Croácia multicolorida
Plitvice abriga o mais antigo parque nacional no sudeste da Europa e reúne 16 lagos, a maioria interligados por cachoeiras
Os peixes passam um após o outro sob meus pés, como em procissão. Em contraste com os reflexos de azul-turquesa da água, eles parecem flutuar num céu líquido e particular. Abaixo-me, chego perto da beirada e tenho dezenas deles ao alcance da minha mão. Continuo sem pressa pelo caminho de palafitas, imaginando quantos milhares de peixes vivem nas águas cristalinas de Plitvice, o maior e mais antigo parque nacional da Croácia.
Além da quantidade fabulosa de peixes, Plitvice abriga 140 espécies de aves e muitos outros animais menos dados a aparições públicas. Mas não são só animais. Plitvice contém uma das poucas amostras de floresta virgem europeia que ainda restam. Se a biodiversidade de Plitvice já não fosse o bastante, a formação geológica do parque também tem algo de especial. Localizados no centro-oeste da Croácia, numa área de relevo rico em rochas calcárias, os lagos são o resultado da deposição incessante de carbonato de cálcio sobre musgos e algas microscópicas.
Biodiversidade e geologia à parte, o que primeiro salta aos olhos nesse canto da Croácia é a beleza dos 16 lagos e dezenas de cachoeiras espalhadas pelos quase 300 quilômetros quadrados do parque. Não é a toa que o Parque dos Lagos de Plitvice é Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 1979. Se não fosse o barulho relaxante da água que, em forma de cachoeira, corre de um lago ao outro, seria fácil imaginar uma paisagem de aquarela gigante em tons de verde e azul, bem em frente aos meus olhos. Difícil é imaginar Plitvice como cenário de guerra, o que de fato aconteceu nos anos 1990, durante o conflito entre sérvios e croatas.
Independência
Em abril de 1991, o que os croatas chamam de “Páscoa Sangrenta de Plitvice”, foi um dos primeiros incidentes da Guerra da Independência, que vitimou mais de 10 mil sérvios e croatas pelos quatro anos que se seguiram. Sob o regime comunista, a Croácia era parte da Iugoslávia, com Montenegro, Macedônia, Sérvia, Eslovênia e Bósnia e Herzegovina. Mas com a queda do comunismo no leste europeu, a Croácia foi um dos primeiros países a buscar autonomia política por meio de eleições multipartidárias. O incidente de Plitvice aconteceu quando rebeldes sérvios, apoiados pela força militar da Iugoslávia, invadiram o parque, declarando-o parte da região autônoma sérvia (Krajina), que era contra a independência da Croácia.
Apesar de durar apenas um dia, a “Páscoa Sangrenta” contribuiu para aumentar a tensão entre os dois grupos étnicos, e resultou nas duas primeiras mortes do conflito entre sérvios e croatas. Apesar de expulsos pela polícia croata, rebeldes sérvios e o exército iugoslavo voltaram a invadir o parque alguns meses depois. Plitvice só voltaria ao domínio croata em 1995, com o fim da guerra. Felizmente, há mais de 15 anos do final da guerra, a Croácia hoje recebe milhares de visitantes que desejam conhecer um dos refúgios ecológicos de maior beleza na Europa.
* Texto originalmente publicado na edição 146 da revista Bon Vivant.
Além da quantidade fabulosa de peixes, Plitvice abriga 140 espécies de aves e muitos outros animais menos dados a aparições públicas. Mas não são só animais. Plitvice contém uma das poucas amostras de floresta virgem europeia que ainda restam. Se a biodiversidade de Plitvice já não fosse o bastante, a formação geológica do parque também tem algo de especial. Localizados no centro-oeste da Croácia, numa área de relevo rico em rochas calcárias, os lagos são o resultado da deposição incessante de carbonato de cálcio sobre musgos e algas microscópicas.
Biodiversidade e geologia à parte, o que primeiro salta aos olhos nesse canto da Croácia é a beleza dos 16 lagos e dezenas de cachoeiras espalhadas pelos quase 300 quilômetros quadrados do parque. Não é a toa que o Parque dos Lagos de Plitvice é Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 1979. Se não fosse o barulho relaxante da água que, em forma de cachoeira, corre de um lago ao outro, seria fácil imaginar uma paisagem de aquarela gigante em tons de verde e azul, bem em frente aos meus olhos. Difícil é imaginar Plitvice como cenário de guerra, o que de fato aconteceu nos anos 1990, durante o conflito entre sérvios e croatas.
Independência
Em abril de 1991, o que os croatas chamam de “Páscoa Sangrenta de Plitvice”, foi um dos primeiros incidentes da Guerra da Independência, que vitimou mais de 10 mil sérvios e croatas pelos quatro anos que se seguiram. Sob o regime comunista, a Croácia era parte da Iugoslávia, com Montenegro, Macedônia, Sérvia, Eslovênia e Bósnia e Herzegovina. Mas com a queda do comunismo no leste europeu, a Croácia foi um dos primeiros países a buscar autonomia política por meio de eleições multipartidárias. O incidente de Plitvice aconteceu quando rebeldes sérvios, apoiados pela força militar da Iugoslávia, invadiram o parque, declarando-o parte da região autônoma sérvia (Krajina), que era contra a independência da Croácia.
Apesar de durar apenas um dia, a “Páscoa Sangrenta” contribuiu para aumentar a tensão entre os dois grupos étnicos, e resultou nas duas primeiras mortes do conflito entre sérvios e croatas. Apesar de expulsos pela polícia croata, rebeldes sérvios e o exército iugoslavo voltaram a invadir o parque alguns meses depois. Plitvice só voltaria ao domínio croata em 1995, com o fim da guerra. Felizmente, há mais de 15 anos do final da guerra, a Croácia hoje recebe milhares de visitantes que desejam conhecer um dos refúgios ecológicos de maior beleza na Europa.
* Texto originalmente publicado na edição 146 da revista Bon Vivant.
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