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Cuidados redobrados nos frigoríficos

Granja Menegon e Matadouro Gavazzoni ampliaram as medidas sanitárias para não disseminar a Covid-19. Nenhum caso foi constatado nas empresas

A grande incidência de casos de coronavírus nos frigoríficos do Rio Grande do Sul deixa em estado de alerta a indústria de abate e processamento de carnes e derivados. Estima-se que o setor empregue em torno de 65 mil pessoas no Rio Grande do Sul. Em Flores da Cunha, a Granja Menegon, localizada no Travessão Claro, emprega 120 pessoas e, desde março, a empresa está tomando todos os cuidados com a prevenção do coronavírus. Conforme a gerente de RH, Michele Rech Menegon, 41 anos, neste momento seis funcionários estão afastados – quatro idosos e duas gestantes. “Havíamos afastado também as pessoas que possuem alguma comorbidade. No total eram 12 funcionários, mas agora eles já estão trabalhando normalmente, após laudo médico”, destaca Michele. 
A empresa que abate em torno de 10 mil frangos de corte por dia, informa que antes do coronavírus o número era 40% maior, chegando a 14 mil ao dia. “Tivemos que diminuir a produção por causa das normas de higienização e distanciamento”, revela. Todos os funcionários da empresa utilizam máscara – inclusive no ônibus –, e trocam a cada três horas, proteção facial que é higienizada com água e sabão e também com álcool 70%, além da empresa ter feito adequações no refeitório. “Apenas 20 pessoas por vez podem ficar no refeitório. Então adequamos os horários e realizamos um escalonamento, em que a pausa do almoço inicia às 11h e segue até as 14h”, diz a gerente de RH.
A mudança no transporte também foi essencial. E é nele que todos os funcionários passam por higienização e medição de temperatura. “Antes de entrar no transporte medimos a temperatura. Caso haja alteração, podemos evitar que a pessoa tenha contato com outros funcionários durante o transporte e dentro da empresa”, enfatiza. 
Já no abatedouro e frigorífico, houve um distanciamento maior, ficando cada trabalhador um metro de distância ombro a ombro. “Não temos como deixar um espaço maior na produção. Quanto mais espaço, menos produzimos”. Michele destaca que, em alguns postos, uma proteção de acrílico foi colocada para separar os funcionários. 
E essa redução não é sentida só na empresa, mas sim nos 40 produtores integrados da Granja. “Tivemos o cuidado de manter o contrato com todos, mas diminuímos a quantidade de pintinhos de cada um”, informa Michele. Os produtores estão espalhados por Flores da Cunha, Nova Pádua e Caxias do Sul. 
E para que tudo isso ocorra sem decorrências, a empresa implantou monitores. São seis monitoras, funcionárias da empresa, que possuem a responsabilidade de cuidar do quadro de profissionais para que não saiam das regras. As monitoras, dentro da empresa, são identificadas com um colete laranja e passaram por treinamento. 
Conforme Michele, o engenheiro da empresa está em constante trabalho para fazer um levantamento do que ainda pode ser melhorado na sede. “Hoje, as saídas de emergência ficam abertas. Foram colocadas telas de proteção e após o encerramento do dia, os locais passam por higienização e permanecem abertos para a troca de ar”, informa.  
Conforme a gerente de RH, tudo o que está sendo feito em termos de normas para o combate da Covid-19, está elencado em um protocolo elaborado pelo Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho da empresa, juntamente com Cipa, médico do trabalho e engenheiro do trabalho. “Tudo está documentado, inclusive com imagens, baseado nas portarias que foram entrando em vigor”.
A empresa, que trabalha em um turno só, até estudou a ampliação para dois turnos para diminuir a aglomeração dos funcionários, mas o custo seria muito elevado. 


Planos adiados
A Granja Menegon, no mês de março, iniciou com a fabricação de temperados. Mas, devido à pandemia e à redução da produção, o novo produto não está tendo a elaboração esperada. “Ficamos um ano em aprovação, montamos um novo espaço para isso, mas vamos esperar o retorno da produtividade para intensificar o trabalho dos temperados, como do salsichão, que seria um novo produto que entraria no mercado e, provavelmente, irá ficar para 2021”, finaliza. Conforme Michele, com a produção reduzida e a mesma demanda no mercado, os planos foram adiados já que faltaria matéria para fabricá-los.

Sem casos até o momento

Dos 118 casos em Flores da Cunha – até a quinta-feira, dia 2 – nenhum foi constatado nos frigoríficos. Conforme a gerente do Matadouro Gavazzoni, Priscila Gavazzoni Schiavenin, os cuidados estão sendo redobrados, com o uso de máscara, de álcool gel e a aferição da temperatura antes de entrar na empresa, entre outros cuidados. “Estamos tomando todas as medidas de prevenções exigidas. Os frigoríficos sempre tiveram uma série de cuidados, por se tratar de alimentação, então não foi difícil se adequar e cumprir com as novas exigências”, destaca Priscila. 
De acordo com a gerente, a empresa realizou a vacina da gripe nos seus 50 funcionários.

No Estado

Os últimos dados divulgados pelo Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul (MPT-RS) identificavam 5,1 mil casos de coronavírus em trabalhadores de 32 frigoríficos com base em 23 municípios gaúchos. O dado representa cerca de 25% do total de infectados no Estado.
Conforme o procurador do trabalho e coordenador da Procuradoria do Trabalho no município de Caxias do Sul (PTM), Rodrigo Maffei, o MPT tem atuado para apurar irregularidades trabalhistas, em especial, neste momento, aquelas afetas à pandemia do novo coronavírus. “O setor dos frigoríficos tem demandado uma atenção especial, haja vista os importantes casos de trabalhadores infectados pelo vírus em tal segmento econômico. Na região de abrangência da PTM Caxias do Sul houve a expedição de recomendações para diversos frigoríficos, inclusive Flores da Cunha, a fim de que cumpram as Normas Regulamentadoras de proteção à saúde e segurança no trabalho, bem como normas e diretrizes específicas para preservação da saúde nesse momento de calamidade pública provocada pela pandemia”, destaca Maffei.
De acordo com o procurador, o MPT, ao constatar irregularidades, exige que o empregador promova as medidas e ações necessárias para saná-las. No caso dos frigoríficos, diversos foram fiscalizados, sendo que alguns formalizaram Termo de Ajuste de Conduta. “Houve a necessidade de ajuizamento de uma Ação Civil Pública perante a Justiça do Trabalho de Caxias do Sul, e outros estão em processo de fiscalização”, informa.
Quaisquer notícias de irregularidades e denúncias poderão ser feitas à fiscalização trabalhista, ao MPT, ao Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação ou à vigilância sanitária e epidemiológica dos municípios. 

 

Granja Menegon reduziu 40% o abate de frangos devido às exigências do distanciamento dentro da empresa.  - Gabriela Fiorio
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