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De olho na balança e na saúde

No Brasil, o número de obesos cresce consideravelmente a cada ano.

No Brasil, o número de obesos cresce consideravelmente a cada ano. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), existem 68 milhões de pessoas com sobrepeso, 15 milhões com obesidade leve e 3 milhões com obesidade mórbida. Paralelo à mudança no perfil epidemiológico da população, cresce a demanda pela cirurgia bariátrica (redução de estômago). A estimativa é de que cerca de 10 mil pacientes são submetidos às diferentes técnicas disponíveis no país a cada ano, segundo o Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Porém, especialistas defendem que é prioritário buscar o tratamento clínico antes de enfrentar a mesa de cirurgia. Para o cirurgião do aparelho digestivo Rafael Giovanardi, que tem diploma pela Universidade de Paris Sud XI, é mestre e doutor em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade de Caxias do Sul (UCS), a intervenção cirúrgica é a última alternativa do paciente que já tentou outras formas de emagrecimento. “A pessoa que passou por tratamentos e não obteve sucesso deve ser avaliada criteriosamente antes de receber o aval para ser operada. É preciso um preparo físico e, acima de tudo, psicológico”, pondera o cirurgião. Em resumo, o paciente passa por uma série de avaliações – cardiológica, peneumológica, nutricional e anestésica, entre outras. Caso ocorram alterações, são feitos novos exames para montar um perfil. “De posse desse perfil o médico irá visualizar o menor risco possível para encaminhar à cirurgia”, avalia Giovanardi. Para ele, essa preparação dura em média três meses e é feita por uma equipe multidisciplinar. Além disso, é fundamental que a pessoa esteja consciente e obtenha referências do procedimento. Sobre essa última orientação, o empresário de Flores da Cunha Camilo Conti, 30 anos, faz uma ressalva: “Além de conhecer a cirurgia, é importante buscar referências médicas”. O alerta ocorre após a morte da mãe, a professora aposentada Claudina Conti, 58 anos, no dia 10 de fevereiro. Ela se submeteu a uma cirurgia de redução de estômago no Hospital da Unimed, em Caxias do Sul, e morreu devido a complicações pós-operatórias. Conforme Conti, houve o rompimento de uma artéria no abdômen, o que ocasionou a perda de muito sangue. “Ela combatia o excesso de peso há tempo. Mas, volto a ressaltar: é importante saber o maior número de informações possíveis, principalmente sobre o médico responsável”, opina Conti. Obesidade é doença A Organização Mundial de Saúde (OMS) identifica como obeso o indivíduo cujo Índice de Massa Corporal (IMC) encontra-se igual ou acima de 30 e obeso mórbido aquele que possui IMC igual ou acima 40. O índice é calculado dividindo-se o peso pela altura ao quadrado. Atualmente, a obesidade é um dos maiores problemas de saúde do século, acometendo quase um terço da população mundial. Somente na América Latina, é provável que 200 mil pessoas morram anualmente em decorrência das complicações da obesidade. No Brasil, o problema toma proporções cada vez maiores. Dados recentes mostram que ele já ocupa o sexto lugar no ranking dos países com maior número de obesos, atrás apenas dos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Itália e França. Existem várias alternativas terapêuticas para combater a doença. Algumas atingem a perda de peso com dietas e o uso de medicamentos. Porém, quando se trata de obesidade mórbida, tais medidas são ineficientes. Além disso, existem alterações nos mecanismos que controlam a distribuição da gordura e o gasto energético, fazendo com que haja uma tendência à recuperação do peso perdido, superando inclusive o peso inicial e se tornando ainda mais obeso, fenômeno popularmente conhecido como “efeito sanfona”. Os pacientes com obesidade mórbida devem, portanto, ser encarados como portadores de uma doença séria, que ameaça e reduz a qualidade de vida. A cirurgia bariátrica A cirurgia bariátrica (nome utilizado para se definir a cirurgia para redução de estômago) é o único método cientificamente comprovado que promove uma acentuada e duradoura perda de peso, reduzindo as taxas de mortalidade e resolvendo, ou pelo menos minimizando, uma série de doenças associadas à obesidade grave. A cirurgia