Consumidores mudaram hábitos para adequar o orçamento
Diante de um cenário de alta da energia e combustíveis, busca por alternativas significa reduzir despesas em casa
Da primeira refeição do dia até aquele jantar diferenciado, os brasileiros estão sentido que alimentar-se está mais caro. Os gastos com o café da manhã, por exemplo, subiram quase 10% em 2015 e ficaram acima da inflação. De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o pãozinho francês ficou 7,8% mais caro de janeiro a julho deste ano e o leite ultrapassou os 9% de aumento. Fazer lanches na rua também ficou mais pesado para o bolso: aumento de 8,7%. Com isso, brasileiros – e florenses –, estão mudando hábitos que no final do mês podem fazer a diferença no orçamento, ou seja, realizar mais refeições em casa, trocar produtos de uma marca por outra, eliminar supérfluos da lista e ir às compras com mais frequência.
Substituir produtos da cesta de consumo das famílias é uma maneira de ajustar o orçamento a um nível de consumo adequado, mesmo num período de inflação alta. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Caxias do Sul (Sindigêneros), que abrange Flores da Cunha e Nova Pádua, Eduardo Luiz Slomp, é essa mudança de hábitos que os consumidores estão mostrando diariamente com o intuito de economizar. “Um dos hábitos que mais mudou é o de preparar mais refeições em casa. Com isso, os consumidores estão indo mais vezes ao supermercado e comprando em menos quantidade. Procuram por marcas mais baratas e substituem alimentos mais caros como, por exemplo, a carne bovina, por outras mais acessíveis, como o frango ou carne suína”, exemplifica Slomp.
A atual conjuntura econômica e política do Brasil é uma das principais causadoras da inflação, o que eleva os preços das compras nos supermercados de Norte a Sul. Um exemplo é a liberação dos aumentos dos preços administrados, como luz, água e combustíveis, que estavam represados no ano passado. Além disso, existe o câmbio do dólar, que já acumula uma valorização de 21,7% frente ao real neste ano. No acumulado dos últimos 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 9,5% – o mais elevado acumulado em 12 meses desde novembro de 2003 (que foi de 9,3%). Somente de janeiro a julho de 2015 o acumulado foi de 6,8%, número maior que o aglomerado de todo 2014 – de 6,4%. Com esses números, a dona de casa vira uma estrategista para segurar o orçamento.
O novo comportamento dos consumidores exige adaptação dos supermercados, que sentiram crescer a procura por itens que integram a cesta básica, como arroz, feijão, massa e óleo de soja. “Esses, porém, são os produtos que menos dão lucratividade aos supermercados, que dependem de itens com maior preço agregado para aumentar a margem de lucro. Os carrinhos dos consumidores estão bem diferentes”, admite Slomp, que acrescenta que a alta dos produtos não é a principal responsável, mas sim o poder de compra dos consumidores que caiu. “O mesmo dinheiro precisa levar mais coisas para casa e com isso os supermercados estão sofrendo tanto quanto a indústria”, argumenta o dirigente. Segundo ele, os consumidores de Flores da Cunha ainda se diferenciam das demais cidades por privilegiarem o consumo de alimentos produzidos em casa, como pães e saladas.
Poupar sem abrir mão da saúde
Consumidora assídua de frutas e legumes, a técnica em enfermagem Patrícia Michelon, 36 anos, percebeu no bolso o aumento nos preços dos produtos que seleciona com atenção na fruteira. Para ela, está cada vez mais difícil manter uma alimentação saudável em tempos de recessão. “Encareceu muito comprar produtos orgânicos, integrais, além dos grãos, que são tão importantes para evitar patologias e manter a saúde. Infelizmente para gastar menos as pessoas acabam deixando de consumir esses alimentos e prejudicam a própria saúde”, lamenta a consumidora. Para ajustar uma alimentação saudável ao orçamento, Patrícia busca frutas da época e substitui alguns produtos por outros mais baratos. “Buscar preços, avaliar cada compra e pesquisar é importante. As feiras de agricultores sempre são ótimas alternativas para encontrar produtos de qualidade e com preços acessíveis”, recomenda ela.
Na busca por preços intermediários, Patrícia mudou a rotina de ir ao supermercado: agora ela procura fazer compras semanais, porém, levando somente o essencial e em menores quantidades. “É preciso cuidar para que nada estrague e vá para o lixo. Mesmo em época de crise é importante priorizar o consumo de alimentos saudáveis tão importantes para crianças, adultos e idosos”, valoriza.
A mudança de hábito dos consumidores reflete no dia a dia dos proprietários de mercados e fruteiras. O comerciante Oneide Schiavon, proprietário da Fruteira Schiavon há nove anos no Centro de Flores da Cunha, destaca que com as variações de preços e demanda o ‘comprar bem’ é fundamental para evitar prejuízos no negócio. “É mais difícil adquirirmos os produtos, não podemos errar na quantidade, pois a perda é certa. E quando um produto está com preço muito alto procuramos diminuir o percentual de lucro para poder vendê-lo”, sustenta.
