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Crescimento do Brasil será mantido

Projeção é do economista e ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, que palestrou quarta-feira em Flores

Imaginem três cenários. No primeiro, a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), reproduz o que foi o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com os mesmos erros e defeitos, sem avançar e sem retroceder. O segundo, otimista, prevê que Dilma irá surpreender e provar que é uma grande líder, com capacidade de mobilização e de articulação e fará as tão esperadas reformas. No último – pessimista –, dá tudo errado. A presidente não controla os juros e a inflação, e há um retrocesso. Qual destes cenários é o mais provável para os próximos quatro anos? O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega acredita que a primeira, com 70% de chances – a otimista fica com 10% e, a última, com 20%. Com o tema Perspectivas da Economia Brasileira ele palestrou na noite do dia 30 em Flores da Cunha, no Clube Independente, numa promoção do Centro Empresarial (CE), em parceria com a Fábrica de Móveis Florense.

O economista projetou a conjuntura para 2011 com o aumento, por parte do Banco Central e em duas oportunidades, da taça de juros Selic de 11,75% para até 12,75%, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,9%, inflação de 5,9% – “Número a ser revisto, pois bancos e consultorias já falam em 6,5%” – e taxa de desemprego de 6,4% (foi de 6,7% em 2010). “Nós vamos crescer menos. Isso não é ruim, pois não cresceremos excessivamente. Uma economia não cresce o que a gente quer, mas sim o que é possível, dada a capacidade produtiva do país e a sua capacidade de importar bens e serviços”, explicou o ex-ministro do presidente José Sarney.
Segundo Nóbrega, na economia existe um conceito chamado PIB Potencial, que significa o máximo que um país pode crescer. “Se uma nação está abaixo do seu potencial, desperdiça fatores de produção. Se cresce acima, isso começa a gerar desequilíbrios. Para se ajustar, existem duas formas: uma, crescer menos, mas a inflação pode aparecer e corroer a renda do trabalhador e diminuir o consumo; ou importar, para suprir a oferta doméstica”, contextualiza. Para o economista, o Brasil vive uma situação de aumento de inflação e de importação, “e isso é insustentável ao longo do tempo”. “Portanto, se crescermos menos, em torno de 4%, a perspectiva é de que o emprego e a renda continuem em alta”, acredita Nóbrega.

Sem riscos

Falando para o empresariado da região, o sócio da Tendências Consultoria Integrada foi enfático ao dizer que, agora, o Brasil tem grau de investimento. E isso significa ter baixa capacidade de se desorganizar, de gerar inflação ou gerar calote. “Além de aumentar a confiança no país, favorece o acesso a fontes de financiamento mais amplas e baratas, por exemplo, como os fundos de pensão americanos, que têm patrimônio atual estimado em US$ 10 trilhões, os quais só podem ser usados em países que têm grau de investimento”, pontua.

Nóbrega salienta que o Brasil chegou nessa situação favorável após um longo processo de construção e transformação, no qual militares, Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula tiveram sua parcela de importância. “Segundo Lula, nada antes havia acontecido. Lula prometia mudar a política econômica. E ele mudou porque exigiu uma dose cavalar de coragem, de intuição. O Brasil vai ficar devendo isso ao Lula. Ele se vangloria de ter mudado o país; ele não mudou, mas ajudou”, opina o ex-ministro.

Segundo ele conta no livro Além do Feijão do Arroz (editora Civilização Moderna), a partir da década de 1980 o Brasil começou a construir instituições, com capacidade de investir e inovar, bem como um conjunto de fatores favoráveis, principalmente a democracia – esta consolidada. “O desafio agora é radicalizar a democracia. O Brasil tem imprensa livre, isso é uma grande conquista, independente e de qualidade. A grande maioria dos escândalos recentes foi denunciada pela imprensa, inclusive o impeachment de Collor”, cita.