bariátrica consiste em induzir a perda de peso por meios cirúrgicos. Basicamente, o procedimento possui técnicas com vantagens e desvantagens, as quais são analisadas em cada paciente de acordo com suas expectativas, prioridades e características pessoais. Durante a avaliação médica e psicológica, o cirurgião e o paciente decidirão qual a melhor alternativa. Conforme o especialista Rafael Giovanardi, as cirurgias podem ser restritivas, as quais diminuem a capacidade do estômago; disabsortivas, que diminuem a capacidade do intestino de absorver nutrientes; ou mistas, uma associação das duas já citadas, a qual utiliza o método Bypass gástrico em Y de Roux. “A indicação da cirurgia geralmente é feita para quem tem IMC entre 35 e 40 e duas comorbidades – como hipertensão e apnéia do sono, por exemplo – ou, ainda, IMC superior a 40. O método por videolaparoscopia é o mais indicado, pois é feito por meio de pequenas incisões, reduz a dor e o risco de infecções, do surgimento de hérnias e acelera a recuperação”, explica o cirurgião. Giovanardi lembra que o método por vídeo evita o corte na musculatura abdominal – o que facilita a recuperação –, permite uma melhor movimentação do paciente no processo pós-operatório e evita embolias. “Podemos citar ainda o fator estético, mas, numa cirurgia como essa, que prioriza a saúde do paciente, a parte estética é a última a ser citada”, observa. De acordo com o especialista, o procedimento misto proporciona a perda de 70% do excesso de peso, e é feito em cerca de duas horas e meia. Durante a recuperação, o paciente passará por uma dieta líquida, passando por uma pastosa e, aos poucos, retornará aos sólidos. “No mesmo processo realizamos uma série de exames. Em até dois anos o peso corporal se estabiliza. Volto a frisar que a preparação e o acompanhamento pós-operatório são fundamentais para a saúde do paciente”, diz Giovanardi. Ele complementa que faz a cirurgia desde 1998 em Caxias do Sul e, por videolaparoscopia, desde 2001. “O preparo psicológico orienta para uma nova vida” Há dois anos a servidora federal aposentada Olga Baggio Sandri, 61 anos, sabe o que é qualidade de vida. Após realizar a cirurgia de redução de estômago, perdeu 30% do excesso de peso e tem uma alimentação normal. “Segui todas as regras da equipe médica que me atendeu, antes e depois da cirurgia. Todo esse preparo psicológico orienta para uma nova vida”, avalia Olga. A aposentada pertence a uma família que tem tendência à obesidade. Ela conta que chegou a pesar 102 quilos. Após passar por uma avaliação multidisciplinar, com cirurgião, psicóloga e nutricionista, lhe foi indicado o procedimento cirúrgico. Na época, Olga tinha Índice de Massa Corporal (IMC) 40, ou seja, era obesidade mórbida. “Na família são sete pessoas que passaram pela mesma cirurgia. Todos os casos, inclusive meu filho, tiveram o devido acompanhamento médico”, aponta. Ela relata que fez várias tentativas para emagrecer, as quais não deram certo. Após conversar com os médicos, optou pela cirurgia. Olga faz questão de relatar sua experiência para quem a procura, pois sabe das dificuldades que enfrentam as pessoas com excesso de peso. “Hoje me alimento com saciedade. Antes, estava sempre com fome, ou passava fome ao tentar emagrecer. Agora, posso afirmar que a saciedade é alcançada com uma menor quantidade de comida. Vivo bem melhor”, resume a aposentada. Para entender melhor O que é - O peso e a distribuição da gordura no corpo são regulados por uma série de mecanismos neurológicos, metabólicos e hormonais que mantêm um equilíbrio entre os alimentos e bebidas ingeridos e o gasto energético. Quando há um excesso em relação ao gasto ocorre um armazenamento da sobra de energia sob a forma de gordura, traduzindo-se no aumento do peso corpóreo. A obesidade é, portanto, definida como um excesso do acúmulo de gordura no corpo. Quando este acúmulo atinge grandes proporções, passa a ser chamada de obesidade mórbida. A obesidade pode ser mensurada pelo Índice de Massa Corporal (IMC). - O IMC é calculado dividindo-se o peso pela altura ao quadrado. A faixa de peso normal varia entre os índices 18,5 a 24,9. Pessoas com IMC de 25 a 29,9 têm sobrepeso. Obesos são os que têm IMC entre 30 e 39,9. Obesos mórbidos têm índice superior a 40 e, superobesos, maior do que 50. Exemplo: uma pessoa que