O comerciante conta que o conteúdo dos cestos de compras dos clientes muda muito em tempos de recessão. “Produtos importados como a maçã, a pera e a ameixa tiveram um aumento em função do dólar, o que fez com que esses produtos saíssem dos cestos. Já alimentos básicos como o tomate, a cebola e a batata, embora também tenham aumentado de preço, continuam sendo consumidos, mas as pessoas estão comprando em quantidades sempre menores”, aponta Schiavon.
A principal dica do comerciante para encher mais o cesto de compras é procurar sempre pelas frutas, legumes e hortaliças da época, além de valorizar aquelas produzidas na região. Atualmente as cítricas é que ganham as prateleiras. “Os clientes vêm mais, mas levam tudo na medida certa para a família”, reconhece Schiavon.
Fotos Larissa Verdi
O comerciante Oneide Schiavon comanda a fruteira há nove anos.
Frutas, verduras e legumes são os vilões
Frutas, verduras e legumes são os itens que tiveram maiores percentuais de aumento de preço e que também mais pesam no bolso dos consumidores em 2015. Um dos motivos é o clima, que prejudicou o desenvolvimento de algumas culturas. De acordo com o coordenador de Mercado da Administradora de Consórcios Intermunicipais (Adcointer/Ceasa Serra), Gilnei Bogio, o excesso de chuvas causou problemas aos produtores de hortaliças folhosas como, por exemplo, a alface. A menor oferta em diversas culturas resultou em preços mais elevados, o que refletiu em uma diminuição de 30% nas vendas da Ceasa. “Percebemos que as pessoas estão diminuindo a quantidade das compras e as frutas e legumes contam ainda com o custo de produção do agricultor, que também subiu nos últimos anos, inclusive por muitos produtos utilizados por eles ter a cotação em dólar”, revela Bogio.
Para tranquilizar as donas de casa, o coordenador aposta que, de agora em diante, a tendência é de preços mais estáveis nas feiras e supermercados. Isso porque inicia o desenvolvimento de culturas na região, aumentando a oferta e diminuindo os preços, isso, é claro, contando com um clima favorável à agricultura. “Temos variedades precoces que dentro de 20 dias estão prontas para comercializar. E como não tivemos um frio longo, muitas culturas se anteciparam e poderemos ter bastante oferta neste ano, principalmente das frutas. Com a maior produção na região, os preços devem se estabilizar”, adianta o coordenador.
De acordo com a análise de mercado da Ceasa desta semana, seis produtos apresentaram alta de preço e dois tiveram alta expressiva. O brócolis híbrido subiu 33,6% (de R$ 1,25 para R$ 1,67 a unidade) e o couve-flor passou de R$ 2,08 para R$ 2,50 (+20,2%). O aipim, a beterraba, a cebola nacional e o tomate gaúcho completam a lista de itens que aumentaram de preço. A batata e a cenoura tiveram baixa. A Ceasa fica na Rua Jacob Luchesi, no bairro Santa Lúcia, em Caxias do Sul, e funciona de segunda a sexta-feira (a abertura para comercialização é às 14h).
Substituir produtos da cesta de consumo das famílias é uma maneira de ajustar o orçamento a um nível de consumo adequado, mesmo num período de inflação alta. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Caxias do Sul (Sindigêneros), que abrange Flores da Cunha e Nova Pádua, Eduardo Luiz Slomp, é essa mudança de hábitos que os consumidores estão mostrando diariamente com o intuito de economizar. “Um dos hábitos que mais mudou é o de preparar mais refeições em casa. Com isso, os consumidores estão indo mais vezes ao supermercado e comprando em menos quantidade. Procuram por marcas mais baratas e substituem alimentos mais caros como, por exemplo, a carne bovina, por outras mais acessíveis, como o frango ou carne suína”, exemplifica Slomp.
A atual conjuntura econômica e política do Brasil é uma das principais causadoras da inflação, o que eleva os preços das compras nos supermercados de Norte a Sul. Um exemplo é a liberação dos aumentos dos preços administrados, como luz, água e combustíveis, que estavam represados no ano passado. Além disso, existe o câmbio do dólar, que já acumula uma valorização de 21,7% frente ao real neste ano. No acumulado dos últimos 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 9,5% – o mais elevado acumulado em 12 meses desde novembro de 2003 (que foi de 9,3%). Somente de janeiro a julho de 2015 o acumulado foi de 6,8%, número maior que o aglomerado de todo 2014 – de 6,4%. Com esses números, a dona de casa vira uma estrategista para segurar o orçamento.
O novo comportamento dos consumidores exige adaptação dos supermercados, que sentiram crescer a procura por itens que integram a cesta básica, como arroz, feijão, massa e óleo de soja. “Esses, porém, são os produtos que menos dão lucratividade aos supermercados, que dependem de itens com maior preço agregado para aumentar a margem de lucro. Os carrinhos dos consumidores estão bem diferentes”, admite Slomp, que acrescenta que a alta dos produtos não é a principal responsável, mas sim o poder de compra dos consumidores que caiu. “O mesmo dinheiro precisa levar mais coisas para casa e com isso os supermercados estão sofrendo tanto quanto a indústria”, argumenta o dirigente. Segundo ele, os consumidores de Flores da Cunha ainda se diferenciam das demais cidades por privilegiarem o consumo de alimentos produzidos em casa, como pães e saladas.
