Geral

Das coisas que um mar não pode separar

‘Storie che fanno del silenzio il rumore’

 

Um poema antigo local conta a origem do nome Sospirolo como derivado dos suspiros dados por quem caminhava pelas montanhas: “Sospir del colle, o dolce Sospirolo. Tre valli ai piedi tuoi s'apron gioconde. E come rondinie in volo, sie inseguone l'onde”. As crianças aprendiam o poema que era composto por versos, e assim era passado de geração para geração. Adriana Tegner, mesmo não tendo nascido em Sospirolo, lembra de ouvir as estrofes desde criança, quando passou a residir na localidade. Porém, a versão mais reconhecida historicamente do nome do município vem da denominação do Monte Spenone, onde as pessoas se referiam à localidade como aquela ‘sotto Sperone’, que na fala rápida parecia Sosperone e, logo, tornou-se Sospirolo. Assim conta Massimo Tegner, um estudioso sobre a história da localidade.

Sospirolo pertence à província de Belluno, assim como outras 63 comunes. Por ser uma região de montanha, algumas dessas comunes são pequenas, com menos de mil habitantes. As localidades se formaram em grande parte por migrantes, que vinham de outros lugares e regiões, assim como partiam para outras regiões e países para trabalhar. Em Sospirolo, por exemplo, na maioria das famílias há histórias de imigração (pessoas de outros países), emigração (pessoas que deixam o país para viver em outro) e migração (que trocam de lugar onde vivem).

Outro fato importante na história da cidade foi a construção do Lago Del Miss, na década de 1960. A região do Miss era uma comunidade entre montanhas, onde viviam dezenas de famílias. A pouca terra era arrendada e as famílias sobreviviam com alguns animais e plantando alimentos. Apesar de ser um lugar belíssimo, no inverno fazia muito frio, e as condições eram precárias. As montanhas, que hoje são cobertas de vegetação, na época eram ocupadas para recolher pastagens aos animais e fazer lenha para enfrentar a neve no inverno, com frio que chegava a 20 graus negativos. A experimentação dos irmãos Paganin, que habitavam a comunidade, levou energia elétrica para as famílias através de um engenho de água, movido pelas águas da mística Cascata della Ssoffia, que por sua vez leva este nome pelo assobiar de águas que faz entre as montanhas.

No ano de 1962, iniciou a construção de uma hidroelétrica no Valle Del Miss onde foi aberto o lago, e as famílias tiveram que deixar suas casas. Parte dessas famílias imigrou, outra continuou vivendo em Sospirolo, mas as construções daquela comunidade estão submersas pelas águas do Lago Del Miss até hoje.

 

A ligação histórica e afetiva com Flores

Conhecendo as localidades de Sospirolo e, sobretudo, as pessoas, se encontram sobrenomes que também são de famílias florenses. Susin, Mioranza, Casanova, Tibolla, Lovatto, Venz, Romano, entre tantos outros. Desde 2012, Flores da Cunha e Sospirolo possuem um pacto de irmandade, chamado gemellaggio, devido à proximidade entre as famílias e como uma forma de manter viva a cultura e os costumes comuns. Para manter o projeto, foram criadas duas associações, uma em Flores da Cunha – Amigos de Sospirolo; e outra em Sospirolo – Amigos de Flores da Cunha.

O atual presidente da entidade italiana, Gabriele Galletti, é um entusiasta da ideia. “Além dos sobrenomes e dos costumes, com as atuações conjuntas nos tornamos irmãos de alma, e eu defendo muito a troca cultural entre as nossas cidades”, afirma. Em Sospirolo, a entidade possui cerca de 100 associados e conta com uma sala pública para encontros mensais. O projeto do intercâmbio cultural é uma ação proporcionada pela parceria entre as associações.

É emocionante ver a ligação entre as culturas, na fisionomia das pessoas, na forma de falar, dos hábitos preservados. Sospirolo também possui gemellaggio com as cidades de Albona, na Croácia; e Lexyie, na França, contudo poucas ações são realizadas.

 

Curiosidade: a origem do ‘Ciao’

A etimologia da expressão italiana ‘ciao’, que se invoca ao dizer olá e também tchau, deriva de uma forma usada na época da escravidão em Veneza, quando se chamava do ‘schiavo’ (escravo), que em dialeto veneziano se fala s’ciavo. Após algum tempo, a expressão ‘ciao’ se tornou comum para comunicar-se e se colocar à disposição de alguém de forma gentil (s’ciavo seu). A saudação que hoje é tão comum, só tornou-se parte da língua italiana no início do século 20, e hoje é utilizada em todos os momentos do dia em linguagem informal.

 

A fotógrafa Larissa Verdi integra o intercâmbio cultural da Assoicação dos Amigos de Sospirollo, entidade que nasceu com o Gemellaggio com Flores da Cunha em 2012. Junto com ela viaja a também fotógrafa Natane Areze. Esta é a segunda reportagem da série '30 Giorni a Sospirollo', que se estende até 5 de outubro.

O Valle Del Mis hoje é ponto turístico, mas guarda sob suas águas construções antigas de uma comunidade que ali vivia. - Natane Areze/Divulgação
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2 Comentários

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    Mais uma vez a historia passou pra cima do ceu azul de Sospirolo levando alem do mar o sonho Americano dos nossos antepassados.Parabèns Larissa e Natane!Sospirolo toda agradece

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    Ah que bom saber estas coisas, mesmo morando aqui não conhecia tudo isso...

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