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Construção civil, impulso para a economia em 2010

Segmento tem projeção de crescimento de 6,4% e poderá beneficiar setores como o moveleiro e o imobiliário

O Brasil começa o ano de 2010 de maneira bem mais otimista do que em 2009, quando a economia mundial era fortemente afetada pela crise financeira. E as perspectivas para esse ano são animadoras, nos diferentes setores produtivos. Para se ter uma ideia, as mínimas de crescimento são de 5%, enquanto a taxa de investimentos ficará em torno de 18%. Os números mostram que o país começou o ano com o pé no acelerador. Conforme dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, o crescimento previsto para o país em 2010 fica em torno de 5,5%, bem superior do que o previsto à economia mundial, que deverá posicionar-se em 3,1%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para o diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da Universidade de Caxias do Sul, doutor em Economia e professor do mestrado de Economia da Unisinos, Divanildo Triches, os reflexos dessa retomada econômica, deverão ser sentidos positivamente nos indicadores de emprego, renda, crédito e investimentos. “Também houve uma redução significativa da taxa de juros. Isso permite que diversos setores do mercado tenham crescimento. Por isso, o Banco Central e o mercado projetam um crescimento de 5.8%.”, considera ele, que exemplifica citando que para 2009 as expectativas de crescimento giravam em torno de 0,2%. E para saber quais setores produtivos terão mais destaque em 2010, como se manterá o dólar nesse ano e como as empresas que dependem da moeda devem agir, entre outras projeções, o jornal O Florense conversou com o economista nesta semana e também com os representantes dos setores de Plásticos, Malhas e Confecções, Moveleiro, Agrícola, Construção Civil e Vinhos e Bebidas do município. Estes projetaram as expectativas e o foco de cada setor para esse ano. Acompanhe as perspectivas dos setores produtivos para 2010.

“A indústria da construção civil estimula a economia do país”