Poupar sem abrir mão da saúde
Consumidora assídua de frutas e legumes, a técnica em enfermagem Patrícia Michelon, 36 anos, percebeu no bolso o aumento nos preços dos produtos que seleciona com atenção na fruteira. Para ela, está cada vez mais difícil manter uma alimentação saudável em tempos de recessão. “Encareceu muito comprar produtos orgânicos, integrais, além dos grãos, que são tão importantes para evitar patologias e manter a saúde. Infelizmente para gastar menos as pessoas acabam deixando de consumir esses alimentos e prejudicam a própria saúde”, lamenta a consumidora. Para ajustar uma alimentação saudável ao orçamento, Patrícia busca frutas da época e substitui alguns produtos por outros mais baratos. “Buscar preços, avaliar cada compra e pesquisar é importante. As feiras de agricultores sempre são ótimas alternativas para encontrar produtos de qualidade e com preços acessíveis”, recomenda ela.
Na busca por preços intermediários, Patrícia mudou a rotina de ir ao supermercado: agora ela procura fazer compras semanais, porém, levando somente o essencial e em menores quantidades. “É preciso cuidar para que nada estrague e vá para o lixo. Mesmo em época de crise é importante priorizar o consumo de alimentos saudáveis tão importantes para crianças, adultos e idosos”, valoriza.
A mudança de hábito dos consumidores reflete no dia a dia dos proprietários de mercados e fruteiras. O comerciante Oneide Schiavon, proprietário da Fruteira Schiavon há nove anos no Centro de Flores da Cunha, destaca que com as variações de preços e demanda o ‘comprar bem’ é fundamental para evitar prejuízos no negócio. “É mais difícil adquirirmos os produtos, não podemos errar na quantidade, pois a perda é certa. E quando um produto está com preço muito alto procuramos diminuir o percentual de lucro para poder vendê-lo”, sustenta.
O comerciante conta que o conteúdo dos cestos de compras dos clientes muda muito em tempos de recessão. “Produtos importados como a maçã, a pera e a ameixa tiveram um aumento em função do dólar, o que fez com que esses produtos saíssem dos cestos. Já alimentos básicos como o tomate, a cebola e a batata, embora também tenham aumentado de preço, continuam sendo consumidos, mas as pessoas estão comprando em quantidades sempre menores”, aponta Schiavon.
A principal dica do comerciante para encher mais o cesto de compras é procurar sempre pelas frutas, legumes e hortaliças da época, além de valorizar aquelas produzidas na região. Atualmente as cítricas é que ganham as prateleiras. “Os clientes vêm mais, mas levam tudo na medida certa para a família”, reconhece Schiavon.
Fotos Larissa Verdi
O comerciante Oneide Schiavon comanda a fruteira há nove anos.
Frutas, verduras e legumes são os vilões
Frutas, verduras e legumes são os itens que tiveram maiores percentuais de aumento de preço e que também mais pesam no bolso dos consumidores em 2015. Um dos motivos é o clima, que prejudicou o desenvolvimento de algumas culturas. De acordo com o coordenador de Mercado da Administradora de Consórcios Intermunicipais (Adcointer/Ceasa Serra), Gilnei Bogio, o excesso de chuvas causou problemas aos produtores de hortaliças folhosas como, por exemplo, a alface. A menor oferta em diversas culturas resultou em preços mais elevados, o que refletiu em uma diminuição de 30% nas vendas da Ceasa. “Percebemos que as pessoas estão diminuindo a quantidade das compras e as frutas e legumes contam ainda com o custo de produção do agricultor, que também subiu nos últimos anos, inclusive por muitos produtos utilizados por eles ter a cotação em dólar”, revela Bogio.
Para tranquilizar as donas de casa, o coordenador aposta que, de agora em diante, a tendência é de preços mais estáveis nas feiras e supermercados. Isso porque inicia o desenvolvimento de culturas na região, aumentando a oferta e diminuindo os preços, isso, é claro, contando com um clima favorável à agricultura. “Temos variedades precoces que dentro de 20 dias estão prontas para comercializar. E como não tivemos um frio longo, muitas culturas se anteciparam e poderemos ter bastante oferta neste ano, principalmente das frutas. Com a maior produção na região, os preços devem se estabilizar”, adianta o coordenador.
De acordo com a análise de mercado da Ceasa desta semana, seis produtos apresentaram alta de preço e dois tiveram alta expressiva. O brócolis híbrido subiu 33,6% (de R$ 1,25 para R$ 1,67 a unidade) e o couve-flor passou de R$ 2,08 para R$ 2,50 (+20,2%). O aipim, a beterraba, a cebola nacional e o tomate gaúcho completam a lista de itens que aumentaram de preço. A batata e a cenoura tiveram baixa. A Ceasa fica na Rua Jacob Luchesi, no bairro Santa Lúcia, em Caxias do Sul, e funciona de segunda a sexta-feira (a abertura para comercialização é às 14h).
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