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Convívio familiar em tempos de pandemia

Mudança de rotina impôs desafios a pais e filhos

“Vai embora, coronavírus, você é muito chato! Quero brincar com meus colegas!”.
Uma declaração inocente de Gabriela Lazaretti Guarese, de apenas quatro anos, chamou a atenção da mãe, Luciane Lazzaretti, 43, e reflete o sentimento de muitas crianças que, de uma hora para outra, tiveram de mudar suas rotinas por causa da pandemia da Covid-19. “Ela está bem cansada, quer ir para aula, pede da profe...”, conta a consultora técnica de RH, que juntamente com o marido, o gerente comercial Jadiel Guarese, 43, precisou adaptar o dia a dia da família ao distanciamento social imposto pela crise sanitária. 
“Mudou bastante. Eu estou em casa, trabalhando normalmente, com reuniões diárias. Meu esposo, trabalhando na empresa, com viagens. Para as crianças, mudou completamente: aulas pelo Zoom, atividades vindas por portal (e-mail) ou whats e que nós, pais, temos que explicar e relembrar, muitas vezes, matérias que no dia a dia não usamos. Fazer a higiene, trocar de roupa, desligar a TV, participar das aulas. Essa correria de cobranças é o que realmente está cansando”, desabafa a mãe.
A angústia de Luciane é compartilhada por milhares de pais e responsáveis que abruptamente tiveram de se dividir entre o teletrabalho, os afazeres domésticos e a educação dos filhos em decorrência das medidas restritivas para evitar a circulação do vírus. “Todos nós sofremos uma ruptura abrupta em nossas vidas a partir da pandemia. Todas as áreas estão sendo afetadas, seja pessoal, familiar, profissional ou social. O convívio familiar não fica fora disso. É necessário um exercício constante de adequação interna e externa. As rotinas e hábitos diários de cada membro da família deixaram de existir e um novo modelo precisa ser criado. Os pais se sobrecarregam de atividades e chegam ao esgotamento físico e mental, enquanto seus filhos refletem como espelhos este desconforto, medo e ansiedade. O passado não serve mais como referência e o futuro é incerto. O que resta é vivermos o presente, um dia de cada vez, cada um com suas características e surpresas”, reflete a coach pessoal e empresarial Joselisa Toigo.
Analista comportamental e psicoterapeuta, ela afirma que o momento sugere o cuidado uns dos outros para que seja mantida a saúde física e mental da família. Joselisa explica que os adultos têm a capacidade de expressar suas emoções através da fala, conversando sobre como está se sentindo, buscando apoio e orientação dos familiares, colegas ou profissionais. 
Já as crianças se expressam através do corpo e, para isso, precisam brincar, dançar e cantar, por exemplo. O adolescente pode se expressar através da mudança de comportamento.
A profissional acrescenta que definir uma rotina para a família pode ser uma boa estratégia e todos devem participar da elaboração das tarefas e dos horários. “O tempo deve ser dividido contendo espaço para trabalho, aulas e tarefas da escola. É imprescindível que tenha um espaço para brincar, conversar e interagir. Uma forma de satisfazer essa necessidade é pedir para a criança o que ela gostaria de fazer neste tempo que estaremos juntos. Não se trata de encher a criança e o adolescente de atividades o dia todo, isso gera ansiedade e culpa nos pais. É importante que cada um possa ter seu momento individual, de silêncio, de atividades próprias, para sua organização mental, descanso e lazer, e todos devem respeitar o espaço de um e outro”, acrescenta.


Empatia

Especialista em terapia de casal e família, a psicóloga Rochele Sachet Antoniazzi analisa que o distanciamento social aproximou os laços intrafamiliares, uma vez que não poder sair para realizar as rotinas fez com que as famílias reorganizassem suas atividades ocupando o tempo extra na limitação do lar: brincando juntos, produzindo as refeições, assistindo a programas nas mídias, jogando games, brincando com os seus pets. 
No entanto, percebe-se que este prazo já está “vencendo”, e que as pessoas estão cansadas de sua liberdade estar reprimida e cerceada por meios externos.
Ela acrescenta que, para tornar esta rotina mais saudável, os pais precisam se aproximar de seus filhos, dedicando parte de seu tempo para realizar atividades prazerosas brincando com eles. “Vale tudo: jogar cartas, dançar, assistir filmes e, quando puder sair, dar preferências para locais ao ar livre e com pouca circulação de pessoas. Ainda vivemos um momento crítico de contaminação, precisamos ser conscientes com a nossa vida e com a vida das outras pessoas também. A isso chamamos de capacidade de empatia”.

Gabriela e Rafael com a mãe Luciane Lazzaretti.  - Fotos/ Arquivo Pessoal
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