O Florense: Na sua opinião, quais são os prognósticos para a economia brasileira e mundial em 2010? Divanildo Triches: Os prognósticos em geral, em termos de mercado, são bastante otimistas para 2010. Isso porque todas as variáveis macroeconômicas apontam para um crescimento. Se olharmos para a inflação do país, ela está relativamente controlada, está dentro daquilo que o Banco Central estabeleceu (5,5% ao ano, com uma variação de 2% para mais ou para menos). Ou seja, o Banco Central trabalha com a taxa de inflação de uma economia estável. Com isso, temos uma redução do risco da inflação na economia. Já nas questões externas, temos um aumento das reservas do país, consequentemente, uma dívida externa menor. Em relação à dívida pública do país, a previsão é de que se mantenha o superávit primário, ou seja, o governo gasta menos do que arrecada. Então, a dívida no total acaba diminuindo. Também houve uma redução significativa da taxa de juros. Isso permite que diversos setores do mercado tenham crescimento. Por isso, o Banco Central e o mercado projetam um crescimento de 5.8%. Para se ter uma ideia, a previsão de crescimento para o ano passado, embora não tenha saído o resultado oficial, foi de apenas 0,2%. O Brasil é um dos países chamados “emergentes”, que apresenta mais crescimento em termos mundiais. O Florense: Já existe uma taxa de investimentos para 2010? De quanto estamos falando? Triches: A taxa de investimento do país (infraestrutura, programas habitacionais, expansão da economia, etc) fica em torno de 18%. O Banco Central também tem uma estimativa que muitos investimentos externos virão para o país. Por exemplo, em 2008 foram investidos aqui cerca 45 bilhões de outros países. Em 2009, foram 26 bilhões e a projeção para este ano fica em 45 bilhões. Esse dinheiro seria utilizado na expansão da economia, na produção de bens e serviços para a sociedade, o que acaba elevando o investimento interno da economia. O Florense: Quais são as tendências projetadas para 2010 no cenário socioeconômico brasileiro? Triches: Temos uma queda relativamente expressiva da taxa de desemprego. Por exemplo, de acordo com o Banco Central, em junho de 1992, 42,4% da população representava a classe média do país, já a classe baixa representava 29,2%. No mesmo mês de 2009, nós vemos que o percentual da classe média aumentou para 53,2%. Isso significa que a população tem mais poder aquisitivo, maior renda e, portanto, temos um aumento de consumo. Na verdade, existe uma maior distribuição de renda. O Florense: O último ano foi um ano de crise e diversos setores produtivos do país sofreram as consequências disso. Na sua opinião, quais desses setores terão maior crescimento em 2010? Triches: Temos uma retomada significativa da indústria em geral, no setor de materiais de construção e nos bens de capital. Esses setores acabaram tendo uma queda até julho do ano passado e depois disso começaram a retomar o crescimento. A indústria da construção civil, por exemplo, é muito forte e, certamente, estimula o crescimento do país, já que gera muitos empregos, fazendo a economia girar. Por outro lado, estamos produzindo bens de capital. O que significa isso? Significa que estamos produzindo máquinas, equipamentos e que as indústrias estão se desenvolvendo. Com isso temos mais produtos na economia e mais acesso da sociedade a isso. O Florense: Existe algum aspecto negativo nessa retomada da economia brasileira como o aumento da inflação e o aumento das taxas de juros? Triches: Tivemos uma precipitação nesse sentido no final do ano passado e início de 2010. Todavia, o Banco Central manteve a taxa de juros, indicando para o mercado que se, for o caso, ele poderá aumentá-las. Mas parece-me que isso está descartado no momento, porque as outras variáveis macroeconômicas estão dando a indicação que existe o crescimento na economia real e não na economia nominal. O Florense: Há algum tempo atrás, tivemos uma queda brusca no valor do dólar. Isso fez com que muitas empresas que exportavam tivessem grandes prejuízos ou até fechassem as portas. Existe uma estimativa de como deve se manter o dólar em 2010? Triches: Acho difícil fazer uma previsão sobre as taxas de câmbio para o ano, pois elas são estabelecidas pelo mercado, pela entrada e saída de dólares no país. Como o Brasil está exportando mais do que importando e está recebendo muitos investimentos externos, significa que está havendo um excesso de dólares em relação à demanda no mercado. Isso faz com que a taxa de câmbio caia, portanto se valoriza a moeda Real. O Florense: O que significa isso para os setores que exportam e para os que importam? Triches: Significa que aqueles que exportam terão mais dificuldades, porque o preço da moeda doméstica acaba sendo maior do que a externa. Com isso, vão perder competitividade no exterior. Para reverter esse quadro os empresários devem buscar alternativas que compensem as perdas como investir no mercado interno e reduzir custos, para que essa perda com a queda do câmbio seja compensada por ganhos internos da empresa. O Florense: Na sua opinião, qual é o perfil das empresas do futuro? Triches: Elas têm que buscar atualização em termos tecnológicos, conforme as indústrias internacionais. As empresas deveriam tentar acompanhar os avanços dos países desenvolvidos. A abertura da economia, a entrada de empresas estrangeiras no mercado nacional e a própria Globalização faz com que exista a necessidade de produzir como os outros países produzem, senão a indústria não consegue competir. O Florense: E qual é o papel das pequenas e médias empresas nesse cenário? Triches: Elas têm uma participação muito importante, pois geram empregos e dessa forma fazem a economia girar. O Florense: Quais são as consequências dessa expansão econômica a longo prazo? O Brasil tem condições de sustentar isso? Triches: Se essa expansão se der com o aumento de produção da economia e com o aumento de renda da população, as duas coisas simultaneamente, não teremos problema nenhum. Os problemas podem surgir se o consumo for maior do que a produção ou importação de produtos. Nesse caso, teremos um aumento inflacionário. Então, se a base produtiva da economia está se expandindo, como mostram os dados, teremos condições de atender a demanda que existirá de consumo. Resumindo: a economia crescendo a longo prazo, com estabilidade macroeconômica, vai gerar mais renda, mais acesso da sociedade ao consumo e, portanto, o aumento do bem estar econômico da população. Esse seria o melhor modelo de economia do mundo.

Bons ventos para o setor imobiliário

O setor da construção civil é um dos que mais têm perspectivas de crescimento em 2010. O Banco Central projeta crescimento de 6,4% para o PIB da indústria da construção civil. Já para o Rio Grande do Sul, o Sindicato da Construção e do Mobiliário do Estado (Sinduscon-RS) prevê crescimento de 7,5%. Conforme o presidente da Câmara Setorial da Construção Civil, Maciel Bertolini, esse aumento se dará em virtude da performance da indústria imobiliária. Entre os fatores condicionantes do bom desempenho do mercado imobiliário pode-se destacar a existência de financiamentos em abundância, com juros atraentes, prazos estendidos de pagamento e um enorme mercado de potenciais compradores. Outro fator determinante para o crescimento do segmento foi a mudança na estrutura da oferta das vendas. O mercado está se voltando para o segmento da habitação econômica. “Hoje a população tem acesso muito mais fácil a financiamentos para a aquisição da casa própria. Programas federais como o ‘Minha Casa, Minha Vida’ também contribuem para a construção de mais moradias, o que torna o setor mais atuante”, destaca. Grandes obras como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal também contribuem para a elevação desses índices.