pesa 70 quilos e mede 1m70cm tem IMC de 24,2 – ou seja, 70 dividido por 2,89 (1,70 x 1,70). Causas da obesidade - Hereditariedade: deficiência ou falha da molécula leptina, que controla a quebra e a utilização da gordura. - Hormônios: hipotireoidismo, ovários policísticos e outras; puberdade, gravidez, menopausa e andropausa. - Medicamentos: antihistamínicos, anticoncepcionais e antidepressivos. - Emocionais: ansiedade e depressão provocam compulsão. - Hábitos: “beliscar” a todo o momento, lanches fora de hora, frituras e doces em excesso; vida sedentária e estressante; alimentação diária em fast foods e a falta de alimentos saudáveis. Riscos - A obesidade mórbida está associada a graves comorbidades como hipertensão arterial, diabetes, doenças cardiovasculares, alterações tromboembólicas, refluxo gastroesofágico, doenças articulares, além de formas de câncer (como de mama, de útero e de vesícula biliar), dentre outras, causando um risco de morte maior. A taxa de mortalidade de mulheres com 50% além do peso, por exemplo, é o dobro das mulheres com peso normal; subindo para oito vezes se houver diabetes associado. - Em pessoas com obesidade grave, o risco de apresentar diabetes está aumentado cerca de 53 vezes e o do câncer de endométrio, 5,4 vezes. Mais ainda, quando o indivíduo atinge 200 quilos, a chance dele viver mais sete anos é de apenas 50%. - Um outro fato dramático que ilustra a gravidade da obesidade e que mostra a baixa expectativa de vida deste grupo de doentes é ilustrado ao se avaliar os indivíduos que entraram para o Guiness Book (Livro dos Recordes), onde nenhuma das pessoas consideradas as mais pesadas ultrapassou os 40 anos de idade. Indicação Cirúrgica - A cirurgia está indicada para os pacientes adultos que apresentam IMC entre 35 e 40 e que tenham associadas duas comorbidades ou que tenham IMC maior que 40. - O paciente deve estar completamente consciente dos riscos e benefícios e estar disposto a mudar seu estilo de vida, seu padrão alimentar e seguir as orientações e o acompanhamento médico. Exercícios - É importante considerar que atividade física é qualquer movimento corporal produzido por músculos que resulta em gasto energético e que exercício é uma atividade física planejada e estruturada com o propósito de melhorar ou manter o condicionamento físico. - O exercício apresenta uma série de benefícios para o paciente obeso, melhorando o rendimento do tratamento com dieta.
Fontes: Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica em Metabólica (SBCBM) e Obesidade da mordida
Pesquisa serve de alerta No Brasil, 50% dos homens e 51% das mulheres estão com sobrepeso, ou seja, estão com Índice de Massa Corporal (IMC) entre 25 e 29,9. Os dados são de uma pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), divulgada em 2007. O estudo foi realizado em 2.179 mil residências de municípios brasileiros. O levantamento revela números surpreendentes sobre obesidade, a doença que mais cresce em todo o mundo. Os índices indicam que, atualmente, 3% da população brasileira é composta por obesos mórbidos, ou 3,7 milhões de pessoas, sem distinção de classe ou poder econômico. E a Região Sul é a mais pesada. Mais de 5% da população tem o IMC acima de 40. A iniciativa da SBCBM ao patrocinar a pesquisa foi mensurar a população que sofre da doença e nortear ações para o tratamento da obesidade mórbida no país. Os resultados estarão disponíveis para que o governo possa direcionar recursos e atuar de maneira mais efetiva nesta que, por muitos é considerada uma epidemia. No estudo também foram apurados dados sobre comportamento e hábitos dos indivíduos obesos mórbidos, revelando, entre outros índices, que 43% dos obesos mórbidos mantêm um estilo de vida nada saudável e 82% deles estão insatisfeitos com o peso atual. Para os especialistas brasileiros, a importação de novos e piores hábitos alimentares contribui muito para que o país passe por uma espécie de transição nutricional. “De um país de subnutridos estamos caminhando para um contingente de obesos”, reconhece o endocrinologista paranaense Henrique Lacerda Suplicy, do Ambulatório de Obesidade do Hospital de Clínicas da UFPR.
Cirurgia convencional (E), com corte abdominal e de recuperação mais lenta, e incisões da videolapar -
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