Ypiranga de Erechim e Caxias. No Paraná, jogou pelo Londrina e pelo Paranavaí e, em Santa Catarina, pela Chapecoense, Figueirense e Brusque. Em São Paulo, no União Barbarense. E em Brasília, além do time homônimo, vestiu as cores do Gama. “Jogadores que são centroavantes giram bastante, por isso esse número de clubes. Nossos contratos duram, geralmente, três meses”, explica Vagner.

Um levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo corrobora a frase do jogador: em 2010, dos mais de 10 mil contratos registrados na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), 73% deles têm validade de, no máximo, seis meses. Ou seja, os dirigentes buscam uma solução para a posição e, para não arriscar, acabam reduzindo o tempo dos contratos, para não onerar os cofres das instituições. Um exemplo disso ocorreu com o próprio Juventude este ano. O atacante Fausto foi contratado para a disputa da Série C, e veio com a fama de goleador – marcou, no início do ano, pelo Linense-SP, 24 gols em 25 jogos. A direção alviverde, com esse aval, assinou com o atleta até novembro de 2012. Contudo, o Juventude acabou rebaixado à Série D – e Fausto marcou apenas um gol com a camisa verde e branca em jogos oficiais. Resultado: o jogador deve ser emprestado por não ter tido o retorno esperado, porém, continuará vinculado ao clube.

Experiência
Vagner frisa que adquiriu experiência na carreira, tanto pelo contato com treinadores quanto pela conquista de título. E isso, aliado aos conhecimentos acadêmicos, é o que ele pretende passar para a gurizada da escolinha. “Vejo que aqui em Flores da Cunha existem muitos garotos com potencial. Com responsabilidade, quero ajudar a encaminhar essa rapaziada. Hoje, com as tecnologias, as crianças acabam deixando de lado a prática esportiva, acarretando até em déficit motor. Pretendo ter credibilidade com o trabalho desenvolvido, em prol do futebol”, projeta Vagner. Para ele, a sociedade deve ter um “olhar especial” para projetos sérios, referindo-se a investimentos.

Como jogador, além de Tite, Vagner trabalhou com Mano Menezes (hoje técnico da Seleção Brasileira) nos juniores do Ju, com Dorival Júnior no Figueirense (hoje no Atlético-MG) e com Émerson Leão (atualmente sem clube) e Geninho (no Sport-BA) no Juventude, entre outros. Em casa, Vagner guarda, com orgulho, as faixas e medalhas da Copa do Brasil de 1999 (Juventude), da Segunda Divisão do Gauchão 2002 (ex-Ulbra, hoje Universidade), do Campeonato Catarinense de 2007 (Chapecoense) e da Segundona gaúcha de 2008 pelo Ypiranga – nessa competição ele foi o artilheiro, com 24 gols.

O projeto em Flores

A opção pelo futebol sete, com campo de dimensões reduzidas, foi a escolhida por Vagner para iniciar os meninos na modalidade. “Além disso, devido às condições do clima da Serra, o futsete me dá possibilidade de treinar em ginásios. É o que ocorre quando chove: treinamos na quadra do Fiorio”, destaca. Sobre a Seleção Sub-15, o ex-atleta conta que é difícil conseguir reunir todos os adolescentes no mesmo horário. “A maioria dos 25 atletas trabalha e ajuda em casa. A partir deste mês faremos treinos vespertinos para compatibilizar horários, e promover alguns amistosos, visando a preparação à Copa”, revela Vagner, que joga pelo Palmeiras na 1ª Divisão do Municipal florense.

Vagner concorda que se aposentou cedo, mas acredita que em toda a carreira foi um jogador persistente. “Hoje é mais difícil, pois você tem de agradar a si mesmo, o grupo, o técnico, a direção do clube, a torcida e a imprensa. Por isso, é preciso persistir para o objetivo ser alcançado. Eu alcancei o meu e decidi parar porque tinha outros planos em mente”, aponta o acadêmico de Educação Física. Um fato que exemplifica seu pensamento ocorreu em 1997, logo após ser promovido ao elenco profissional do Juventude. “Eu tinha feito vestibular e estava ansioso pelo resultado. Na mesma semana havia iniciado a pré-temporada do clube, visando a disputa do Gauchão. Estávamos concentrados no hotel Samuara, em Caxias do Sul e tínhamos, naquela sexta-feira à tarde, um teste físico na pista da UCS”, conta Vagner.

Antes de ir à Universidade, o jovem, na época, escutou seu nome em um radinho que havia conseguido no hotel. Comemorou com uma garrafa de água o ingresso na faculdade, no quarto do hotel. “No deslocamento para a UCS o ônibus seguiu pela Rua Sinimbu. Ao cruzar pela Rua Alfredo Chaves, vi a comemoração de dezenas de jovens de um curso pré-vestibular. Eu queria também estar lá, mas optei primeiro pelo futebol. Para quem está começando, duas dicas que nunca devem ser esquecidas: família e fé em Deus”, sustenta o persistente Vagner.

Confira abaixo fotos de quando Vagner foi campeão da Copa do Brasil com o Juventude em 1999, e no Figueirense, um dos clubes catarinenses em que Vagner atuou. (fotos / Acervo Pessoal / Divulgação).



Treinos com meninos de seis a 13 anos são realizados três vezes por semana. - Na Hora / Antonio Coloda
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