Crescimento da construção civil pode beneficiar setor moveleiro

Dois mil e nove foi um ano atípico para a indústria moveleira. Com a derrocada do dólar, as empresas que exportavam foram prejudicadas e muitas fecharam as portas. Para tentar repor as perdas, a saída foi se voltar para o mercado interno e reduzir os custos. Embora a expectativa seja de recuperação em 2010, o setor ainda segue com cautela. Segundo o presidente da Câmara Setorial de móveis, Píer Costa, em Flores da Cunha a maioria das empresas ainda não está trabalhando em ritmo acelerado. “A ligeira elevação no valor do dólar nos deu um fôlego maior. Porém, o momento ainda é de cautela, mas projetamos que esse ano seja melhor que o anterior”, pondera. Entretanto, Costa aposta no crescimento da Construção Civil. Conforme ele, a intenção é pegar carona nessa aceleração. “Esse é um segmento muito promissor e se ele cresce, nós temos a oportunidade de crescer junto”, acredita. Mesmo assim, o setor moveleiro segue controlando custos, aumentando a produtividade e buscando preços mais competitivos. Vendas aquecidas no setor têxtil Estamos em pleno verão, mas o setor têxtil de Flores da Cunha já comemora o aumento das vendas, o que parece confirmar as expectativas de crescimento do setor para o ano 2010. Conforme a presidente da Câmara Setorial de Malhas e Confecções, Maria De Grandi, comparado ao mesmo período do ano passado, já é possível observar um aumento de 30% nas vendas somente para lojistas. “Esse ano iniciou bem melhor que o ano passado. Sinto o setor mais animado e mais organizado. Isso nos ajuda a alcançar nossas metas de vendas”, afirma Maria. Segundo ela, os lojistas decidiram antecipar as compras em 2010 devido as baixas temperaturas registradas no último inverno. “Já vendemos 30% a mais do que no mesmo período de 2009. Acredito que faltará produto no mercado neste ano. As vendas estão muito boas”, diz Maria, que também é empresária do setor de confecções. No cenário nacional, o setor também se mostra em crescimento. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o saldo da geração de empregos formais no setor, em janeiro de 2010, foi de 8.156 postos de trabalho abertos. O resultado, inédito na história do setor, é significativamente superior ao registrado no mesmo período do ano anterior, auge da crise internacional, quando foram constatadas 4.359 demissões líquidas. Até então, o melhor desempenho do setor num mês de janeiro tinha sido apontado em 2007 com a geração de 4.019 vagas. Novidades no segmento plástico As perspectivas para o setor são boas. Em 2010, os fabricantes brasileiros de produtos plásticos projetam retomar o patamar de crescimento dos últimos anos, chegando a 5%. Conforme o presidente do Sindicato das Industrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplas), que abrange Flores da Cunha e Nova Pádua, Orlando Marin, o cenário é bastante otimista e as empresas já operam com menos ociosidade do que no ano anterior. “Apostamos que, no máximo até julho deste ano, muitas empresas que tiveram dificuldades em 2009 estejam retomando todo o desencaixe que tiveram que incrementar a nível interno para poder dar a sobrevivência necessária em função da crise, que foi muito forte no setor”. Segundo ele, um dos focos para o setor neste ano é dar continuidade ao processo de modernização do parque fabril, adquirindo novas máquinas e equipamentos, para que se tornem cada vez mais competitivas. “O setor plástico é um dos que mais investe e reinveste no processo produtivo, porque a cadeia está sempre inovando e precisamos acompanhar esse rápido desenvolvimento. Por isso necessitamos estar sempre renovando o maquinário. Agora, temos muitas condições de financiamentos. Elas são um convite muito forte para a modernização e o setor está aproveitando isso”. Em 2010, as expectativas do setor também estão voltadas para a capacitação de mão-de-obra. Para isso, Marin adianta que o Simplás apostará em um programa estadual de desenvolvimento da cadeia plástica. Além disso, uma parceria com o Sebrae trará um programa específico para a Serra Gaúcha, o qual visa dar oportunidade de treinamento à empresários e trabalhadores. Também em 2010 o Simplás realizará o 3° Encontro Nacional de Ferrementarias, além da segunda maior feira do Brasil no setor plástico, a Plasthec, em Caxias do Sul. “Esse será um ano bastante movimentado e cheio de novidades”, projeta. Ano para ganhar mercado Ao contrário do que diziam as projeções, 2009 foi um ano de crescimento nas vendas e de planejamento estratégico para o setor vitivinícola. Conforme dados da Associação