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Consciência política não tem idade

Há 80 anos as mulheres votaram pela primeira vez. Em Flores da Cunha, assim como no Brasil, elas são maioria

Com a esperança de deixar uma cidade melhor aos filhos, netos e bisnetos, dona Rumilda Martins da Silva, 72 anos, comparecerá na sessão eleitoral número 68, em Flores da Cunha, no próximo dia 7 de outubro. Embora não seja mais obrigada a votar, a aposentada faz questão de exercer o direito concedido às mulheres brasileiras há 80 anos pelo então presidente da República Getúlio Vargas, por meio de um decreto assinado em 1932, o qual definia que o eleitor era “o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo”. Antes disso, somente os homens tinham essa possibilidade. “O machismo imperava naquela época. Então, acredito que a decisão foi o início da libertação feminina. Lembro que me senti importante por poder participar de uma eleição”, recorda.

A eleitora lembra que votou pela primeira vez em 15 de novembro de 1972, aos 32 anos, nas eleições diretas para prefeito, vice e vereadores da cidade de Modelo, em Santa Catarina. Desde que fez o primeiro título eleitoral, há 40 anos, nunca perdeu um pleito. Esse será o 23º processo que ela participará. “Na época, não éramos obrigadas a votar, mas decidi fazer o documento por influência do marido e das irmãs mais velhas”, cita a natural do município gaúcho de Três Passos. Há 15 anos Rumilda mudou-se para a Linha 100, transferindo o título para Flores somente em 2000.

Para a aposentada estaria faltando interesse da população com relação aos assuntos políticos. “O ato de votar já foi mais importante. Há 50 anos, o dia da eleição era um acontecimento. Hoje as pessoas perderam muito o interesse pelo assunto. O povo em geral não acredita mais na política, mas eu confio que ainda existam políticos bons”, defende dona Rumilda. Ela conta que até pensou em não votar nas eleições municipais que se aproximam, mas algo a fez mudar de opinião e, pela última vez, irá exercer seu direito de cidadã, sonhando com um lugar melhor para viver, onde todos tenham casa própria e acesso à educação. “Ainda acredito na política e na sociedade. Sei que não estarei mais aqui daqui a 40 anos, mas espero que tenhamos um país melhor. Meu maior sonho é ver um Brasil sem desigualdade social. Espero que meus netos possam viver em um lugar melhor”, revela a aposentada, que tem sete filhos, 11 netos e aguarda o primeiro bisneto.

1º Título é relíquia
Se um dia as mulheres foram proibidas de votar, hoje elas são a maioria no Brasil, representando 51,9% do eleitorado (72,8 milhões), contra 47,9% dos homens (67,3 milhões). Em Flores a situação é a mesma. Segundo levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do total de 22.912 eleitores, 11.498 são do sexo feminino e 11.414 do masculino. Em Nova Pádua, a quantidade de eleitoras é menor. Entre 2.224 eleitores, 1.060 são mulheres e 1.164 são homens.

A aposentada Edite Piardi Feira faz parte do percentual florense. Aos 70 anos, ela não abre mão do direito de votar e orgulha-se por fazer parte da democracia brasileira. Seu primeiro título eleitoral, feito em Flores da Cunha, é guardado há 50 anos como uma relíquia. Ela justifica o zelo dizendo que guarda o documento dentro de uma caixa para preservar a prova da importante conquista feminina. “Vivi em uma época em que as mulheres eram obrigadas a se dedicar exclusivamente ao lar, sem direito algum. Poder votar era um grande feito para nós”, aponta.

Dona Edite relembra que a primeira eleição que participou foi no ano de 1978, no salão paroquial. Na época, os eleitores só puderam eleger senadores, deputados federais e estaduais. “Não lembro em quem votei, mas lembro do processo, que era muito diferente. Não tínhamos informação e nem sabíamos em quem estávamos votando. Acredito que o voto é importante para qualquer pessoa, pois por meio dele escolhemos os nossos representantes. Por isso, o cidadão deve se informar sobre os candidatos, ver quem é mais qualificado para a função. Essa é a minha maneira de escolher”, revela a moradora do Centro de Flores.
Edite Piardi Feira votou pela primeira vez em 1978 e guarda até hoje o documento. - Mirian Spuldaro
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