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Consumismo infantil preocupa

Crianças são principal alvo da indústria publicitária brasileira

No dia 12 de outubro é comemorado o Dia das Crianças no Brasil. Nessa época, os meios de comunicação são tomados por propagandas de lojas e dos mais atrativos brinquedos. Em pouco mais de meia hora em frente à televisão é possível observar mais de dez comerciais endereçados aos pequenos, que conhecem mais do que qualquer adulto o último modelo de celular ou o nome da boneca que acabou de ser lançada. O ataque desenfreado da mídia é um dos principais fatores que contribuem para a elevação dos índices de consumismo infantil no país. De acordo com levantamento realizado pelo Ibope Mídia, em 2006 os investimentos publicitários destinados à categoria de produtos infantis foram de R$ 209,7 milhões. Conforme o instituto, esse mercado movimentou cerca de R$ 39 bilhões em 2006. Mas a mídia não é a única vilã da história. Uma pesquisa apresentada pelo TNS InterSciense, instituto que atua em mais de 70 países, revela que a divulgação de produtos e serviços associados a personagens famosos, brindes, jogos e embalagens chamativas, além da opinião dos amigos também servem de influência para a prática. O livro Crianças do Consumo – A infância Roubada, da americana Susan Linn, aborda essa questão. Para a autora, o marketing para crianças enfraquece os valores democráticos ao encorajar a passividade, o conformismo e o egoísmo, além de contribuir para o aumento de problemas de saúde pública, como a obesidade infantil, a dependência do tabaco e o consumo precoce de álcool. E, por outro lado, ainda enaltece, em grande escala, valores materiais.

Para a mestre em psicologia e coordenadora de Educação e Pesquisa do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, de São Paulo, Lais Fontenelle Pereira, essa tensão social não é saudável e influencia negativamente a formação de uma geração de pessoas que acredita que é preciso ter para ser. “Uma criança que não quer ir à escola porque não tem o tênis da moda, por exemplo, é motivo para alerta. Precisa de atenção”, aconselha a profissional. Alvos da indústria publicitária O fato é que há muito tempo o tema consumismo deixou de ser um problema de adulto. Nos dias de hoje, as crianças passaram a ser peças fundamentais da chamada ‘sociedade de consumo’, não apenas porque escolhem o que seus pais compram (pesquisas do TNS InterSciense indicam que elas influenciam em média 80% nas escolhas) e são tratadas como consumidores mirins, mas também porque, se abordadas desde cedo, tendem a ser mais fiéis a marcas e ao próprio hábito consumista que lhes é praticamente imposto. Para a psicanalista Márcia Tolotti, o consumismo infantil está se tornando uma doença, na medida em que a criança mostra que fica segura e feliz ao comprar algo ou infeliz e incomodada se seu pedido é negado. “Esses são indicativos de que ela acredita que seu bem-estar está relacionado aos bens que pode comprar”, especifica.

Márcia é autora de uma pesquisa que mostra os hábitos de consumo e endividamento de 700 estudantes da rede pública, entre 5ª e 8ª séries, de Flores da Cunha. O estudo, feito em 2007-2008, revelou que 82,31% dos entrevistados ficaram felizes quando compraram alguma coisa e que 50,94% deles sentiram raiva ao não conseguirem o item desejado. Para a psicanalista, essa atitude pode trazer consequências nocivas à formação desses indivíduos. “A ideia de que a felicidade e o valor próprio estão atrelados ao ter pode desencadear um quadro de baixa auto-estima, falta de criatividade, formando adultos instáveis, sem uma personalidade própria”, constata Márcia. Educação financeira De acordo com a psicanalista, os especialistas da área publicitária desenvolveram estudos e concluíram que existem quatro perfis de pais: os indulgentes (fazem todas as vontades dos filhos), os companheiros (consomem com os filhos), os conflitantes (motivados pela culpa de não estarem sempre presentes recompensam os filhos com bens materiais) e os de necessidades básicas (no geral, conseguem um equilíbrio emocional e financeiro muito grande. Consequentemente, são aqueles que menos cedem aos filhos). Com base nessas informações, direcionam o apelo comercial aos grupos que fazem a vontade das crianças. Para tentar controlar esse impulso, Márcia salienta que os pais devem estar atentos e buscar um trabalho em conjunto. “Não basta apenas desligar a televisão. Essa cultura do bom consumidor deve ser trabalhada em conjunto com a escola. Eles devem sugerir, por exemplo, que as instituições organizem programas de educação financeira ou se inserir em programas sociais que ensinem às crianças que a vida pode ser construída também com a coletividade”, sugere. De acordo com a mestre em psicologia Lais Fontenelle, a família deve acompanhar e cuidar do cotidiano dos filhos, saber do que gostam, o que fazem, do que brincam. Para ela, isso é fundamental. “Também é preciso que pais e filhos dialoguem e que os pais imponham limites. Dizer não é educar” acrescenta. Aliado aos pais O Instituto Alana é uma organização não-governamental e sem fins lucrativos que, desde 1994, desenvolve atividades educacionais, culturais e de fomento à articulação social. Seu principal objetivo é trabalhar pela valorização do ser humano, pelo bem-estar coletivo e pela melhoria da qualidade de vida. Desde 2005 a ONG desenvolve o projeto Criança e Consumo, que visa despertar a consciência crítica da sociedade brasileira, especialmente educadores, formadores de opinião e empresas, a respeito das práticas de consumo de produtos e serviços por crianças e adolescentes. O órgão procura debater e apontar meios para minimizar os impactos negativos causados pelo ataque da mídia a grupos infanto-juvenis. Uma das metas da organização é a proibição legal e expressa de toda e qualquer comunicação mercadológica dirigida à criança no Brasil. Dica de leitura O projeto Criança e Consumo disponibiliza a cartilha chamada Como proteger nossas crianças do consumismo. O material traz dicas que orientam os pais a como proceder com seus filhos. O download pode ser feito gratuitamente pelo site clicando aqui.
Crianças da 4ª série possuem aparelhos de celular de última geração. - Mirian Spuldaro
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