Gaúcha de Vitivinicultores­ (Agavi), de janeiro à dezembro de 2009 foram comercializados cerca de 239.663.828 milhões de litros de vinho de mesa e vinho fino, um aumento de 11%, em relação à 2008. “O setor vinha perdendo mercado desde 2005. No ano passado conseguimos estancar essa queda e recuperar o volume. Com isso conseguimos ainda uma pequena taxa de crescimento”, destaca o diretor executivo da Agavi, Darci Dani. Para 2010, a perspectiva do setor é de que esse saldo positivo se repita e que a comercialização seja maior, com maior valor agregado. Para que esses objetivos sejam atingidos, ele explica que o setor pretende buscar o aquecimento do mercado, um maior controle da fiscalização, a redução dos estoques e a melhorara do mercado, na questão da oferta e procura. “A nossa intenção é que em 2010 consigamos recuperar inclusive valores. Estamos na esperança de que esse ano possa terminar com crescimento no volume e também no valor agregado do produto. Dessa maneira, toda a cadeia produtiva receberá melhores remunerações”, projeta Dani. Outra grande aposta dos empresários do setor é o enoturismo. De acordo com o presidente da Câmara Setorial de Vinhos de Flores da Cunha, Daniel Salvador, em 2010 um dos principais focos do setor é investir na divulgação do vinho brasileiro no exterior, buscando o reconhecimento. “Queremos tornar nossos produtos conhecidos não somente no Brasil, mas fora dele também. Em 2010 queremos colocar a bandeira do vinho brasileiro em outros países”, afirma. Para isso o setor conta com o apoio do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), através do projeto Wine From Brazil. “Assim investiremos mais fortemente no enoturismo, em um contexto geral. Nossa intenção também é trabalhar diretamente com o consumidor. Trazer o comprador para dentro da empresa”, considera Salvador. Investimentos no setor primário O setor primário, um dos mais importantes do Estado e também de Flores da Cunha (no ano de 2008, a agricultura foi responsável por 22,49% do valor adicionado do município, comparado aos setores da Indústria, do Comércio e de Serviços) não passou ileso pela crise econômica que atingiu praticamente todos os setores. Embora haja uma retomada do setor em 2010, o Rio Grande do Sul terá crescimento inferior ao brasileiro na agricultura nesse ano. Isso é o que projeta a Federação da Indústria do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), que traçou três diferentes cenários (pessimista, otimista e moderado) para alcançar esses índices. No moderado, que segundo a Fiergs é o que deve prevalecer, a agricultura gaúcha tende a crescer 2,3% em 2010, enquanto a brasileira tem crescimento estimado em 3,9%. No otimista, o segmento tende a crescer 2,8% no Estado e 5% no país. O presidente do Sindicato Rural de Flores da Cunha e Nova Pádua, (STR), Olir Schiavenin, aponta que as expectativas do setor são favoráveis, pois o Plano Agrícola, do Governo Federal, para a safra 2010/2011 prevê investimentos na ordem de R$ 15 bilhões para a agricultura familiar, para ser aplicado nos diversos programas de custeio e financiamento para a produção. “Ainda teremos R$ 97 bilhões destinados à agricultura empresarial. Um total de R$ 112 bilhões que o setor primário terá a disposição no orçamento da União”, destaca Schiavenin. Já o montante a ser destinado ao subsidio agrícola está estimado em R$ 600 milhões de reais. Ainda conforme Schiavenin, outra expectativa do setor é que o governo adote mecanismo para garantir renda aos produtores. “Isso significa um preço justo pelo produto, ou seja, ele deve ao menos cobrir o custo de produção e proporcionar uma pequena margem de lucro”. Ele complementa que o setor também espera que as leis ambientais sejam sensibilizadas e adaptadas para cada região e que garantam a sustentabilidade, mas que não excluam o homem do campo. De acordo com o presidente, neste ano, o setor agropecuário estará voltado para busca de recursos direcionados à energia elétrica e a agroecologia. Também estão entre os planos o aprimoramento tecnológico, a extensão rural, e a capacitação do agricultor. Outros quesitos são noções de associativismo, administração e cooperativismo aos agricultores, as informações sobre o consumismo exagerado, sobre o êxodo rural, e de custos de produção. “Dessa maneira iremos reverter as perdas dos últimos anos, pois teremos produtores mais conscientes e munidos de informações”, acredita.
Um dos fatores para o crescimento foram os incentivos federais para aquisição da casa própria. - Na Hora / Antonio Coloda
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