No aspecto econômico, Nóbrega diz que o país saiu muito bem da crise internacional por ter um sistema financeiro sólido e sofisticado, o maior principalmente entre os emergentes. “Não é maior que o da China, mas é mais sofisticado em termos de produtos, serviços e tecnologia. O sistema financeiro é uma fortaleza. Se ele quebra, todo mundo quebra junto. Nesta crise nenhum banco nacional quebrou. O caso do Panamericano foi outra coisa, foi fraude”, explica. O Brasil está há 17 anos com estabilidade macroeconômica, e isso é fundamental para o povo, para os empresários. A base é formada por três pilares: câmbio flutuante (até 1999 era fixo); Banco Central (BC) autônomo, com capacidade de perseguir metas de inflação (garante duas características, a estabilidade da moeda e o sistema financeiro); e poder público. “Nossa situação externa é confortável. Temos reservas internacionais de US$ 315 bilhões, e a dívida é de cerca de US$ 250 bilhões. Ou seja, o Brasil não tem mais dívida externa. Nós somos credores, e isso é uma coisa nova, absolutamente nova.”

Governo Dilma
Para Maílson da Nóbrega, o governo da presidente Dilma Rousseff começou melhor do que o esperado. “Ela tem surpresas agradáveis que decorrem, não necessariamente, de lideranças novas, mas de suas próprias características. Como ela não tem o carisma e a capacidade de expressão de Lula, ela se contrai. Só aparece quando necessário. Bem diferente do Lula, que quase todo dia estava na tevê. Isso é bom”, sintetiza. Para o economista, a petista lê os discursos sem piadas, metáforas ou palavrões. “As reuniões começam na hora. Afinal, ela ocupa o principal cargo do país, de presidente da República. Outro exemplo é o líder norte-americano Barack Obama. Vocês jamais irão ver o Obama carregando um isopor de cerveja na cabeça (referindo-se à foto de Lula que saiu na imprensa em janeiro de 2010 durante suas férias em uma base militar do litoral da Bahia). Os líderes devem dar o exemplo”, disse, enquanto os participantes esboçaram uma risada sobre o comentário.

Efetivamente, para Nóbrega, cabe ressaltar a nova postura brasileira na diplomacia, sem passar a mão na cabeça de ditadores da Venezuela, do Irã ou de Cuba. Dilma se comprometeu com questões básicas e reconheceu que o Brasil existia antes de 2003 – “Para Lula, antes de 2003 não havia nada”. O economista acredita que a presidente tem dois grandes desafios no seu mandato: reverter a situação fiscal que se deteriorou muito nos dois últimos anos, provocada principalmente pelos gastos para sua eleição; e promover melhorias de infraestrutura. “O Brasil está preparado para uma revolução em sua infraestrutura – portos, aeroportos, ferrovias, estradas. E para se investir nisso é preciso duas coisas: dinheiro e apetite, isso existe; e o lado do governo em organizar essa vontade. Sobre as reformas tributária, trabalhista, política e previdenciária, esqueçam. A não ser coisinhas pequenas. Para atacar os problemas nestas áreas Dilma não tem a liderança para coordenar grupos de interesses”, questiona o palestrante.

Antes do término do encontro, o ex-ministro comentou que as questões tributárias serão encaminhadas quando acabar a chamada “bagunça” que existe em relação ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “O ICMS é um caos que só piora a cada dia. Não existe isso de cada Estado ter uma alíquota. Na Áustria, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e México os Estados não têm poder para cuidar de um imposto tão importante. O ICMS tem que ser federal e organizado”, observa.

Mesmo assim, o país continuará crescendo, pois sediará a Copa do Mundo e as Olimpíadas. “O Brasil ainda é muito atrativo, e tudo isso gera um gás que permitirá ao governo Dilma crescer em torno de 4% – é melhor do que nada e acima da previsão dos europeus. O desafio futuro é termos líderes que mobilizem o país”, sustenta o economista.

Palestrante destacou que o Brasil saiu muito bem da crise financeira internacional por ter um sistema financeiro sólido. - Luizinho Bebber / Divulgação
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